“Pois Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele.”
(Jo 3, 17)
A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania,
do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito atual e bem concreta.
Tem como
pano de fundo o texto bíblico Jo 3,14-21 (diálogo de Jesus com Nicodemos).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Muito
boa. Vale a pena ler.
WCejnóg
IHU – ADITAL
09 Março 2018
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,14-21 que
corresponde ao Quarto Domingo da Quaresma, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto
Pode parecer uma observação
excessivamente pessimista, mas o certo é que as pessoas são capazes de
viver longos anos sem ter ideia do que está acontecendo em nós. Podemos
continuar a viver dia após dia sem querer ver o que na verdade move a nossa
vida e quem é que dentro de nós toma realmente as decisões.
Não é ignorância ou falta de
inteligência. O que ocorre é que, de forma mais ou menos consciente, intuímos
que nos vermos com mais luz nos obrigaria a mudar. Uma e outra vez parece
cumprir-se em nós aquelas palavras de Jesus: “O que pratica o mal detesta a luz
e a afasta, porque tem medo de que a sua conduta seja descoberta”. Assusta
nos vermos tal como somos. Sentimo-nos mal quando a luz penetra na nossa vida.
Preferimos continuar cegos, alimentando dia a dia novos enganos e ilusões.
O mais grave é que pode chegar um
momento em que, estando cegos, acreditemos que vemos tudo com claridade e
realismo. Que fácil é então viver sem conhecer-se a si mesmo nem se perguntar nunca: “Quem
sou eu?”. Acreditar ingenuamente que
eu sou essa imagem superficial que tenho de mim mesmo, fabricada de
recordações, experiências, medos e desejos.
Que fácil também acreditar que a
realidade é justamente tal como eu a vejo,
sem ser consciente de que o mundo exterior que eu vejo é, em boa parte, reflexo
do mundo interior que vivo e dos desejos e interesses que alimento. Que fácil
também nos acostumarmos a tratar não com pessoas reais, mas com a imagem ou
etiqueta que delas me construí eu mesmo.
Aquele grande escritor que foi Hermann
Hesse, no seu pequeno livro Meu credo, cheio de sabedoria, escrevia: “O
homem que contemplo com temor, com esperança, com cobiça, com propósitos, com
exigências, não é um homem, é só um turvo reflexo da minha vontade”.
Provavelmente, na hora de querer
transformar a nossa vida orientando os nossos passos por caminhos mais nobres,
o mais decisivo não é o esforço por mudar. O primeiro é abrir os olhos. Perguntar-me
que procuro na vida. Ser mais consciente dos interesses que movem a minha
existência. Descobrir o motivo último do meu viver diário.
Podemos tomar-nos um tempo para
responder a esta pergunta: por que fujo tanto de mim mesmo e de Deus? Por
que, em definitivo, prefiro viver enganado sem procurar a luz? Temos de escutar
as palavras de Jesus: “Aquele que atua conforme a verdade aproxima-se da luz,
para que se veja que tudo o que faz está inspirado por Deus”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário