“Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e
disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e
ceifas onde não semeaste. Por
isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te
pertence’.
O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu
sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo onde não semeei? Então devias ter depositado meu
dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me
pertence’.” (Mt 25, 24-27)
Hoje, para quem estiver
interessado em entender melhor o texto bíblico Mt 25, 14-30 (Parábola dos Talentos),
trago para o blog Indagações-Zapytania duas reflexões.
A primeira é do padre e
teólogo José Antonio Pagola, que já foi publicada neste espaço no ano 2014 e
pode ser acessada no link: Busca criativa
E a outra, muito interessante, segue agaixo. É o
comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado, publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e
refletir!
WCejnóg
IHU – ADITAL
17 Novembro 2017.
Leitura do Evangelho segundo Mateus Mt 25,13. (Correspondente
ao 32° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti,
Missionária de Cristo
Ressuscitado.
Arrisca teus passos...
Hoje continua a leitura do capítulo 25 do Evangelho
de Mateus, que começou no domingo passado com a parábola das dez virgens,
cinco precavidas e outras cinco insensatas. Nos últimos domingos do Ano
Litúrgico, antes do Advento, os textos Evangélicos nos apresentam diferentes
atitudes para aguardar a vinda do Filho de Deus. Hoje lemos a parábola do
empresário que sai ao estrangeiro e distribui seus talentos, em abundância, a
três empregados.
O homem entrega uma fortuna considerável, se temos
em conta que cada talento, nessa época, equivalia a aproximadamente 26 quilogramas
de prata. O proprietário entrega a cada um uma quantidade diferente. Ele confia
a seus empregados as quantias que, a seu juízo, podem administrar. Ao seu
retorno, recebe a produção que cada um realizou com os bens recebidos.
Somos portadores de diferentes tipos de bens que
nos foram confiados para que administremos. Não importa a quantidade, mas a
importância que tem para cada pessoa é o valor daquilo que recebemos. Temos
consciência disso?
E agora também podemos perguntar qual é nossa
atitude diante deste bem recebido? Pode significar algo muito apreciado, e daí
seu valor, para a pessoa que deposita em nós sua riqueza, aquilo que é
considerado um bem pessoal, que nos confia uma situação determinada.
E Deus foi o primeiro a depositar sua confiança em
nós, sem limites. Ele nos confiou toda sua criação para que nós a cuidemos e
distribuamos de forma equitativa entre todas as pessoas. Ela é nossa casa comum
e assim deve ser preservada e considerada.
Na Encíclica Laudato
Si: cuidado da Casa Comum (maio de
2015), o Papa Francisco relê as narrações da Bíblia e articula a
“tremenda responsabilidade” (90) do ser humano diante da criação, o elo íntimo
entre todas as criaturas e o fato de que “o meio ambiente é um bem coletivo,
patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos” (95). Nela,
apresenta a necessidade de enfrentar vários aspectos da atual crise ecológica,
(15) como nas mudanças climáticas, que “são um problema global com graves
implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas,
constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade” (25).
Porque se “o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos” (23), Deus
confiou sua criação à nossa responsabilidade pessoal e social para que seja
equitativo para todas as pessoas que moram nesta terra.
E, junto com esta riqueza, fomos marcados com a
grandeza do seu amor. Ele nos confia seu tesouro, como disse Paulo, de sermos
seus filhos e filhas amados. Como disse Paulo aos Coríntios, “Pois
o Deus que disse: ‘Do meio das trevas brilhe a luz’!, foi ele mesmo que reluziu
em nossos corações para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que
resplandece na face de Cristo. Todavia, esse tesouro nós o levamos em vasos de
barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e
não é propriedade nossa” (2Cor 4, 6-7).
O fato de confiar a uns mais e a outros menos talentos
não significa amar a uns mais que a outros: uma parábola deve ser considerada
não em suas particularidades, mas como um todo e dentro do contexto geral do
Evangelho.
A diversa quantidade de talentos distribuídos
sublinha a ideia de que somos diferentes, devendo, por isso mesmo,
complementar-nos, como bem nos ensina Paulo a respeito da diversidade dos dons
e dos carismas (cf 1 Cor 12).
Na parábola, o problema se apresenta com a diversa
atitude diante dos talentos recebidos. O primeiro apresenta-se diante do
administrador com o dobro do que foi recebido. E o segundo empregado também.
Mas o terceiro tem uma atitude totalmente diferente: “Senhor, eu sei
que tu és um homem severo, pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não
semeaste. Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens
o que te pertence”.
Ele acha que conhece seu senhor e por isso ficou
com medo e escondeu o talento. Ele fica dominado pelo medo, considerando que
está fazendo o correto. Não se anima aarriscar à procura de outra coisa, acha
melhor enterrar o talento, aquilo que lhe foi confiado e o devolve
aparentemente intacto, mas ele não fez nada!
O medo de arriscar paralisou-o, levando-o a ocultar
numa cova o talento recebido. Ele escolheu a segurança do mais fácil, tentando
convencer-se de que era o melhor, e para isso muda a ideia do seu senhor e
apresenta-o como uma pessoa que é muito exigente e, além disso, que “colhe onde
não semeou”. Quase uma pessoa injusta, digna de se ter medo. Ele não ama,
porque amar é comprometer-se, tentar, expor-se, estar disposto a dar a vida,
não omitir-se!
Ele tem medo de ser livre e ter
que tomar as decisões próprias de uma pessoa livre, ele enterra seu talento como
enterra os dons recebidos e omite a confiança que lhe é depositada. Escolhe a
comodidade que lhe traz segurança aparente, mas que não frutifica em nada.
Nesta parábola Jesus nos ensina
uma vez mais a não ficar numa atitude cautelosa, medida, seja no plano
religioso, social, político ou econômico.
Também me é dirigido o
convite a dispor livremente de minha vida a serviço de Deus e do próximo. Qual
é a minha resposta?
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