“Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher,
perguntou-lhe: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te
condenou?” Respondeu ela: “Ninguém, Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem
eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”. (Jo 8, 10-11)
Abaixo, uma curta mas muito
valiosa e atual reflexão que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 8, 1-11
(Jesus e a mulher adultera).
A reflexão é de autoria do padre e
teólogo espanhol José Antonio Pagola e foi publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnog
IHU - Notícias
sábado, 12 de março de 2016
Revolução ignorada
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus segundo João 8,1-11 que corresponde ao 5° Domingo de Quaresma, ciclo
C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antônio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Apresentam a Jesus uma mulher
surpreendida em adultério. Todos conhecem o seu destino: será apedrejada até a
morte segundo o estabelecido pela lei. Ninguém fala do adúltero. Como ocorre
sempre numa sociedade machista, condena-se a mulher e desculpa-se o homem. O
desafio a Jesus é frontal: «A lei de Moisés manda-nos apedrejar as
adúlteras. Tu, que dizes?».
Jesus não suporta aquela hipocrisia
social alimentada pela prepotência dos homens. Aquela sentença à morte
não vem de Deus. Com simplicidade e ousadia admiráveis, introduz ao mesmo tempo
verdade, justiça e compaixão no julgamento à adúltera: «o que esteja sem
pecado, que atire a primeira pedra».
Os acusadores retiram-se
envergonhados. Eles sabem que são os principais responsáveis dos adultérios que
se cometem naquela sociedade. Então Jesus dirige-se à mulher que acaba de
escapar da execução e, com ternura e grande respeito, diz-lhe: «Tampouco Eu te
condeno». Logo, anima-a para que Seu perdão se converta no ponto de partida de
uma vida nova: «Anda, e daqui em diante não peques mais».
Assim é Jesus. Por fim
existiu sobre a terra alguém que não se deixou condicionar por nenhuma lei nem
poder opressivo. Alguém livre e magnânimo que nunca odiou nem condenou,
nunca devolveu mal por mal. Na Sua defesa e no Seu perdão a esta adúltera há
mais verdade e justiça que nas nossas reivindicações e condenações ressentidas.
Os cristãos, não fomos capazes
todavia de extrair todas as consequências que encerra a
atuação libertadora de Jesus face à opressão da mulher. A partir de uma Igreja
dirigida e inspirada majoritariamente por homens, não temos consciência de
todas as injustiças que continua padecendo a mulher em todos os âmbitos da
vida. Algum teólogo falava há uns anos «da revolução ignorada» pelo
cristianismo.
A verdade é que, vinte séculos depois
nos países de raízes supostamente cristãs, continuamos a viver numa sociedade
onde com frequência a mulher não pode mover-se livremente sem medo do
homem. O estupro, o abuso e a humilhação não são imaginários. Pelo
contrário, constituem uma das violências mais arraigadas e que mais sofrimento
gera.
O sofrimento da mulher não deveria
ter um eco mais vivo e concreto nas nossas celebrações, e um lugar mais
importante no nosso trabalho de conscientização social? Mas,
sobretudo, não devemos estar mais próximos de todas as mulheres oprimidas para
denunciar os abusos, fornecer defesa inteligente e proteção eficaz?
Fonte:
IHU- Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário