Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 7 de dezembro de 2013

“ Uma voz clama no deserto: «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas».( Mt 3, 3) – Comentário bíblico de Assun Gutiérrez. Muito bom!


O comentário de Asun Gutiérrez Cabriada sobre a atuação do João Batista  (Mt 3, 1-12), que trago hoje para o blog Indagações, é muito apropriado para o tempo do Advento. 
Não  deixe de ler.
WCejnog

[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas de Montesserrat: Benedictinascat/Montserrat. Trabalho muito bonito!]


Onde estão os profetas?
Estão em todo o lado, como o vento no deserto.
No deserto não existem limites traçados,
no deserto não existem fronteiras entre as religiões,
no deserto não se podem pôr portas ao vento.
Para ser profeta, não importa que alguém
seja crente ou não;
o que conta é que alguém tenha
compaixão no coração e luz nos olhos.
Amiga, amigo: sê profeta também tu,
à tua maneira, como puderes,
onde estiveres.
Sê profeta, e não importa que clames
ou que apenas sussurres.
No teu deserto sê profeta também tu.
E esteja contigo Aquele que é paz na justiça
e felicidade na piedade!

José Arregi


Comentário 
Naqueles dias, apareceu João Baptista
a pregar no deserto da Judeia, dizendo:
- Arrependei-vos,
porque está perto o reino dos Céus

A proclamação do anúncio da proximidade do Reino não se faz em Jerusalém, lugar onde reside o poder econômico, político e religioso, mas no deserto, lugar de silêncio, de reflexão, de encontro pessoal com Deus.
A conversão não significa algo superficial, umas práticas mais ou menos clássicas e rotineiras de oração ou de jejum.

João, com a sua presença e a sua palavra, denuncia e anuncia, convida à autêntica conversão, a mudar de mentalidade e de atitude, a abandonar o conformismo e a hipocrisia, a renovar a fé, a alargar o coração, dilatar a esperança e ao compromisso de construir um mundo melhor para todos.

O convite, sempre em tom de esperança, é um convite a uma mudança profunda: “não mudaremos a vida, se não mudamos de vida”.

Foi dele que o profeta Isaías falou, dizendo:
“ Uma voz clama no deserto:
«Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas».

Preparar o caminho é um programa para cada um de nós. Todos somos chamados a ser precursores de Jesus, a gritar, com a nossa voz e a nossa vida, que onde houver montes de soberba, egoísmo e injustiça, haja humildade, solidariedade e justiça.
Onde houver colinas de vaidade, ambição e inveja, haja bondade, austeridade e compaixão.

Boa ocasião para nos perguntarmos que podemos  “aplanar”, “encher”, “rebaixar”, “corrigir”, “nivelar”... no nosso caminho pessoal e social, para derrubar as escandalosas desigualdades que existem no mundo, que são os grandes obstáculos que impedem a chegada de Deus à nossa vida e à dos outros.

Sou voz que anuncia Boas Notícias no meu ambiente?
  
João tinha uma veste tecida com pêlos
de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins.
O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre.
Acorria a ele gente de Jerusalém,
de toda a Judeia e de toda a região do Jordão;
e eram baptizados por ele no rio Jordão,
confessando os seus pecados.
  
A forma de vestir e de se alimentar de João era a comum da gente simples. A forma de vida deve ser coerente com a Palavra que se proclama.
A afluência de muita gente para escutar a voz do profeta, que proclama algo novo à margem de qualquer instituição, indica a atração da Palavra quando se comunica com liberdade, testemunho de vida, coerência e valentia. Anuncia um batismo de conversão, que não consiste num simples rito, mas numa autêntica mudança de vida.

Ao ver muitos fariseus e saduceus
que vinham ao seu batismo, disse-lhes:
“Raça de víboras, quem vos ensinou
a fugir da ira que está para vir?
Praticai acões que se conformam
ao arrependimento que manifestais.
Não penseis que basta dizer:
‘Abraão é nosso pai’, porque eu vos digo:
Deus pode suscitar, destas pedras,
filhos de Abraão.

Os fariseus e saduceus eram estritos cumpridores, não faltavam a nenhuma das normas e leis. João arremete duramente contra eles, como mais tarde fará Jesus, porque se justificam, se dão boas razões para se considerarem “os bons” e melhores que os outros. Ficam desqualificados os que se outorgam do monopólio da  palavra e da sua verdade feita como “a verdade”. Jesus vem para remover tudo, até o que se tem por verdade intocável.
O fundamental não está na linhagem, nos cargos, nem no cumprimento e culto vazio, mas na forma de atuar, nos frutos duma sincera conversão que leva a viver ao estilo de Jesus.

O machado já está posto à raiz das árvores.
Por isso, toda a árvore que não dá fruto
será cortada e lançada ao fogo.
Eu baptizo-vos com água,
para vos levar ao arrependimento.
Mas Aquele que vem depois de mim
é mais forte do que eu e não sou digno
de levar as suas sandálias.
Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo.
Tem a pá na sua mão:
há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro.
Mas a palha, queimá-la-á num fogo
que não apaga.

João não anuncia uma ameaça, anuncia uma promessa libertadora.
A verdadeira conversão manifesta-se nos frutos. Não se trata de se conformar em não fazer o mal, mas de praticar o bem e a justiça, dar frutos de conversão.

A justiça/julgamento de Deus é o nosso maior desejo, o nosso grande anseio, porque é aquele que nos liberta, nos salva e nos dá confiança, dignidade e alegria para viver.

O fogo queima o supérfluo e desnecessário, o que não tem consistência, o que nos impede de crescer, de sermos livres e felizes.
O fogo tudo purifica. É sinal da presença salvadora de Deus, que chega para nos libertar e nos ensinar a praticar a justiça.


Grita, Profeta

Recebeste u destino de outra palavra mais forte:
é tua missão ser profeta, palavra do Deus vivo.
Tu irás levando a luz numa entrega perene,
que a tua voz é voz de Deus e a voz de Deus não dorme.

VAI PELO MUNDO, GRITA À GENTE
QUE O AMOR DE DEUS NÃO ACABA,
NEM A VOZ DE DEUS SE PERDE.

Segue o teu rumo, profeta, sobre a areia quente,
continua a semear no mundo
que o fruto se fará presente.
Não temas se a nossa fé perante a tua voz se detém
porque fugimos da dor e a voz de Deus nos dói.

VAI PELO MUNDO, GRITA À GENTE
QUE O AMOR DE DEUS NÃO ACABA,
NEM A VOZ DE DEUS SE PERDE.

Continua a cantar, profeta, cantos de vida ou de morte,
continua a anunciar aos homens
que o Reino de Deus já vem.
Não calarão essa voz e a ninguém podes temer,
porque a tua voz vem de Deus e a voz de Deus não morre.

Emilio Vicente Matéu


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