“O
pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a
Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de
reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os
pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.(Lc
2, 33-35)
Festa da Sagrada Família
Hoje, para quem estiver interessado em entender
melhor o texto bíblico Lucas 2,
22-40 (Apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém),
trago para o blog Indagações-Zapytania o comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária
de Cristo Ressuscitado.
O texto foi publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos.
Vale a pena ler e refletir!
WCejnóg
IHU –ADITAL
29 Dezembro 2017.
Evangelho segundo Lucas 2,22–40. (Correspondente
à Festa da Sagrada Família, ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria
Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Reconhecer
Jesus nos pobres
Hoje a Igreja celebra a Festa da Sagrada
Família. O Evangelho de Lucas nos descreve um momento
muito importante para a vida de Jesus e para Maria e José. Jesus é levado no
Templo de Jerusalém para ser consagrado ao Senhor conforme está escrito na Lei
de Moisés: «Todo primogênito de sexo masculino será consagrado ao
Senhor».
Pela circuncisão o homem israelita
era incorporado ao povo da Aliança e a partir desse momento
pertencia ao Senhor como todo primogênito.
O texto de hoje pertence às
narrativas da infância de Jesus. Neste rito da circuncisão, Jesus
era aceito pelo seu pai como filho e ao mesmo tempo é acolhido na comunidade da
Aliança. O menino torna-se para sempre membro do povo da aliança. E recebe o
nome de Jesus, Jeshúa, “Javé salva”.
Nessa época era um nome muito comum,
e por isso Jesus às vezes era conhecido como Jeshua bar Josef, “Jesus,
o filho de José”, e em outras partes como Jeshúa há-notsrí, “Jesus, o de
Nazaré”.
O lugar de procedência de uma pessoa
era muito importante assim como sua família. Era uma forma de conhecer muito
sobre essa pessoa. Assim acontecia com Jesus. Hoje, nos evangelhos, muitas
vezes conhecemos o lugar de procedência e não se conhece o nome. Sabemos do
cego que estava sentado à beira do caminho quando Jesus ia a caminho de Jericó.
Escutando seus gritos é chamado e curado por Jesus (Lc 18) e assim, no seu
caminhar, aparecem outros encontros que geram vida na pessoa.
Voltando ao texto, aparecem “os pais” Maria
e José, que levam Jesus ao Templo. A pessoa de José aparece
pouco nos evangelhos, e Mateus descreve um pouco mais sobre ele, a dificuldade
em aceitar a incorporação de Jesus na sua vida, mas sua obediência
total àquilo que lhe era dito em sonhos: aceitar Maria grávida era aceitar o
projeto de Deus de uma forma diferente. Da mesma forma, quando lhe é dito, vai
para o Egito e volta no momento que também lhe é anunciado num sonho. José era
um homem justo e forma uma família onde a presença de Deus se manifesta de
forma imprevisível. E ele aceita caminhar por este sendeiro.
Jesus nasce, assim, numa família
judia e vive como um judeu. Sua família é pobre como
tantas famílias dessa época que viviam submetidas ao poder religioso e ao
pagamento que era necessário realizar ao poder romano. O texto nos descreve que
a oferta que eles fazem no Templo: “um par de rolas ou dois pombinhos”, manifesta
sua condição social.
Por isso o coração da família de
Jesus é um exemplo para todos nós, seus seguidores. O coração dessa família
tinha o mais essencial, que é o amor. Nas atitudes de sua mãe e de seu pai, José,
já desde o início aparece o Sim ao amor de Deus.
Como disse Francisco: “A
família é o ‘sim do Deus amor”. E acrescenta: “sem amor não se pode viver como
filhos de Deus, como cônjuges, pais e irmãos”. E o que significa viver no amor?
“Significa concretamente doar-se, perdoar-se, não perder a paciência,
antecipar-se ao outro, respeitar-se. Como melhoraria a vida familiar se todos
os dias se vivessem as três simples palavras ‘licença’, ‘obrigado’,
‘desculpa’!” (Texto completo:“Sonho com uma Igreja em saída, não
autorreferente, que não passe longe das feridas do homem”, escreve Francisco).
Na narrativa evangélica aparece um
homem, justo e piedoso, chamado Simeão que esperava a
consolação de Israel. “Movido pelo Espírito, Simeão foi ao Templo.
Quando os pais levaram o menino Jesus, para cumprirem as prescrições da Lei a
respeito dele, Simeão tomou o menino nos braços, e louvou a Deus”,
reconhecendo no menino o Messias como tinha sido prometido para ele pelo
Espírito. Reconhece que será luz das nações e para todo o povo de Israel.
Simeão abençoa os pais, que lhe escutavam maravilhados.
Apresenta-se também uma mulher idosa,
profetisa, viúva e servia continuamente no Templo. Reconhece o menino e o
proclama a “todos os que esperavam a libertação de Israel”.
Duas pessoas que ao longo de sua vida
aguardavam o Messias tinham uma fervorosa esperança e por isso souberam
reconhecê-lo.
Durante o tempo de Advento estamos
nos preparando para este momento da presença de Jesus diante de nós. Celebramos
o Natal, seu nascimento num presépio, porque não tinham outro lugar. E assim
nasce o Filho de Deus, escolhendo ficar entre os mais pobres,
marginalizado da sociedade.
Como reconhecemos hoje seu nascimento
na nossa sociedade? Que características brotam desta Família que escuta sem
entender, mas com fé, as palavras ditas sobre a criança?
Podemos olhar tantos seres humanos,
tantas famílias que vivem hoje em condições pobres e miseráveis. Pensemos
naqueles que estão nos campos de refugiados, em todos esses grupos que tiveram
que deixar tudo o que tinham à procura de um pouco de paz e vida, mas ainda
ficam nesse espaço restrito porque nos países “não há lugar para cada
um deles”.
Sabemos reconhecer neles a presença
do Salvador? Temos os sentidos e a esperança
aberta para esse reconhecimento?