“Movido pelo Espírito,
Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o
que a Lei ordenava, Simeão
tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: ‘Agora, Senhor, conforme a tua
promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua
salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações
e glória do teu povo Israel’.” (Lc 2,27-30)
Hoje, trago uma
excelente reflexão. Como pano de fundo tem o texto bíblico Lc 2, 22-40 (Maria e José
levaram Jesus a Jerusalém). O texto é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
Foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
31 Janeiro 2020
Fé simples
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 2,22-40, que corresponde ao Festa da
Apresentação do Senhor, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio
Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O relato do nascimento de Jesus é desconcertante. Segundo Lucas, Jesus nasce numa terra onde não há lugar para acolhê-lo.
Os pastores tiveram de procurá-lo por toda Belém até que o encontraram num
lugar afastado, deitado numa manjedoura, sem outras testemunhas que seus pais.
Aparentemente, Lucas sente necessidade de construir
um segundo relato em que a criança é resgatada do anonimato para ser
apresentada publicamente. Que lugar mais apropriado que o Templo de
Jerusalém para Jesus ser acolhido solenemente como o Messias enviado por Deus
ao seu povo?
Mas, de novo, o relato de Lucas vai ser
desconcertante. Quando os pais se aproximam do Templo com a criança, não saem
ao seu encontro os sumos sacerdotes nem os outros líderes religiosos. Dentro de
uns anos, eles serão aqueles que o entregarão para ser crucificado. Jesus
não encontra acolhimento nessa religião segura de si mesma e esquecida do
sofrimento dos pobres.
Tampouco vêm a recebê-lo os mestres da Lei
que predicam as suas «tradições humanas» nos átrios daquele Templo. Anos mais
tarde rejeitarão Jesus por curar os doentes violando a lei do sábado. Jesus não
encontra acolhimento em doutrinas e tradições religiosas que não ajudam a viver
uma vida mais digna e saudável.
Quem acolhe Jesus e o reconhece como Enviado de
Deus são dois anciãos de fé simples e de coração aberto, que viveram as suas longas vidas esperando a salvação de Deus. Os seus
nomes parecem sugerir que são personagens simbólicos. O ancião chama-se Simeão
(«o Senhor ouviu»), a anciã chama-se Ana («oferenda»). Eles representam tantas
pessoas de fé simples que, em todos os povos de todos os tempos, vivem com a
sua confiança colocada em Deus.
Os dois pertencem aos ambientes mais saudáveis de
Israel. São conhecidos como o «Grupo dos Pobres do Senhor». São pessoas
que não têm nada, apenas a sua fé em Deus. Não pensam na sua fortuna nem no seu
bem-estar. Só esperam de Deus a «consolação» que o seu povo necessita, a
«libertação» que seguem procurando geração após geração, a «luz» que
ilumine as trevas em que vivem os povos da terra. Agora sentem que as suas
esperanças se cumprem em Jesus.
Esta fé simples que espera de Deus a salvação
definitiva é a fé da maioria. Uma fé pouco cultivada, que se concretiza quase sempre em orações lentas e distraídas, que se formula em
expressões pouco ortodoxas, que se desperta sobretudo em momentos difíceis. Uma
fé que Deus não tem nenhum problema em entender e acolher.
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