Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 25 de janeiro de 2020

“A religião banalizada”. – Artigo de frei Demetrius dos Santos Silva.



Acho interessante e oportuno o artigo “A religião banalizada”, do padre Demetrius dos Santos Silva*. A publicação pode ser encontrada no blog “O trovador de Deus”. Data da publicação não informada. O texto traz várias colocações esclarecedoras sobre as causas que levam muitas pessoas à instrumentalização da religião.

Quero compartilhá-lo também aqui nesta página, e com isso ajudar um pouco na sua divulgação.
Vale a pena ler!
WCejnóg



Por Frei Demetrius dos Santos Silva
 A religião banalizada 

Disse Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. (Mt 6,24)

Quando pensamos em religião, pensamos em aprimoramento do ser humano, onde a doutrina e a ética, reflexos da espiritualidade, transformam a pessoa em alguém melhor.

No entanto, a religião pode ser instrumentalizada de tal forma que produza no ser humano a pior espécie de sentimento. A religião, quando banalizada, desperta nas pessoas tudo o que há de mais nocivo: preconceitos, fanatismo, ganância, ódio, egoísmo, etc.

A religião banalizada tem outros objetivos que não a religação do ser humano com seu Deus. Riqueza, poder e fama são os verdadeiros objetivos da religião banalizada. O ridículo é apresentado como lindo; a mentira é apresentada como verdade; a ganância é apresentada como gratuidade e o egoísmo é apresentado como santidade.

Tempos atrás, certo pastor afirmou que uma menina estava morta (mesmo estando ela respirando) e assim ele simulou a ressurreição da criança. (1)  Uma mulher, dizendo que tinha dores no útero, após ser “exorcizada” por um pastor, jurou que “deu à luz” à três caveiras de plástico, destas vendidas em camelôs a 4 reais. (2)  Um padre me disse que, ao fazer um exorcismo, a endemoninhada se levitou e pairou no ar (parece filme de terror). Outro cidadão disse que tinha uma grande dívida no banco e que, ao passar o lenço, em que o pastor enxugara seu suor, na maçaneta da porta do banco, teve sua dívida desaparecida misteriosamente! (3)

Todas essas histórias seriam consideradas ridículas por qualquer pessoa com o mínimo de atividade cerebral. No entanto, muitos cristãos e cristãs atribuem essas mentiras escandalosas a Deus, como se isso fosse verdade.

Por outro lado, em nome da religião, vemos pessoas invadindo igrejas e destruindo imagens, vemos traficantes supostamente “convertidos” ao evangelho (e ainda traficantes) expulsando das favelas aqueles que frequentam as religiões de matrizes africanas (Candomblé e Umbanda). Vemos famílias destruídas porque seus membros neo-convertidos se recusam a se misturar com os parentes “contaminados”. Tudo isso em nome de Deus, mas Deus passa longe desses absurdos.

A religião banalizada explora a fraqueza humana e com isso faz riqueza para suas autoridades. A pergunta que me faço é a seguinte: “Como a religião banalizada consegue atrair e convencer tantas pessoas?”

Ao analisar a religião banalizada, o Pastor Ed René Kivitz (4) nos chama à atenção para perceber que há um discurso comum que atinge e convence as pessoas através de suas fraquezas. Geralmente o discurso “faz a cabeça” da pessoa “fisgando-a” pelo medo, pela culpa ou pela ganância. Vejamos alguns exemplos:

1) Fisgando pelo medo

A religião banalizada fisga as pessoas pelo medo. Muitas pessoas têm uma vida “podre” ou um passado que dá vergonha e, em determinado momento, elas passam a ter medo de perder sua família, perder sua alma, de ir para o inferno, etc. É aí que os pregadores falam para a pessoa que só uma adesão a tal igreja vai libertar a pessoa do mal que há de vir. E para garantir sua participação ativa nessa nova denominação, a pessoa passará a ofertar grandes somas para demonstrar sua nova fé e garantir sua entrada no céu já aqui na terra.

2) Fisgando pela culpa

A religião banalizada também fisga as pessoas pela culpa. São tantas as pessoas que sofrem porque se sentem culpadas pelas desgraças que acontecem na vida. Mães e pais que se sentem culpados porque seus filhos são usuários de drogas. Mulheres que se sentem culpadas porque seus esposos são alcoólatras. Em seus sentimentos de culpa, as pessoas prometem entrar em certas igrejas, pois foram-lhes prometidas que tudo mudaria e, para alcançar a libertação, elas devem investir em ofertas para conquistar a mudança por Deus prometida.

3) Fisgando pela ganância

A religião banalizada aproveita a ganância das pessoas para fisgá-las e “depená-las” ao extremo. Pessoas com problemas financeiros são ludibriadas com promessas de que se investirem em Deus (ofertar todo o dinheiro) receberão em dobro e conquistarão o sucesso financeiro. Pessoas ambiciosas que querem sua casa na praia, seu conversível importado, sua mansão, sua piscina, etc., são incentivados a se “converterem” para receberem a graça da prosperidade prometida pelas igrejas.

DOIS DETALHES

1) A banalização da religião tem afetado todas as Igrejas. Umas mais, outras menos. Geralmente as Igrejas históricas ainda são as menos afetadas pela banalização da religião. As igrejas mais recentes são as mais afetadas. Hoje se tem cultos e missas específicas para empresários, a fim de que Deus derrame a prosperidade sobre seus negócios…

2) A princípio o discurso da religião banalizada diz que o que Deus quer é a santidade das pessoas. É vivendo a santidade que Deus derramará a prosperidade na vida das pessoas. No entanto, como a santidade geralmente é algo distante da vida das pessoas, elas devem compensar a falta de santidade com um investimento financeiro para provar a fé. Se não posso ofertar a Deus minha santidade, devo ofertar a Deus o meu dinheiro todo para provar que eu tenho fé e, pela fé, Deus terá de me recompensar com a prosperidade.

CONCLUSÃO

A única vacina que temos contra a doença da religião banalizada é o Evangelho. O Evangelho é quem corrige os desvios das igrejas. Porém, a religião banalizada usa o evangelho a seu bel-prazer, selecionando apenas os textos que lhe interessa, dispensando os textos que “puxam a orelha”. Uma Igreja honesta, assume o Evangelho por inteiro e reconhece que precisa crescer muito na obediência a Deus.

Nossa adesão à Igreja deve ser antes de tudo uma adesão a Jesus Mestre e seu Evangelho. Todos nós temos medos, culpas e ganâncias, mas eles nunca devem ser o alicerce de nossa fé. Religião se vive é na liberdade. Ou seguimos a Cristo livremente, ou nossa fé e nossa religião serão banalizadas.

Oração:

Senhor Jesus Cristo, Mestre de mim, sois a ternura e a fortaleza em minha história. Fazei que eu viva a minha fé e minha religião na busca da verdade. Que eu não banalize a minha fé e que meu seguimento de vosso caminho não seja alicerçado em meus medos, culpas ou ganâncias, mas seja fundamentado no único sentimento que realmente me liberta: o amor. Que o vosso amor, ó Mestre, seja a razão de meu viver. Assim seja.





Fonte: blog O trovador de Deus

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* Demetrius dos Santos Silva 

Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo (Sumaré) Capelão do Hospital Estadual de Sumaré. Fonte: Arquidiocese Campinas
 









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