Texto abaixo, que é um cmentário de Cleber Buzzato, secretário Executivo do CIMI, serve como um forte alerta para a maioria da sociedade brasileira em relação
à questão indígena.
Foi publicado no início do mês de fevereiro de
2015, no portal da Cimi e, posteriormente, também no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Vale a pena ler para saber melhor sobre essa questão.
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IHU - NOTÍCIAS
Segunda, 02 de fevereiro
de 2015
E
a luta continua: aumentam as ameaças aos povos originários do Brasil
"O governo
brasileiro segue decidido a nada decidir, descumprindo a Constituição,
favorecendo os setores anti-indígenas e potencializando os conflitos e as
violências contra os povos". O comentário é de Cleber Buzzato, secretário Executivo do Cimi, em artigo no
portal do Cimi, 30-01-2015.
Eis o artigo.
O ano de 2015 apresenta
graves ameaças e importantes desafios aos povos indígenas do Brasil. A vitória
na batalha relativa à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00, no final de 2014, foi emocionante e
enaltecedora, mas não decretou o fim dos ataques e da guerra imposta pelos
ruralistas e demais inimigos contra os povos e seus direitos fundamentais.
Fortalecidos, ao longo
dos últimos anos, por vultosos financiamentos subsidiados com recursos públicos
e abastecidos com doações milionárias de grandes corporações, inclusive
multinacionais, o ruralismo saiu ainda maior das urnas em 2014. Sedentos,
insaciáveis e raivosos, tudo indica que aumentarão ainda mais a pressão e o
ataque contra os povos e seus direitos em todos os níveis.
No Legislativo, o texto
constitucional continuará sendo alvejado. Antes mesmo de iniciar oficialmente a
nova legislatura, os ruralistas já estão em plena movimentação a fim de retomar
a tramitação de instrumentos danosos aos povos, tais como a PEC 215/00 e o Projeto de Lei Complementar 227/12. As negociações da
Frente Parlamentar da Agricultura e Pecuária com Eduardo Cunha
(PMDB/RJ), candidato à presidência da Câmara dos Deputados, foram
concluídas com o compromisso público deste em criar uma nova Comissão Especial
para tratar da PEC 215/00 em troca da adesão dos ruralistas à
sua candidatura. Cunha conta ainda com o apoio manifesto da
bancada evangélica.
No Judiciário, preocupa
a possibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) impor uma
interpretação extremamente restritiva quanto ao alcance do direito
constitucional dos povos às suas terras tradicionais. Neste sentido, a eventual
confirmação, em plenário, da anulação de portarias declaratórias de terras
tradicionalmente ocupadas pelos povos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e
Canela-Apãnjekra, no Maranhão, em decisões parciais tomadas pela 2ª. Turma do
STF, em setembro de 2014, sob argumentos simplórios e descontextualizados de
que os indígenas não teriam direito à terra porque não estavam sobre ela em 5
de outubro de 1988, causaria uma instabilidade generalizada e uma onda de ações
e decisões anti-indígenas relativa a centenas de procedimentos administrativos
de demarcação de terras indígenas. As consequencias potenciais advindas de
decisão do STF nessa direção, em termos de conflitos,
violências e violações aos povos, são imensuráveis.
No Executivo, o texto
constitucional é desrespeitado reiteradamente. São fartas e públicas as
informações que atestam a ação intencional do governo federal, especialmente
por meio da Presidência da República, Casa Civil e Ministério da Justiça, em
negar o seguimento legal aos procedimentos administrativos de demarcação das
terras indígenas no Brasil. Em 2014, nenhuma terra indígena foi homologada pela
presidente Dilma. Atualmente, ao menos 21 terras poderiam ser homologadas uma
vez que os respectivos procedimentos administrativos estão tecnicamente aptos e
não há qualquer impedimento judicial para fazê-lo. No entanto, a presidente
simplesmente não assina os decretos de homologação necessários. Da mesma forma,
ao menos nove terras poderiam ser imediatamente declaradas pelo ministro da
Justiça.
O governo brasileiro
segue decidido a nada decidir, descumprindo a Constituição, favorecendo os
setores anti-indígenas e potencializando os conflitos e as violências contra os
povos.
Os povos, por sua vez,
dão fortes sinais de que manterão as articulações e mobilizações em 2015.
Cientes de que somente a própria mobilização em defesa de suas vidas e direitos
tem potencialidade para impedir os intentos dos seus inimigos, os povos
indígenas demonstram estar dispostos e preparados para mais um ano de intensas
lutas Brasil afora.
Nesse processo,
consideramos de grande importância os povos manterem-se atentos às
estratégias anti-indígenas, especialmente àquelas relativas à criminalização e
à cooptação de lideranças. São fortes os indicativos de que grupos políticos
que representam interesses econômicos manifestamente contrários aos direitos
indígenas estão se movimentando para “atrair” povos e lideranças para o seu
campo de jogo. Isso não significa, porém, que abandonarão a estratégia de
incitação ao ódio e à violência contra os povos. Tudo indica que estas
continuarão sendo implementadas de maneira associada à estratégia da
criminalização posta a cabo por forças do próprio Estado.
Diante
de tamanhas adversidades, a fim de reforçar ainda mais a legitimidade e
estender o alcance de suas lutas, organizações, povos e lideranças indígenas
têm importantes desafios ao longo do ano. Trata-se, especialmente, de manter
firme o processo de mobilização em todos os níveis, de potencializar a atuação
também em espaços de incidência política no âmbito internacional a fim de
informar a sociedade e instâncias de direitos humanos de outros países acerca
da realidade efetivamente vivida pelos povos no Brasil, bem como, de ampliar a
articulação de suas lutas com setores da sociedade brasileira no meio urbano e
com comunidades tradicionais e movimentos sociais do campo em nosso país.
Fonte: IHU - Notícias
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