Hoje trago aqui, para o blog Indagações-Zapytania, um excelente artigo, "Bandidagem política",
muito oportuno no momento atual do Brasil. É de autoria do frade dominicano
Marcos Sassatelli.
É muito importante saber o que realmente está ocorrendo no Brasil e não ter medo de falar a verdade em voz alta. Gostei muito de
tudo o que o autor escreve, concordo plenamente e tenho certeza de que isso
expressa a indignação de uma grande parte da sociedade brasileira. Parabéns,
frei Marcos! As suas palavras são a voz do verdadeiro profeta de Deus! Tomara
que essa sua voz chegue aos ouvidos de muita gente que ainda não “acordou”, ou não percebeu ainda o tamanho da malícia do
golpe parlamentar que ocorreu no Brasil.
O texto foi publicado recentemente no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – Adital
08 novembro 2017
Bandidagem política
"Será que Michel Temer e os políticos, seus cúmplices na prática
da corrupção, acreditam na justiça de Deus? Ela não se compra com
dinheiro “legalmente” roubado" escreve Frei Marcos Sassatelli,
frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
e professor aposentado de Filosofia (UFG).
Eis o artigo.
Quando pensamos que já vimos tudo o que podíamos
ver e que não há mais nada a ver a respeito de bandidagem política,
é justamente nesse momento que ficamos surpreendidos com novos fatos. A
esperteza calculista e a perversidade premeditada de políticos e governantes
(graças a Deus, não todos) são de um descaramento e de uma sem-vergonhice tão
grande que não têm limites. São atitudes repugnantes e diabólicas! “Os filhos
das trevas são mais espertos que os filhos da luz” (Lc 16, 8). Hoje, temos
políticos e governantes que são verdadeiros demônios a serviço dos interesses
dos poderosos e dos seus próprios. São os adoradores do deus dinheiro.
A bandidagem política é fruto de
um sistema econômico iníquo, que - diz o Papa Francisco - ninguém aguenta mais e precisamos muda-lo.
“Toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore má produz frutos maus. Uma
árvore boa não pode dar frutos maus e uma árvore má não pode dar frutos bons”
(Mt 7, 17-18).
Como amostras dessa bandidagem política -
entre muitos que poderíamos lembrar - cito somente três fatos, amplamente
divulgados na mídia e nas redes sociais.
Primeiro fato: Empresas
privadas devem R$ 450 bilhões à Previdência. É um crime que clama por justiça diante de Deus.
Essa dívida foi possível - e continua sendo possível - por causa da omissão e
conivência de um Governo (Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário)
covardemente submisso e totalmente conivente com os interesses da classe
dominante. Por exercerem o papel de conivência criminosa com as empresas
privadas, esses políticos e governantes são muito bem remunerados com dinheiro
“legalmente” roubado (as leis estão a serviço dos poderosos) da classe
trabalhadora.
O golpista Michel Temer (mais uma
vez, nego-me a chama-lo de presidente) e seus asseclas - com a maior cara de
pau - vêm a público trazendo dados falsos e dizendo que a Previdência,
do jeito que está, é inviável. Querem enganar o povo e justificar a Contrarreforma
da Previdência, que tem por finalidade acabar com os poucos direitos que os
trabalhadores e trabalhadoras conquistaram a duras penas e com muita luta. Essa
Contrarreforma, que o Governo pretende aprovar, é a decretação da “pena de
morte” para os trabalhadores e trabalhadoras!
Segundo fato: A Portaria
do trabalho escravo nº 1.129, do Ministério do Trabalho. É uma
Portaria retrógrada e perversa, que - como afirma o Ministério Público -
exclui da definição de trabalho escravo quase 90% dos processos.
Que vergonha para o Brasil!
Terceiro fato: A
negociação política para barrar a investigação de duas denúncias criminais
contra o golpista Michel Temer. Essa negociação teve um custo de R$
32,1 bilhões, que também foi pago a políticos inescrupulosos com dinheiro
“legalmente” roubado dos trabalhadores e trabalhadoras.
Reparem: tudo
isso só para impedir a investigação de duas denúncias criminais contra o golpista Michel
Temer. Não se trata ainda de condenação ou absolvição, mas somente de
investigação.
Na realidade, essa maracutaia de Michel
Temer é uma confissão de culpa. Se não fosse culpado, ele - Michel
Temer - seria o primeiro interessado em defender a investigação para -
como se costuma dizer - limpar o seu nome.
Ao invés disso, vemos o despudor do golpista
quando, em pronunciamento no Palácio do Planalto - depois da
votação da 2ª denúncia criminal - afirma que a rejeição do pedido de
investigação pela Câmara dos Deputados é uma “conquista do
Estado”. Vemos ainda sua mesquinhez quando, depois de tomar conhecimento do
resultado da mesma votação, se vinga demitindo pessoas ligadas a políticos que
foram a favor da investigação e que ele chama de “traidores”. Que hipocrisia!
Que perversidade!
Será que Michel Temer e os
políticos, seus cúmplices na prática da corrupção, acreditam na justiça de Deus? Ela não se compra
com dinheiro “legalmente” roubado do povo! Inclusive, Michel Temer não
é mais tão novo e - pelas notícias divulgadas na mídia - parece que Deus
enviou-lhe, justamente nesses dias, uma advertência! É muito bom que pense
nisso enquanto há tempo! Deixo-lhe um aviso: os frutos da bandidagem
política não cabem no caixão. Nele só cabem os frutos da bondade, da
justiça, do amor e de todas as boas ações. Michel Temer e seus asseclas aguardem a justiça de Deus.
Como diz o ditado, ela tarda, mas não falha! Um dia, se não mudarem de vida,
ouvirão as palavras: “Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça”
(Lc 13, 27).
Para mudar esse sistema econômico iníquo (ou dar
passos que levem à mudança) e para combater a bandidagem política,
seu fruto podre mais visível, só há um caminho: a união e organização
(respeitando e valorizando as diferenças) dos trabalhadores e trabalhadoras
nas Organizações de Classe (Sindicatos e Centrais Sindicais),
nas Organizações Sociais (Movimentos Populares e Centrais de
Movimentos Populares) e nas Organizações Políticas (Partidos ou
Correntes de Partidos Populares e Frentes Partidárias Populares). Unidos e
organizados construiremos o Projeto Popular, que é o oposto
do Projeto Neoliberal!
Por fim, um questionamento dentro de casa: Seguindo
Jesus de Nazaré, os e as que somos cristãos e cristãs não deveríamos ser
Profetas e Profetisas da Vida? Os e as que somos religiosos e religiosas não
deveríamos ser radicalmente Profetas e Profetisas da Vida? Por que há tanta
omissão de nossas Igrejas e - muitas vezes - nossa também,
diante da bandidagem política: uma iniquidade estrutural e
sistêmica, que - à luz da Fé - é o Anti-Reino de Deus?
Onde estão, hoje, os Profetas e Profetisas da Vida,
que - doando sua própria vida - anunciam o Reino de Deus, denunciam - sem medo
e com coragem - tudo o que é contrário a esse Reino e lutam para fazê-Lo
acontecer na história do ser humano e do mundo?
Meditemos!
Fonte: IHU - ADITAL
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