Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 12 de março de 2016

Revolução ignorada. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!


“Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” Respondeu ela: “Ninguém, Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”. (Jo 8, 10-11)

Abaixo, uma curta mas muito valiosa e atual reflexão que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 8, 1-11 (Jesus e a mulher adultera).
A reflexão é de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola e foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU - Notícias
sábado, 12 de março de 2016

Revolução ignorada


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo João 8,1-11 que corresponde ao 5° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antônio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Apresentam a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Todos conhecem o seu destino: será apedrejada até a morte segundo o estabelecido pela lei. Ninguém fala do adúltero. Como ocorre sempre numa sociedade machista, condena-se a mulher e desculpa-se o homem. O desafio a Jesus é frontal: «A lei de Moisés manda-nos apedrejar as adúlteras. Tu, que dizes?».

Jesus não suporta aquela hipocrisia social alimentada pela prepotência dos homens. Aquela sentença à morte não vem de Deus. Com simplicidade e ousadia admiráveis, introduz ao mesmo tempo verdade, justiça e compaixão no julgamento à adúltera: «o que esteja sem pecado, que atire a primeira pedra».

Os acusadores retiram-se envergonhados. Eles sabem que são os principais responsáveis dos adultérios que se cometem naquela sociedade. Então Jesus dirige-se à mulher que acaba de escapar da execução e, com ternura e grande respeito, diz-lhe: «Tampouco Eu te condeno». Logo, anima-a para que Seu perdão se converta no ponto de partida de uma vida nova: «Anda, e daqui em diante não peques mais».

Assim é Jesus. Por fim existiu sobre a terra alguém que não se deixou condicionar por nenhuma lei nem poder opressivo. Alguém livre e magnânimo que nunca odiou nem condenou, nunca devolveu mal por mal. Na Sua defesa e no Seu perdão a esta adúltera há mais verdade e justiça que nas nossas reivindicações e condenações ressentidas.

Os cristãos, não fomos capazes todavia de extrair todas as consequências que encerra a atuação libertadora de Jesus face à opressão da mulher. A partir de uma Igreja dirigida e inspirada majoritariamente por homens, não temos consciência de todas as injustiças que continua padecendo a mulher em todos os âmbitos da vida. Algum teólogo falava há uns anos «da revolução ignorada» pelo cristianismo.

A verdade é que, vinte séculos depois nos países de raízes supostamente cristãs, continuamos a viver numa sociedade onde com frequência a mulher não pode mover-se livremente sem medo do homem. O estupro, o abuso e a humilhação não são imaginários. Pelo contrário, constituem uma das violências mais arraigadas e que mais sofrimento gera.

O sofrimento da mulher não deveria ter um eco mais vivo e concreto nas nossas celebrações, e um lugar mais importante no nosso trabalho de conscientização social? Mas, sobretudo, não devemos estar mais próximos de todas as mulheres oprimidas para denunciar os abusos, fornecer defesa inteligente e proteção eficaz?



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