Mais uma excelente matéria, oportuna e atual, sobre as questões
econômicas no mundo e principalmente no Brasil. A reportagem do Ricardo
Machado traz colocações interessantes
do economista Ladislau Dowbor, que fala sobre o assunto, por ocasião da
apresentação do seu novo livro “A era
do capital improdutivo”.
Penso que essa reportagem possa ajudar um pouco para quem já se perguntou
a si mesmo: Por que será que os bancos registram lucros astronômicos
justamente em plena recessão e nos tempos de crise econômica, financeira e de
tanto desemprego? Ou, talvez, para procurar alguma resposta também para outras
questões, por exemplo: Por que a crise só afeta algumas parcelas da sociedade e
não os bancos e o sistema financeiro? Quem está por trás desse "mercado" ou "jogo",
que serve apenas aos interesses do “capital”, em detrimento da população? É importante entender de que se trata!
Gostei da matéria e para contribuir um pouco na sua divulgação, trago-a também
para o meu blog.
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
20 Outubro 2017
Por: Ricardo
Machado
A era do capital improdutivo
A estranheza
do tempo presente é tão grande que vivemos a época em que é o rabo que balança
o cachorro. Quer entender como isso funciona em termos sociais e econômicos? O
professor Ladislau Dowbor explica: “O sistema financeiro é de mediação, não produz nada. Então as áreas produtivas se
tornam o meio para os especuladores ganharem dinheiro. Por isso eu digo, que é
o rabo que balança o cachorro”, brinca Dowbor, ao fazer uma
alegoria para demonstrar a centralidade do poder financeiro.
O professor Ladislau Dowbor apresentou seu livro A era do
capital improdutivo. A nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da
democracia e destruição do planeta (São
Paulo: Autonomia Literária, 2017), na noite da quinta-feira, 19-10-2017, na
Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no Instituto Humanitas Unisinos
- IHU.
A reportagem
A
intereferência do sistema financeiro nas relações sociais gera profundos
desequilíbrios. “Na questão ambiental, estamos diante de um desastre porque não
estamos acostumados a pensar em longo prazo. Nós temos uma tremendo gap entre
nossascapacidades técnicas e nossas capacidades de governança”, pondera Dowbor. “No plano social é inadmissível que oito famílias tenham a metade
de recursos financeiros do mundo, sendo que
nenhuma delas produz nada, são todas donas de negócios intermediários”,
complementa.
Professor Ladislau
Dowbor apresenta seu livro A era do capital improdutivo
(Fotos:
Ricardo Machado/IHU)
Crise
civilizacional
A crise financeira mundial instaurada a partir de 2008, não é somente no campo da econômico,
mas o reflexo de uma crise civilizacional
mais ampla. “A desigualdade não é
somente um problema ético, é um problema político. E como respondemos a essa
questão? Construindo muros? Colocando barcos no mediterrâneo para as pessoas não chegarem à Europa?”, questiona.
“Nosso
problema não é falta de recursos. É um problema de governança. O ser
humano é insuperável na capacidade de construir computadores, mas ainda
temos pobreza e fome. Inclusive os custos indiretos de não
resolver a pobreza são muito maiores do que os
necessários para combater essas mazelas”, provoca.
Para Dowbor a
questão de recursos financeiros não é um problema frente os desafios
atuais, porque há dividendos financeiros, o único ponto é destiná-los para reduzir
o impacto ambiental e social. “A partir de 2008 não mudou nada em termos de
estrutura, mas começamos a entender algumas coisas.Stiglitz é um dos que têm estudado os efeitos do desajuste financeiro, onde
o capital improdutivo rende mais que o produtivo”, exemplifica.
Estamos,
segundo o professor, diante de uma nova ordem de influência das corporações na
política, em que elas incidem diretamente nos políticos por lobbies peer-to-peer, entre
empresários e ocupantes de cargos eletivos. É esse fenômeno que Stiglitz analisa nos EUA, mas que ocorre de maneira similar
no Brasil. “O sistema financeiro está comprando universidades pelo mundo todo,
sem falar no Brasil. Há revistas acadêmicas compradas com dinheiro desses
grupos. Há compra da mídia do modo clássico e as invasões de privacidade no
nível das mídias digitais. Hoje em dia, laboratórios vendem informações de
pacientes para seguradoras. As transformações nos regimes de poder são
absolutamente radicais”, destaca o conferencista.
O fim
do capitalismo democrático
Para o
professor, o capitalismo tardio não está perto de fim, o que
mostra sinais de esgotamento frente o avanço dos processos de financeirização é
o capitalismo democrático. “Não é o fim do capitalismo, mas o fim do capitalismo democrático.
Antes eles precisavam de milhares de pessoas, hoje a regra mudou e são as próprias
corporações quem decidem o que pode e o que não. Isso porque o sistema
financeiro é global e o controle dos bancos centrais são nacionais”,
frisa.
Ao refletir
sobre os quatro motores que colocam em marcha a economia, Dowbor demonstra
porque nossa engrenagem social emperrou. “O primeiro motor é o da exportação, mas é muito instável
porque não controlamos os preços e dependemos do mercado externo. O segundo motor, é o consumo das famílias, que com o desemprego e a instabilidade econômica está travado.
Quebrando o segundo motor, que são as famílias, o terceiro, o do mercado produtivo, entra em colapso
porque não tem consumo e o juro é muito alto. O quarto motor, o investimento
estatal, que deveria ser utilizado para o investimento em estruturas, é
usado para o pagamento de juros da dívida para bancos”, pontua Dowbor.
Além disso,
o professor lembrou que os juros no Brasil são pornográficos, fruto de
agiotagem pura. “Há um mecanismo muito simples, mas eficaz, de desvio
dos recursos públicos para os bancos. Isso drena a capacidade financeira do
estado. O sistema tributário não
corrige, agrava o problema. Ainda tem
todo o valor que vai para paraísos fiscais. Esses especuladores não só não
investem, como deixam o dinheiro parasitar”, critica.
Por fim,
para fugir de um binarismo que em nada contribui com o debate, Dowbor descarta
qualquer possibilidade de um debate radicalizado e polarizado. “Nós somos muito grandes
e complexos para ficarmos em um esquemão ideológico estatal ou
privado. Precisamos pensar de maneira diversificada”, sugere e
finaliza.
Ladislau
Dowbor
Ladislau Dowbor no IHU
Ladislau Dowbor é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de
Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP e da Universidade Metodista de São
Paulo – Umesp. Além disso, é consultor de diversas agências das Nações Unidas.
Fonte: IHU - ADITAL
Nenhum comentário:
Postar um comentário