Hoje trago para o blog Indagacoes-Zapytania uma
entrevista muito interessante, realizada
por Pablo Esteban com o pesquisador argentino Pablo Vommaro.
É
mais uma matéria que aborda a questão da juventude nos tempos atuais e,
principalmente, a relação entre as gerações mais velhas e a geração dos seus filhos.
As
colocações do entrevistado são
interessantes e podem servir como base e, ao mesmo tempo, como convite para quem estiver interessado para fazer uma reflexão necessária e serena sobre esse
assunto.
A
entrevista foi publicada em Novembro (2017)
por Página/12 e também, posteriormente, no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler!
WCejnóg
IHU
- ADITAL
01
Dezembro 2017.
Ser jovem, hoje. O tesouro
divino que não é tanto
"Hoje, os filhos já não buscam
mais parecer-se com seus pais; são os pais que
buscam parecer-se a seus filhos",
diz o especialista, que também aponta como, cada vez mais, o olhar sobre os
jovens é influenciado pelo olhar da classe.”
A entrevista é de Pablo Esteban, publicada por Página/12,
29-11-2017. Traduzido por Henrique Denis Lucas.
Antes os jovens queriam crescer para
ser como seus pais, mas na atualidade são os pais que procuram imitar seus
filhos, desafiados por consumos culturais que os impelem a ter penteados da
moda, a vestirem os últimos jeans, gerenciar redes sociais e mostrarem-se
alegres, proativos e flexíveis. Em paralelo, os jovens são rotulados pelos
relatos midiáticos e localizados em um limbo que oscila entre discursos
glorificadores - porque "é bom ser jovem" - e estigmatizantes -
porque, também, não devemos esquecer que "a juventude está perdida"
-, diz o pesquisador Pablo Vommaro. "Ser jovem hoje não pode ser
separado de um processo que começou nos anos 1970 e foi chamado de 'juvenilização da sociedade'",
afirma o doutor em Ciências Sociais (UBA), coordenador do Programa de Grupos
de Trabalho do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) e
pesquisador associado do CONICET, no Instituto Gino Germani.
Eis a entrevista.
Implica na difusão e no derramamento
de um conjunto de atributos e valores que poderiam ser caracterizados como
"juvenis" em direção ao tecido social em seu conjunto.
Características como "dinâmico", "proativo",
"flexível" e "alegre" - aparentemente, virtudes que estão
associadas aos jovens -, na atualidade, são requisitos importantíssimos que são
levados em consideração em qualquer trabalho, além da faixa etária. Isto
corresponde à uma realidade, já que a força de trabalho é composta por um
número de jovens bem maior do que ocorria trinta anos atrás. Também está
relacionada aos consumos culturais: hoje os pais querem parecer-se mais com
seus filhos do que o inverso. Eles querem imitar seus penteados, querem sair
para dançar e vestirem-se como eles para parecerem mais jovens. Há três ou
quatro décadas acontecia o contrário, tanto que existiam ritos de passagem para
a idade adulta, como o uso de calças compridas, sentar-se à mesa "com os
adultos", ter novos direitos e obrigações.
Inclusive, é possível observar isso
nas publicidades.
Há algum tempo havia um convite para
que fossem consumidos determinados produtos e serviços, porque dessa forma uma
pessoa obteria a experiência para "ter sua vida assentada". Hoje, até
mesmo Max Berliner sai para correr, como se o desejável
fosse que um senhor de 90 anos fizesse exercício, todas as manhãs. Os padrões
de consumo dizem muito acerca das dinâmicas sociais. Existe uma falsa
idealização da juventude e uma associação direta do novo com o jovem. Ao mesmo
tempo, há um discurso que parece bem intencionado, mas que na verdade pretende
congelar a juventude.
Após uma valorização aparentemente
positiva de que eles são o futuro, subjaz a ideia de que a juventude é um
momento de espera, suspensão, parênteses e limbo: "quando chegar a sua
hora, eles serão protagonistas, mas agora não"; "Eles são o amanhã,
mas não são o presente".
O problema é que, quando o limbo é
superado e finalmente chega o momento, deixa-se de ser jovem.
É o que alguns autores chamam de
"juventude negativizada", já que se define a partir de atributos
negativos: não são pais, não trabalham e não são cidadãos. Portanto, apesar do
relato glorificador, também existe um olhar escrutinador e mórbido sobre os
jovens. A outra face do garoto loiro que estuda, trabalha e está no Facebook todos os dias é a de um garoto
espertalhão segregado. Ambos, de maneiras diferentes, são observados e
estereotipados.
Na Argentina, o que quer dizer que
"as políticas sobre a juventude são adulto-cêntricas"?
Além da visibilidade, o escrutínio
público e a juvenilização
da sociedade,
as políticas públicas destinadas aos jovens ainda são desenvolvidas,
implementadas e avaliadas por adultos. Na política estamos cheios de áreas da
juventude, sem jovens, porque já é naturalizada a premissa que indica que os
adultos falam e produzem os jovens à sua imagem e semelhança. É tecida, então,
uma relação de assimetria e subalternização entre ambos os atores. Isso
acontece na escola, mas também na política: os jovens são
aqueles que colam cartazes e fazem pinturas, mas as decisões são tomadas por adultos.
E que resposta pode ser observada
nos jovens? O que há de militância?
Para refletir acerca das relações
entre juventude e militância, devemos superar a visão da política que é
restrita unicamente à lógica
partidária. Por
isto, prefiro pensar na "politização" de práticas sociais,
culturais, estéticas, comunicativas e afetivas. Neste sentido, se essas dimensões
são incorporadas pode ser observada a existência de uma participação
política juvenil muito importante, que reflete nas
dinâmicas do conflito social e nas agendas públicas.
Fonte: IHU - ADITAL
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