«Deus, porém, lhe disse:
‘Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que
ajuntaste, de quem serão?’ Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo
e não é rico para Deus.» (Lc 12, 20-21)
Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de
fundo o texto bíblico Lc 12, 13-21 (Parábola
do rico insensato e avarento). É de autoria do padre e teólogo espanhol
José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU – Notícias
Sexta, 29 de julho de 2016
Desmascarar a insensatez
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus segundo Lc 12, 13-21 que corresponde ao 18°
Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O protagonista da pequena parábola do «rico
insensato» é um proprietário de terras como aqueles que Jesus conheceu
na Galileia. Homens poderosos que exploravam sem piedade os camponeses,
pensando só em aumentar o seu bem-estar. As pessoas temiam-lhes e
invejavam-lhes: sem dúvida eram os mais afortunados. Para Jesus, são os mais
insensatos.
Surpreendido por uma colheita que ultrapassa as
suas expectativas, o rico proprietário vê-se obrigado a refletir: “O que vou
fazer?”. Fala com ele mesmo. No seu horizonte não aparece ninguém mais. Não
parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos camponeses que
trabalham as suas terras. Só o preocupa o seu própio bem-estar e a sua
riqueza: a minha colheita, os meus celeiros, os meus bens, a minha vida...
O rico não se dá conta de que vive encerrado em si
mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza esvaziando-o de toda a
dignidade. Só vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar
material: “Vou construir celeiros maiores, e neles vou guardar todo o meu
trigo, junto com os meus bens”. “Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro,
você possui um bom estoque, uma boa reserva para muitos anos; descansa, como e
beba, alegre-se”.
De repente, de forma inesperada, Jesus faz
Deus intervir. O seu grito interrompe os sonhos e ilusões do rico:
«Louco!». «Nesta mesma noite vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que
você preparou para quem serão?». Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é
um fracasso e uma insensatez.
Aumenta os seus celeiros, mas não sabe engrandecer
o horizonte da sua vida. Acrescenta a sua riqueza, mas despreza e empobrece a
sua vida. Acumula bens, mas não conhece
a amizade, o amor generoso, a alegria nem a solidariedade. Não sabe dar
nem partilhar, só acumular. Que há de humano nesta vida?
A crise econômica que estamos sofrendo é uma «crise
de ambição»: os países ricos, os grandes bancos, os
poderosos da terra... Escolhemos viver acima das nossas possibilidades,
sonhando com acumular bem-estar sem limite algum e esquecendo cada vez mais os
que se afundam na pobreza e na fome. Mas, de repente, a nossa segurança veio
abaixo.
Esta crise não é uma mais. É um «sinal dos tempos»
que temos de ler à luz do evangelho. Não é difícil
escutar a voz de Deus no fundo das nossas consciências: «Basta já de tanta
insensatez e tanta falta de solidariedade cruel». Nunca superaremos as nossas
crises econômicas sem lutar por uma mudança profunda do nosso estilo de vida:
temos que viver de forma mais austera; temos de partilhar mais o nosso
bem-estar.
Fonte:
IHU –Notícias
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