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Sábado, 07 de dezembro de 2013.
O cansaço do papa solitário
Uma tontura de cabeça, um
encontro cancelado, um comentário brusco sobre as escolhas do novo pontífice.
Quarta-feira passada, no arco de poucas horas, soou um sinal de alerta pelo Papa Bergoglio.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 06-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto
Depois da audiência geral na Praça de São Pedro – a temperatura estava fria – Francisco sentiu
sua cabeça girar, e o leve mal-estar o obrigou a ir logo repousar, renunciando
ao encontro com o cardeal Angelo Scola,
que veio especialmente de Milão a lhe falar sobre uma futura visita à Expo 2015.
Não é pouca coisa. Scola foi
o principal antagonista de Bergoglio no conclave: não por motivos pessoais,
naturalmente, mas como expoente de outra plataforma. Scola ainda
é uma das personalidades mais renomadas entre os bispos italianos, e uma boa
relação com ele é decisiva para orientar a Conferência Episcopal Italiana na linha de reforma que o papa tem em
mente.
Na realidade, Francisco está
explorando exageradamente as suas forças. Aos 76 anos e com a responsabilidade
de uma organização de mais de 1,1 bilhão de adeptos, o papa argentino não tirou
um minuto de férias neste verão europeu. Ao contrário de João Paulo II, ele não se restaura com pequenas
"fugas" na natureza e, ao contrário de Bento XVI, não
se concede regularmente todos os dias uma hora de caminhada pelos jardins
vaticanos.
Aos jovens da paróquia de San Cirillo, em Roma, ele disse no domingo passado que tira apenas
meia hora de repouso depois do almoço e, depois, "de novo ao trabalho, até
a noite". Francisco espera muito das suas forças. Há um
motivo. Bergoglio sente que não tem muito tempo à
disposição. Uma dezena de anos, antes de decidir, provavelmente também ele,
passar o bastão. E dez anos na história da Igreja são muito poucos.
Na maré de elogios e de
aplausos que o rodeia, o papa argentino está sozinho, muito solitário. Se ele
se limitasse ao programa que muitos cardeais eleitores esperavam, não haveria
problemas. Reorganizar o IOR e agilizar a Cúria são questões
técnicas de uma realização nada difícil. Consultar os bispos mais
frequentemente – como era pedido ao futuro pontífice durante as reuniões gerais
antes do conclave – podia ser realizado com reuniões plenárias do Colégio Cardinalício mais frequentes e com uma ordem do dia
precisa.
Mas Francisco está
fazendo muito mais do que muitos dos seus eleitores imaginavam. (Isso aconteceu
com João XXIII). Ele
quer remodelar a Cúria desde os fundamentos, reorganizar o Sínodo dos Bispos,
dar forma a uma nova abordagem às temáticas sexuais, levar o clero a abandonar
atitudes burocráticas e autorreferenciais, mudar o estilo do poder episcopal,
inserir as mulheres em postos de governo, imprimir com uma nova comissão
(anunciada nessa quinta-feira) um novo impulso à luta contra a pedofilia,
protegendo as vítimas e dando indicação aos episcopados.
Há uma pergunta que paira
sobre o Palácio Apostólico:
quem apoia Francisco? Com quais
forças ele pode contar? A resposta é que um "partido" ou um
"movimento" ativo entre clero e bispos pró-Francisco não existe. Não
se reforma um aparato corpulento como o eclesiástico – milhares de bispos,
centenas de milhares de padres e religiosos, uma rede de centros de poder
grandes e pequenos – sem uma forte fileira de seguidores fiéis e comprometidos.
Na Cúria, uma equipe
bergogliana ainda não existe. O novo secretário de Estado, Dom Parolin, é o
homem certo (também pela sua forte marca sacerdotal) para trabalhar com Bergoglio, mas a maioria dos cargos curiais são
provisórios.
Até agora, não se vê nos
dicastérios curiais e no episcopado mundial uma patrulha compacta de cardeais,
bispos e padres prontos para lutar pelas suas reformas como podiam ser os
defensores da reforma gregoriana na Idade Média ou da reviravolta do Concílio de
Trento. Os episcopados nacionais estão inertes. Muitos assistem passivamente às
externalizações de Francisco.
Muitos conservadores esperam em silêncio um passo em falso seu. Nas grandes
organizações, o aparato sabe que é feito de borracha.
Nesse clima, as declarações
do secretário de Ratzinger, Dom Gänswein, ao semanário alemão Zeit, espalharam inquietação. A revista, embora
não entre aspas, escreveu que, para o braço-direito de Bento XVI, a decisão de Francisco de não morar nos apartamentos papais
foi sentida como uma "afronta". Além disso, Gänswein, embora reconhecendo que o papa é apenas
um, exclama, desconsolado, textualmente: "A cada dia, eu espero de novo o
que será diferente (do que antes)".
Mais do que um encorajamento,
uma rejeição ao novo curso. Francisco está sozinho, mesmo que o coração dos
fiéis bata por ele.
Fonte:
IHU - Notícias
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