“É hora de
coragem, de denunciar nas democracias, a postura imbecil dita “politicamente
correta”, que impede o exercício da crítica à doutrina hipócrita das ortodoxias
religiosas.
Se quisermos
combater a barbárie, teremos que ir fundo na investigação do olhar islamita
sobre a democracia e a liberdade de expressão no mundo ocidental.” – do texto
abaixo.
O
artigo É preciso combater as raízes da barbárie, de Antonio Fernando Pinheiro Pedro*, que hoje trago para o blog
Indagações-Zapytania, trata de forma muito direta e corajosa a questão da
existência e da expansão nos tempos atuais dos grupos e estados extremistas e
radicais, que em sua grande maioria têm como base as doutrinas teocráticas islâmicas. Ademais, o autor
aponta atitudes necessárias que o mundo dos países democráticos deve tomar com
coragem e determinação, para que a paz e o futuro mais seguro da humanidade seja
possível.
Acho que esse texto apresenta um ângulo muito
interessante e peculiar para se olhar bem de frente o fenômeno em questão. Uma
leitura tranquila e atenciosa - na minha opinião - pode ser muito útil para todas
as pessoas que procuram entender melhor o que está acontecendo no mundo e construir melhor a sua própria opinião a esse respeito.
Foi
publicado no site Ambiente Legal.
Realmente,
vale a pena ler!
WCejnóg
É preciso combater as
raízes da barbárie
Publicado
em
Na luta pela
democracia, não há espaço para tolerar intolerantes.
Por
Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
“Estado Islâmico” em ação. Genocídio em nome de
Alá...
A barbárie teocrática
A barbárie dos radicais islâmicos não é isolada. É
face desprezível de doutrinas que elegeram o preconceito, a intolerância, o
sexismo e o martírio como forma de redenção.
O totalitarismo teocrático atormenta o oriente há
milênios. Agride também o ocidente de tempos em tempos.
No oriente, doutrinas teocráticas islâmicas massacram
populações em nome da “libertação”, da “salvação” e da “purificação”. No
ocidente, ortodoxos muçulmanos exploram o veio da “restauração da fé”, contra
um mundo excludente, lascivo e “decadente”.
Os bárbaros se apoiam na pobreza moral e no
analfabetismo funcional, pragas que correm multidões de miseráveis tolhidos por
economias absolutamente sectárias.
Infibulação
– extirpação genital feminina
imposta pelos radicais islâmicos
A Europa até agora havia tolerado a barbárie
terrorista, por conta da visão obtusa de partidos e governos esquerdistas, os
quais estimularam o rancor social e professaram um discurso “vitimizador dos
excluídos” contra o “aparato repressor” dos regimes democráticos. Esse “rancor
social”, justamente, estimulou a fuga de jovens oriundos de famílias de
refugiados e imigrantes muçulmanos para as fileiras das sanguinárias facções
radicais no oriente médio.
O fenômeno da tolerância ao radicalismo islâmico
contou, também, com a condescendência pusilânime de governos e partidos “politicamente
corretos”, ocidentais, pressionados a reagir contra políticas sectárias e
xenófobas que assolavam governos locais, na Europa e na América.
Decadência e totalitarismos
Como pano de fundo, sempre, a visão de estarmos todos, no ocidente, envolvidos
em um processo de decadência moral, institucional e política, que eliminará a
hegemonia de nossos padrões civilizatórios em prol de um novo barbarismo.
Nessa tese os muçulmanos não estão sozinhos. A
noção continuada de “decadência do ocidente” está no princípio de todo
pensamento totalitário, teocrático ou não.
Toda doutrina totalitária condena o “comportamento
libertino e decadente” do ocidente, justamente por ser o ocidente plural, e a
pluralidade constituir o cerne do regime democrático.
O totalitarismo não concebe o plural. Não admite a
convivência dos diferentes. Nutre fobia à diferença.
Essa fobia à diferença atrai hordas de indivíduos
que se vitimizam por justamente se sentirem “excluídos” pela diferença. Atraí
hipossuficientes de toda ordem, inconformados recalcitrantes, canalhas
ideológicos, manipuladores de massas ignorantes, miseráveis em busca de alguma
luz e analfabetos funcionais. Hipnotiza a todos com o discurso da
“restauração”, da equalização dos desiguais pela força, por meio da uniformização
estética e padronização brutal de condutas.
A barbárie muçulmana ortodoxa ganha musculatura na
horda de despossuídos porque prega o mergulho radical, sem exceção, de todos,
numa treva de ausências: ausência de inteligência, de humor, de cores, de
educação, de música, de arte, de livros, de meios de comunicação, de
inteligência, de raciocínio, de crítica, de respeito ao próximo, de domínio
sobre o corpo, de amor e de sexo.
Condena todos à equalização brutal, baseada na
ignorância.
O que nos assombra, no entanto, e toma dimensões
apocalípticas, é justamente o fato de hoje não haver mais “ausências” possíveis
entre ocidente e oriente.
Shibatadas
humilhantes no paquistão – crime? “Apostasia”...
A humanidade assume padrões sócio-econômicos cada
vez mais globalizados, alimentados por uma carga dinâmica e acachapante de
livre-informação por via digital.
Isso nos deixa a todos, radicais ou não, “cara a
cara” com nossos avanços e atrasos, com todas as nossas diferenças, riquezas e
misérias.
Ante essa profusão de informações, a proposta
radical muçulmana, do mergulho radical de todos em uma treva de ausências, só
poderia ser concebida e executada à custa de um sistemático e brutal massacre
de vidas humanas.
É isso justamente o que agora ocorre.
A contradição, no entanto, é insuperável. O
contraste entre oriente e ocidente tende a desaparecer, na medida em que o
modelo ocidental é hoje seguido na maior parte do oriente.
Não por outro motivo o oriente sedia os maiores
embates entre radicais muçulmanos e Estados que se modernizam nos padrões
ocidentais (ex.: China, Índia, Paquistão, Malásia, Emirados…). Essa expansão de
padrões ocidentais ao oriente e África é prova que a “decadência” civilizatória
ocidental, se existe, ainda tem o condão de expandir idéias, experiências e
conhecimento. Produzir primaveras e revolucionar costumes.
O historicismo decadente
O discurso historicista – de que estamos “decaindo” – é uma bobagem histórica
com efeitos funestos, já denunciada por Karl Popper no século passado (registrada
em sua obra “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”).
A tese historicista da “decadência civilizatória” é
doutrina perene: a Grécia Antiga se desenvolveu “decaindo” na versão dos
historicistas gregos; Roma “decaiu” por 1600 anos; o chamado Estado Moderno
europeu-ocidental está “decaindo” há trezentos anos; os EUA decaem há uns 100
anos.
No entanto, os valores civilizatórios clássicos,
que sustentaram todos esses elementos “decadentes” da história do ocidente,
ressurgem sempre revigorados.
Marxistas quebraram a cara com o discurso
historicista; nazistas também.
Os religiosos ortodoxos – em especial os islamitas
– sunitas e xiitas, são igualmente perenes e nada, nada é mais historicista que
a visão radical islamita de nossa estrutura civilizatória ocidental, cuja
contribuição árabe (árabe, não islâmica) foi determinante.
Criança
curda torturada por militantes do Estado Islâmico
Teocratas historicistas muçulmanos, judeus,
católicos e protestantes sempre fizeram uso da literalidade dos livros sagrados,
para queimar na fogueira ou no mármore do inferno aqueles que não viam na
ortodoxia religiosa a salvação da humanidade.
Passada, porém, a onda da barbárie religiosa, a
lição da história que sempre fica é que os livros sagrados permanecem, enquanto
os radicais (e seu radicalismo), perecem.
Religião é pretexto para a violência
O Alcorão, assim como a Bíblia e a Torá, nunca
foram escritos para serem tomados ao pé da letra e, sim, apreendidos e
interpretados diariamente, a cada tempo, no seu tempo.
No quadro atual da barbárie muçulmana, os radicais
de ocasião “restauraram” a literalidade do Alcorão. “Reescreveram” o livro
sagrado e dele extraíram “ensinamentos” por meio de uma leitura maniqueísta,
rasteira, medíocre e pouco inteligente (para não dizer estúpida).
A restauração da punição corporal por blasfêmia e
apostasia é iniciativa imbecil de clérigos ortodoxos, cegos ignorantes que se
recusam a fazer uso do raciocínio inteligente (com a qual fomos todos premiados
por dádiva), para pensar além da letra…
Acenam os atuais radicais do mundo islâmico com o
ensinamento do profeta:
“De fato, o castigo, para aqueles que ordenam guerra contra Alá
(Deus) e contra o seu mensageiro e semeiam a corrupção na terra, é que sejam
mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé opostos, ou
banidos. Que é para eles uma desonra nesse mundo; e para eles na Outra Vida, um
grande castigo.” [Alcorão (5:33)]
Religião, cultura ou submissão sexista?
TODOS os livros sagrados citam literalmente
passagens de ira, como a acima transcrita. Porém não contemplam, hoje, a
blasfêmia, como punível com o martírio e a morte.
O próprio sentido da injúria ao divino se dilui no
mundo atual, governado por organizações laicas, onde os ensinamentos religiosos
remetem à conduta subjetiva e à consciência das pessoas, jamais para formas
arcaicas de controle ideológico objetivo, político e social.
Maomé não reagiria hoje, como aliás nunca reagiu,
com ira contra os que o desdenhavam. Não é pela ira, pelo terror, que se
conquista corações e mentes do rebanho de Deus.
O terror é apanágio dos covardes, que temem a
vitória da razão.
A verdadeira fé está, justamente, na razão.
Essa regressão repressiva à inteligência humana, em
forma de doutrina, visa alinhar a religião a um projeto político terrorista de
poder. Não busca pureza na alma dos miseráveis e, sim, iludi-los com a pregação
de ódio e rancor…
Se assim é, o que ocorre entre os muçulmanos de
bem, que não os faz lutarem pela vitória da razão?
De há muito os mais esclarecidos no mundo muçulmano
(e no ocidente), denunciam esta manipulação cínica e hipócrita.
