Acho
muito atual e interessante a reportagem “O
mundo mantido pelos pobres”, do italiano Furio Colombo, que analisa com
olhar crítico a situação econômica, política e social no sentido global, hoje
praticamente subjugada e controlada pelos interesses dos grandes ‘donos’ do
mundo, isto é, dos donos do mercado econômico mundial. A reportagem, na verdade, apenas explicita a
realidade que é um fato conhecido por todos, mas da qual não se fala e não se
denuncia com a devida urgência, pois seria ‘politicamente incorreto’ – obviamente,
de acordo com o desejo desses ‘donos’ do mundo. O fato é que sempre são os mais
pobres que pagam mais. Do bolo cada vez maior, que eles produzem, sobra uma
fatia cada vez menor para ser dividida por eles, que são cada vez mais
numerosos. A globalização, inclusive, serve, de fato, muito bem para esses
poucos ‘ricos’, em detrimento das masas exploradas.
A
reportagem foi publicada por Il Tatto Cotidiano, na Itália, e posteriormente também
no site do Instituto humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
- ADITAL
13
Novembro 2017.
O
mundo mantido pelos pobres
Os
imensos montantes de riquezas enormes colocadas em segurança nos "paraísos fiscais"
com uma ampla cooperação técnica, política, econômica, daqueles que
consideramos líderes ou classe dominante, são a prova de que o mundo é
sustentado pelos pobres.
Aparentemente,
os sistemas de tributação são mais pesados para alguns e mais
leves para outros de acordo com a proporção da renda. Porém, a realidade é
exatamente o contrário. Nas médias, pequenas e modestas remunerações do
trabalho a taxação é um peso social, é um rombo na luta para sobreviver, que se
torna mais insuportável para os trabalhadores mais pobres. Mas um sistema inexorável de controle não deixa saída para
todo o universo do trabalho subordinado.
A reportagem é de Furio Colombo, jornalista, escritor e político italiano, em artigo publicado por Il Fatto Cotidiano, 12-11-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
A reportagem é de Furio Colombo, jornalista, escritor e político italiano, em artigo publicado por Il Fatto Cotidiano, 12-11-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Reportagem
As Forças Armadas, escolas, hospitais e estradas são financiados pela porção pobre do mundo, cada um com o pouco de dinheiro que seria necessário para chegar ao fim do mês, ou com a metade de um salário que permitiria um modesto conforto.
As Forças Armadas, escolas, hospitais e estradas são financiados pela porção pobre do mundo, cada um com o pouco de dinheiro que seria necessário para chegar ao fim do mês, ou com a metade de um salário que permitiria um modesto conforto.
Fora desses limites, começa o truque da tributação da riqueza, seja esta de empresas, de trocas ou de renda, que dispõe de numerosos e criativos ‘paradouros’ onde podem aguardar enquanto são estudadas rotas de fuga, dispondo de tempo e liberdade que jamais seriam concedidos à renda do trabalho. Eles nos explicaram a estratégia.
Uma
atitude benevolente e relativamente tolerante em relação ao capital,
incentiva uma parte dos grandes pagamentos que, de outra forma, poderiam nunca
vir a acontecer. Nessa fase (que parece a batalha final de defesa da riqueza,
mas, ao contrário, diz respeito a uma série de expedientes para manter ocupada
e dividir a política até que quase todos, exceto alguns fora do jogo, sejam
convencidos de que, com jeito, algo sempre se obtém, e que algo é melhor do que
nada) alteram-se os papéis dos protagonistas do cenário social.
Os trabalhadores tornam-se reféns. "Sentimos muito, mas teremos que fechar e demitir todos se não aceitarem as nossas exigências". Ou também: "É necessário um corte de uma parcela do pessoal, caso contrário, não poderemos reequilibrar a empresa e não teremos condições de manter os pagamentos". Fala-se de impostos e, portanto, os governos ficam alerta. Acontece que os ministros do trabalho participam (às vezes junto com os sindicatos) na preparação das listas de reféns a serem oferecidos, alguns milhares de vítimas para o bem de todos, um ritual de sacrifício que se repete infinitas vezes. Os políticos se tornam cobradores de impostos. E precisam ser cobradores de impostos implacáveis com o trabalho, do qual deve ser exigido até o último centavo, e adicionam as taxas escondidas dos programas de governo e dos aumentos repentinos das tarifas (eletricidade, transporte), mas são respeitosos com as empresas, caso contrário colecionariam dados e avaliações econômicas que não favoreceriam as reeleições.
Alguns intelectuais (especialistas em sociologia e no trabalho) assumem espontaneamente o papel daqueles prisioneiros que agiam como comediantes nos campos de extermínio: explicam-te que chegou a vez dos robôs e não há mais necessidade de trabalhadores. Contam que você precisa aprender o benéfico tempo livre, e que isso não é tão ruim. Sugerem um slogan popular em tempos completamente diferentes: "Trabalhar menos, para ter trabalho para todos".
Os economistas fazem vista grossa e, quando podem, nem levantam os olhos para ver onde se escondem as grandes riquezas. São médicos militares que se prestam a declarar "aptos ao serviço" homens e mulheres por compensações cada vez menores. Enquanto isso, chegam os números da riqueza transferida para algum lugar que não faz mais parte do que chamamos de "Estados" ou de "a sociedade".
Eles nos contam que evaporou 10 por cento, 20 por cento, 30 por cento do PIB mundial. Você obrigatoriamente precisa tirar algumas consequências. A primeira é que se trata, na realidade, de valores muito mais elevados, porque se esse sistema de separação dos mundos funciona, não é razoável pensar que exista alguma continência e propensão para dizer "agora basta." Subtrair tudo parece um projeto possível.
A segunda consequência é que todas as contas do mundo são falsas e que agora se explica, de forma antiquada, quase como um conto de fadas, a frase que precede tantos sacrifícios: "Acabou o dinheiro" ou "antes era possível, hoje não mais".
A terceira consequência é que, depois de tamanho roubo, não
corrigível e nem punível, a não ser com graves juízos morais, não é mais
possível continuar a política como antes. E os economistas devem parar de
ignorar o tremendo rabisco que muda o sentido dos seus tratados. Tudo, em
condições extremamente difíceis, deve recomeçar desde o início. Deduzindo as
enormes perdas, mas deixando de colocá-las a cargo dos pobres.
Fonte: IHU - ADITAL
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