“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois
todos vivem para ele”. (Lc 20,38)
Hoje, mais
uma excelente reflexão do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Como
pano de fundo tem o texto bíblico Lc 20,
27-38 (A vida depois da morte).
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
08
Novembro 2019
Decisão
de cada um
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho segundo Lc 20, 27-38 que corresponde ao 32° Domingo do Tempo Comum,
ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio
Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus não se
dedicou a falar muito da vida eterna. Não pretende enganar ninguém fazendo
descrições fantasiosas da vida além da morte. No entanto, toda a sua vida desperta
esperança. Vive aliviando o sofrimento e libertando as pessoas do medo.
Contagia uma confiança total em Deus. Sua paixão é fazer a vida mais humana e
feliz para todos, tal como quer o Pai de todos.
Só quando um grupo de saduceus se aproxima com a
ideia de ridicularizar a fé na ressurreição, brota do coração crente de Jesus a
convicção que sustenta e encoraja toda a Sua vida: Deus “não é um Deus de
mortos, mas de vivos, porque para ele todos estão vivos”.
Sua fé é simples. É verdade
que nós choramos os nossos entes queridos porque, ao morrer, os perdemos aqui
na terra, mas Jesus não pode sequer imaginar que para Deus lhe vão morrendo
seus filhos a quem tanto ama. Não pode ser. Deus partilha sua vida com eles
porque os acolheu no Seu amor insondável.
A característica mais preocupante do nosso tempo é
a crise da esperança. Perdemos o horizonte de um futuro definitivo e as
pequenas esperanças desta vida não acabam por nos consolar. Esse vazio de
esperança está gerando em muitos a perda de confiança na vida. Nada vale a
pena. É fácil, então, o niilismo total.
Nestes tempos de desespero, não nos estarão
pedindo a todos, crentes e não crentes, que coloquemos as questões mais
radicais que carregamos dentro de nós? Esse Deus de que muitos duvidam, a
quem muitos abandonaram e por quem outros continuam a perguntar, não será o
fundamento último sobre o qual podemos apoiar a nossa confiança radical na vida?
No final de todos os caminhos, no profundo de todos os nossos desejos, no
interior das nossas interrogações e lutas, não estará Deus como Mistério final
da salvação que estamos procurando?
A fé está a ficar ali, encurralada em algum lugar do nosso interior, como algo pouco importante, que não
vale a pena cuidar nestes tempos. Será assim? Certamente não é fácil acreditar,
e é difícil não acreditar. Enquanto isso, o mistério último da vida está a
pedir-nos uma resposta lúcida e responsável.
Essa resposta é a decisão de cada um. Quero
apagar da minha vida toda a esperança última para além da morte como uma falsa
ilusão que não nos ajuda a viver? Quero permanecer aberto ao Mistério supremo
da existência, confiando que encontraremos a resposta, o acolhimento e a
plenitude que andamos a procurar desde agora?
Nenhum comentário:
Postar um comentário