Domingo de Ramos
Abaixo, uma pequena mas muito
valiosa e atual reflexão para todos nós, os cristãos de hoje, cujo pano de
fundo é o texto bíblico Lc 22,14 – 23, 56 (Paixão de Jesus Cristo).
O texto é de autoria do padre e
teólogo espanhol José Antonio Pagola e foi publicado pelo autor no seu espaço
no Facebook.
Não deixe de ler!
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O que faz Deus
em uma cruz?
Por José Antônio
pagola
De acordo com o relato evangélico, os que passavam perante Jesus crucificado sobre a colina do Gólgota escarneciam dele e, rindo da sua impotência, diziam: "se és filho de Deus, desce da cruz". Jesus não responde à provocação. Sua resposta é um silêncio carregado de mistério. Precisamente porque é filho de Deus permanecerá na cruz até a sua morte.
As perguntas são inevitáveis: como é possível acreditar em um Deus crucificado pelos homens? Damo-nos conta do que estamos dizendo? O que faz Deus em uma cruz? Como pode existir uma religião fundada em uma concepção tão absurda de Deus?
Um "Deus crucificado" constitui uma revolução e um escândalo que obriga-nos a questionar todas as ideias que nós, os humanos, fazemos de um Deus que supostamente conhecemos. O crucificado não tem o rosto nem os traços que as religiões atribuem ao ser supremo.
O "Deus crucificado" não é um ser todo-Poderoso e majestoso, imutável e feliz, alheio ao sofrimento dos humanos, mas sim um Deus impotente e humilhado que sofre conosco a dor, a angústia e até a própria morte. Com a cruz, ou acaba a nossa fé em Deus, ou nos abrimos a uma compreensão nova e surpreendente de um Deus que, em nosso sofrimento, ele nos ama de forma incrível. Perante o crucificado começamos a intuir que Deus, em seu último mistério, é alguém que sofre conosco. A nossa miséria lhe afeta. O nosso sofrimento lhe importa. Não existe um Deus cuja vida decorre, por assim dizer, à margem das nossas tristezas, lágrimas e desgraças. Ele está em todos os calvários do nosso mundo.
Este "Deus crucificado" não permite uma fé frívola e egoísta em um Deus onipotente ao serviço dos nossos caprichos e pretensões. Este Deus põe-nos a olhar para o sofrimento, o abandono e o desespero de tantas vítimas da injustiça e das desgraças. Com este Deus nos encontramos quando nos aproximamos do sofrimento de qualquer crucificado.
Nós, os cristãos, continuamos dando todo tipo de rodeios para não dar de cara com o "Deus crucificado". Aprendemos, inclusive, levantar o nosso olhar para a cruz do Senhor como conforto dos crucificados que estão diante dos nossos olhos. No entanto, a forma mais autêntica de celebrar a paixão do Senhor é reavivar a nossa compaixão. Sem isto, dilui-se a nossa fé no "Deus crucificado" e abre a porta a todo o tipo de manipulações. Que o nosso beijo ao crucificado nos ponha sempre olhando para aqueles que, perto ou longe de nós, vivem a sofrer.
Fonte: Facebook
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