“Do mesmo modo, os chefes dos sacerdotes, junto
com os doutores da Lei e os anciãos, também zombavam de Jesus: «A outros ele
salvou... A si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel... Desça agora da cruz, e
acreditaremos nele. Confiou em Deus; que Deus o livre agora, se é que o ama!
Pois ele disse: Eu sou Filho de Deus.» Do mesmo modo, também os dois bandidos
que foram crucificados com Jesus o insultavam.” (Mt 26, 41-44)
Domingo de Ramos
A reflexão
que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol
José Antônio Pagola, é bem concreta e interessante. Tem como pano de fundo o texto
bíblico Mt
26, 14-27, 66 (Fidelidade
de Jesus até o fim. Paixão de Cristo).
Foi publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Vale
a pena ler.
WCejnóg
IHU – ADITAL
03 Abril 2020
Não desças da cruz
A leitura
que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
26,14-27,66 que corresponde ao Domingo de Ramos, ciclo A do Ano
Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Segundo o relato Evangélico, os que passavam diante
de Jesus crucificado zombavam dele e, rindo-se do seu sofrimento, faziam duas
sugestões sarcásticas: se és o Filho de Deus, “salva-te a ti mesmo” e “desce
da cruz”.
Essa é
exatamente a nossa reação perante o sofrimento: salvar-nos a nós mesmos, pensar
apenas no nosso bem-estar e, portanto, evitar a cruz, passarmos a vida evitando
tudo o que nos pode fazer sofrer. Será também Deus como nós? Alguém que só
pensa em si mesmo e na sua felicidade?
Jesus não
responde à provocação daqueles que zombam dele. Não pronuncia qualquer palavra. Não é o momento de dar explicações.
Sua resposta é o silêncio. Um silêncio que é respeito por quem o despreza e,
acima de tudo, compaixão e amor.
Jesus apenas
quebra o seu silêncio para dirigir-se a Deus com um grito desgarrador: “Meu Deus,
meu Deus, por que me abandonaste?”. Não pede que o salve baixando da cruz.
Só que não se oculta nem o abandona neste momento de morte e sofrimento
extremo. E Deus, seu Pai, permanece em silêncio.
Somente
ouvindo a profundidade deste silêncio de Deus, descobrimos algo de seu
mistério. Deus não é um ser poderoso e triunfante, calmo e feliz, alheio ao
sofrimento humano, mas um Deus calado, indefeso e humilhado, que sofre conosco
a dor, a escuridão e até a própria morte.
Por isso, ao
contemplar o Crucificado, a nossa reação não pode ser de zombaria ou desprezo,
mas de oração confiante e agradecida: “Não desças da cruz. Não nos deixes só na
nossa aflição. De que nos serviria um Deus que não conhecesse o nosso
sofrimento? Quem nos poderia entender?”.
A quem poderiam
esperar os torturados de tantas prisões secretas? Onde poderiam colocar a sua esperança tantas mulheres humilhadas e
violentadas sem qualquer defesa? A que se agarrariam tantos doentes crônicos e
os moribundos? Quem poderia oferecer conforto às vítimas de tantas guerras,
terrorismo, fome e miséria? Não. “Não desças da cruz; pois se não te sentirmos
‘crucificado’ junto de nós, ficaremos mais ‘perdidos’”.
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