A crítica a esses desvios, no entanto, não ocorre
na intensidade e nem na extensão desejada. Isto porque Estados dominados pela
religião impedem o livre debate, da mesma forma que idiotas politicamente
corretos evitam a crítica por verem nisso algum tipo de preconceito.
Essa simbiose entre teocracias e pusilanimidade
politicamente correta resultou em cenários próximos dos tempos das cruzadas.
Nas regiões ocupadas por radicais islâmicos, hoje,
cristãos são crucificados, degolados ou fuzilados, num exemplo de “limpeza
religiosa”. Essa barbárie se estende a islamitas que não comungam com a mesma
doutrina. Mulheres e crianças são vítimas de toda espécie de barbárie
consentida, da pedofilia mal disfarçada em preceito religioso ao feminicídio
serial; do estupro, tortura e sevícias à extirpação ordenada do clitóris e
lábios genitais em adolescentes (infibulação).
No Afeganistão, Paquistão, Indonésia, Nigéria e
Emirados, os convertidos ao cristianismo são mortos. Em Gaza, igrejas cristãs
têm sido profanadas. A “civilizada” Arábia Saudita decretou a pena de morte
para quem carregar uma Bíblia.
Nem adiantará não ser cristão. Quem não for
muçulmano não será poupado. Se for muçulmano mas não comungar com a ortodoxia
“da irmandade”, terá o mesmo fim. Mulheres que demonstram alguma inteligência
ou independência e indivíduos homossexuais sofrerão martírios. Se for um judeu,
será ainda pior.
O que fazer?
É hora de coragem, de denunciar nas democracias, a postura imbecil dita
“politicamente correta”, que impede o exercício da crítica à doutrina hipócrita
das ortodoxias religiosas.
Se quisermos combater a barbárie, teremos que ir
fundo na investigação do olhar islamita sobre a democracia e a liberdade de
expressão no mundo ocidental.
A história mostra que os regimes democráticos
sempre agiram de forma pendular para superar crises – ou seja, às vezes é sim
necessário restringir liberdades religiosas e até a plena liberdade religiosa,
se a atividade em foco transcende os limites da Ordem Pública e do Estado
Democrático de Direito para ferir direitos humanos.
A “operação mãos limpas” e, depois, a repressão aos
excessos de juízes e procuradores na Itália; a “Guerra às Drogas” nos EUA e a
complexa e progressiva correção de rumos nos anos 80 e 90; a própria guerra
norte-americana ao terror, mostram essa ação pendular, justificada pelas
circunstâncias.
Assim, se quisermos combater as raízes de toda essa
barbárie, devemos assumir que:
É preciso por um fim aos Estados teocráticos!
É sim, necessário afirmar o laicismo dos estados
democráticos!
É preciso forçar os contrários à convivência em um
ambiente pluralista!
É sim, necessário reprimir usos e costumes que
estejam em desacordo com a liberdade de expressão e os direitos humanos,
principalmente aqueles que reduzem, degradam e diminuem a figura feminina.
É preciso abolir o uso de burcas e outras
vestimentas em locais públicos jurisdicionados pela constituição laica e
democrática – seja no ocidente, seja no oriente, porque não se trata de
“costume religioso” e, sim, instrumento de submissão sexista.
É preciso abandonar o comportamento pusilâmine,
baseado na conduta “politicamente correta”, cuja estultice permitiu a criação
de “quarteirões muçulmanos” na Inglaterra, França e Alemanha – instituindo um
apartheid com outras cores e gerando caldo de cultura que excretou imbecis de
toda ordem, ainda adolescentes, em direção à militância no radicalismo
islâmico.
O Brasil, que praticava o pluralismo, com todos os
defeitos e qualidades, graças à adoção da hipocrisia politicamente correta,
está abolindo sua natureza hospitaleira. Agora o governo brasileiro, em todas
as esferas federativas, se submete aos preceitos ideocráticos de gente que faz
do ódio instrumento de militância.
Os fatos sanguinários que hoje testemunhamos,
deveriam bastar para que abandonássemos em definitivo o discurso da
pusilanimidade “politicamente correta” e adotássemos o discurso afirmativo do
respeito à democracia e ao pluralismo (que não se confunde com tolerar o
intolerante).
Assim constava no texto da acusação contra os
líderes nazistas no Tribunal Militar Internacional de Nuremberg:
“Estes homens, quando eram poderosos, não se baseavam em nenhum
processo jurídico, e o seu programa ignorava e desafiava todas as leis humanas.
Direito internacional, direito natural, direito pátrio, qualquer que fosse o
direito, era, para eles, apenas um meio de propaganda sempre ignorado quando se
opunha aos seus desígnios”.
Sabemos, portanto, o preço que já pagamos por
tolerar intolerantes em nossa democracia ocidental.
Os muçulmanos são, sem dúvida, as maiores vítimas
dessa falta de crítica. Serão, também, com certeza, os maiores beneficiários da
separação entre “Alcorão” e “Constituição”.
*Antonio
Fernando Pinheiro Pedro é
advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Integrante do Green Economy
Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito
Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional
de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil –
OAB. Jornalista, é Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo
blog The Eagle View