"Então uma voz dos céus disse: "Este é o
meu Filho amado, de quem me agrado". (M7 3,17)
A reflexão que trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito boa.
Tem como
pano de fundo o texto bíblico Mt 3,
13-17 (O batismo de Jesus). Excelente
ajuda para quem procura entender melhor as mensagens bíblicas.
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler.
WCejnog
IHU
– ADITAL
10
Janeiro 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 3,13-17 que corresponde ao
Batismo do Senhor, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio
Pagola comenta o texto.
Experiência
pessoal
O encontro com João Batista foi para Jesus uma
experiência que mudou sua vida. Após o batismo no Jordão, Jesus já não
retorna ao trabalho em Nazaré, nem adere ao movimento do Batista. Sua vida
centra-se agora num único objetivo: gritar a todos a Boa Nova de um Deus que
deseja salvar o ser humano.
Mas o que transforma a trajetória de Jesus não são
as palavras que escuta dos lábios do Batista nem o rito purificador do
batismo. Jesus vive algo mais profundo. Sente-se inundado pelo Espírito do Pai.
Reconhece-se a si mesmo, como Filho de Deus. Sua vida consistirá daí em diante
em irradiar e contagiar esse amor insondável de um Deus Pai.
Esta experiência de Jesus encerra também um
significado para nós. A fé é um itinerário pessoal que cada um de nós deve
percorrer. É muito importante, sem dúvida, o que ouvimos desde crianças dos
nossos pais e educadores. É importante o que ouvimos de padres e pregadores.
Mas, no final, devemos sempre fazer uma pergunta: em quem acredito eu?
Acredito em Deus ou acredito naqueles que me falam sobre ele?
Não devemos esquecer que a fé é sempre uma
experiência pessoal que não pode ser substituída pela obediência cega ao
que os outros nos dizem. Do lado de fora, podem orientar-nos para a fé, mas sou
eu mesmo que devo abrir-me a Deus de forma confiada.
Por isso, a fé não consiste tampouco em aceitar,
sem mais, um determinado conjunto de fórmulas. Ser crente não depende
primariamente do conteúdo doutrinário que se recolhe num catecismo. Tudo
isso é muito importante, sem dúvida, para configurar a nossa visão cristã da
existência. Mas antes disso e dando sentido a tudo isso, está esse dinamismo
interior que, de dentro, nos leva a amar, confiar e esperar sempre no Deus
revelado em Jesus Cristo.
A fé também não é um capital que recebemos no
batismo e do qual podemos então dispor tranquilamente. Não é algo adquirido em
propriedade para sempre. Ser crente é viver permanentemente escutando o Deus
encarnado em Jesus, aprendendo a viver dia a dia de forma mais plena e
livre.
Esta fé não está feita apenas de certezas. Ao longo
da vida, o crente vive muitas vezes na escuridão. Como dizia aquele grande
teólogo que foi Roman Guardini, «a fé é ter luz suficiente para suportar as
trevas». A fé é feita, acima de
tudo, de fidelidade. O verdadeiro crente sabe como acreditar durante as trevas,
no que viu nos momentos de luz. Sempre continua a procurar esse Deus que está
além de todas as nossas fórmulas claras ou escuras. O padre De Lubac ¹
escreveu que «as ideias que fazemos de Deus são como as ondas do mar, sobre as
quais o nadador se apoia para as superar». O decisivo é a fidelidade a Deus que
se manifesta a nós no Seu Filho Jesus Cristo.
¹Henri de Lubac, nascido em Cambrai aos 20 de fevereiro de 1896 e falecido em Paris aos 4 de setembro de 1991, é um jesuíta, teólogo católico e cardeal francês.
¹Henri de Lubac, nascido em Cambrai aos 20 de fevereiro de 1896 e falecido em Paris aos 4 de setembro de 1991, é um jesuíta, teólogo católico e cardeal francês.
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