“João respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” (Jo 1, 23)
Hoje, uma
excelente reflexão, muito atual e importante. Como pano de fundo tem o texto bíblico Jo 1, 6-8, 19-28 (O testemunho de
João Batista a respeito do Cristo). É de autoria do padre e teólogo espanhol José
Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e meditar sobre
esse assunto.
WCejnóg
IHU – ADITAL
15 Dezembro 2017.
Abrir-nos a Deus
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo João, capítulo 1, 6-8.19-28, que
corresponde ao Terceiro Domingo do Advento, ciclo B do Ano
Litúrgico.O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A fé converteu-se para muitos numa experiência
problemática.
Não sabem exatamente o que lhes aconteceu nestes
anos, mas uma coisa é clara: já não voltarão a acreditar no que acreditavam em
criança. De tudo aquilo só ficam algumas crenças de perfil bastante confuso.
Cada um foi construindo o seu próprio mundo interior, sem poder evitar muitas
vezes graves incertezas e interrogações.
A maioria destas pessoas faz o seu «percurso
religioso» de forma solitária e quase secreta. Com quem irão falar destas
coisas? Não há guias nem pontos de referência. Cada um atua
como pode nestas questões que afetam o mais profundo do ser humano. Muitos não
sabem se o que lhes acontece é normal ou inquietante.
Os estudos do professor de Atlanta James
Fowler sobre o desenvolvimento da fé podem ajudar não poucos a
entender melhor o seu próprio percurso. Ao mesmo tempo lançam luz sobre as
etapas que a pessoa há de seguir para estruturar o seu «universo de sentido».
Nos primeiros estágios da vida, a criança vai
assumindo sem refletir as crenças e valores que se lhe propõem. A sua fé não é,
todavia, uma decisão pessoal. A criança vai estabelecendo o que é verdadeiro ou
falso, bom ou mau, a partir do que lhe ensinam desde fora.
Mais adiante, o indivíduo aceita as crenças,
práticas e doutrinas de forma mais refletida, mas sempre tal como estão definidas
pelo grupo, a tradição ou as autoridades religiosas. Não se lhe ocorre duvidar
seriamente de nada. Tudo é digno de fé, tudo é seguro.
A crise chega mais tarde. O indivíduo toma
consciência de que a fé há de ser livre e pessoal. Já não se sente
obrigado a acreditar de modo tão incondicional no que ensina a Igreja. Pouco a
pouco começa a relativizar certas coisas e a selecionar outras. O seu mundo
religioso modifica-se e até se quebra. Nem tudo responde a um desejo de
autenticidade maior. Em nós também estão a frivolidade e as incoerências.
Tudo pode ficar aí. Mas o indivíduo pode também
continuar a aprofundar o seu universo interior. Se se abre sinceramente a Deus
e O procura no mais profundo do seu ser, pode
brotar uma fé nova. O amor de Deus, acreditado e acolhido com humildade, dá um
sentido mais profundo a tudo. A pessoa conhece uma coerência interior mais
harmoniosa. As dúvidas não são um obstáculo. O indivíduo intui
agora o valor último que contém práticas e símbolos antes criticados. Desperta
de novo a comunicação com Deus. A pessoa vive em comunicação com todo o bom que
há no mundo e sente-se chamada a amar e a proteger a vida.
O decisivo é sempre fazer em nós um lugar real à
experiência de Deus. Daí a importância de escutar a chamada do profeta: «Preparai
o caminho do Senhor». Este caminho, temos de abri-lo no íntimo do nosso
coração.
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