Acho
muito oportuno e importante o assunto abordado no artigo Bancos ou empreiteiros, quem ganha mais no campeonato de corrupção?,
de José Carlos de Assis. Na verdade, a grande mídia sempre silencia este tema e
pouco ou nada se fala sobre os motivos e as razões pelos quais os bancos e
banqueiros aqui no Brasil praticam uma verdadeira ‘orgia
de juros sobre o crédito pessoal, o cheque especial e o cartão de crédito a que
recorrem regularmente os desesperados’... Por que tudo isso? Como entender essa verdadeira
aberração dos bancos e banqueiros em relação à sociedade brasileira? Por que
não se faz nada contra esse ‘roubo sistemático praticado contra o povo e contra
o setor público pelo sistema bancário do país?’ – eis algumas importantes
indagações.
O artigo foi publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – Notícias
Quinta, 07 de julho de
2016
Bancos ou empreiteiros, quem
ganha mais no campeonato de corrupção?
“Mas os empreiteiros que cometem superfaturamentos
geraram centenas de milhares de empregos e deixam legados no interesse do povo
e da nação, como Tucuruí, Itaipu ou Belo Monte, rodovias, barragens. Qual é o
legado dos banqueiros?”, pergunta J. Carlos de Assis, economista,
doutor pela Coppe/UFRJ, em artigo publicado por Jornal GGN,
07-07-2016.
Eis o artigo.
Nada do que se roubou, do que se rouba ou do que se
roubará no sistema econômico produtivo brasileiro, sob forma de
superfaturamento de contratos de obras ou outros expedientes, se compara ao
roubo sistemático praticado contra o povo e contra o setor público pelo sistema
bancário do país. Infelizmente, trata-se de um sistema fechado à investigação
policial ou da promotoria pública, simplesmente porque é impenetrável aos não
especialistas, e extremamente generoso para os especialistas que o servem como
comparsas.
A chave para compreender a apropriação pelo sistema
bancário brasileiro de parte desproporcional da renda nacional está no que
tecnicamente se chama receita de senhoriagem. Em termos práticos, é a receita
obtida com a emissão da moeda. A economia em funcionamento, na medida em que
ocorre crescimento e inflação, precisa de mais moeda primária para que funcione
com um nível adequado de liquidez. Essa moeda é fornecida pelo sistema
bancário, sem custo, dividida entre bancos estatais e privados comerciais.
Qual é a mecânica da emissão? Vou primeiro dar o
exemplo dos Estados Unidos, para estabelecer um parâmetro de referência. Lá, o
processo começa por um déficit público: o Governo gasta mais do que arrecada e,
através de lançamento de títulos públicos no mercado, toma dinheiro emprestado
para cobrir esses gastos. Essa emissão de títulos pressiona o mercado
financeiro, que pode reagir pedindo elevação de taxa de juros. Diante disso, é
preciso que fundos, bancos e pessoas comprem os títulos a uma taxa que o
Tesouro acha razoável.
Se o mercado sinalizar com pedidos de taxas de
juros muito altas, o FED, banco central americano, em articulação
com o Tesouro – lá não há idiotas como Marina Silva ou José
Serra propondo banco central independente -, reage
oferecendo dinheiro a taxas de juros mais baixas que as prevalecentes no
mercado. Com a contrapressão financeira, o mercado acaba comprando os novos
títulos às taxas oferecidas pelo Tesouro. Os bancos dealers, que são os
operadores preferenciais com o FED, acabam buscando aplicações no
mercado real que lhes sejam mais favoráveis que os títulos públicos que formam
um colchão de aplicações no chamado mercado aberto.
Onde está, nesse esquema, a receita de senhoriagem?
Ela está, num primeiro momento, com o FED, que emite a moeda. Mas
ela é imediatamente repassada aos bancos dealers a taxas de juros baixíssimas.
Na medida em que esses bancos emprestam os recursos correspondentes a uma taxa
maior do que pagam, estão, na verdade, se apropriando da renda da receita de
senhoriagem. Mas isso, no sistema norte-americano, não gera grandes protestos.
Afinal, entre a taxa básica de juros e a taxa de aplicação as margens são
modestas. Nada que justifique chamar os banqueiros norte-americanos de ladrões
do povo.
Vejamos o que acontece aqui. O Banco
Central, ao constatar aperto de liquidez, faz exatamente o que faz o FED:
emite moeda e a põe em circulação através dos dealers bancários. Acontece que o
dealer brasileiro pega essa receita de senhoriagem a uma taxa de 14,25% ao ano
e a empresta ao sistema econômico a uma taxa de até 300% ou mais. Bingo.
Ninguém fala, nesse contexto, em financiamento ao governo ou ao setor produtivo
pois só um industrial ou comerciante louco poderia tomar emprestado algum
dinheiro a esse custo.
O que financia essa orgia de juros é o crédito
pessoal, o cheque especial, o cartão de crédito a que recorrem regularmente os
desesperados, num ambiente de total liberdade de ação dos bancos, na prática
totalmente independentes do setor político. Do outro lado do balcão estão
os Pedro Malan, André Lara Resende, Pérsio
Arida, Gustavo Loyola, Edmar Bacha, Gustavo
Franco e outros próceres da academia que acabaram enriquecidos no
sistema privado a partir da experiência que obtiveram em postos elevados no
governo. Eles se enriqueceram no serviço a Mamon, como costuma dizer
o senador Roberto Requião. E o espantoso é que agora não se trata mais
de ir do governo para a banca; vai-se diretamente do Bradesco ou do Itaú para a
Fazenda ou a presidência do BC, com total descaramento político.
Falei no início sobre o que se rouba nos
superfaturamentos de obras. Sim, é verdade. Mas os empreiteiros que cometem
superfaturamentos geraram centenas de milhares de empregos e deixam legados no
interesse do povo e da nação, como Tucuruí, Itaipu ou Belo Monte, rodovias, barragens. Qual é o legado dos
banqueiros?
Fonte: IHU - Notícias
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* José Carlos de Assis é economista, doutor em Engenharia de Produção pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
professor de Economia Internacional na Universidade Estadual de Paraíba (UEPB) e autor de mais de 20 livros sobre
economia política. In: Wikipedia
Foto: Google
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