Abaixo, mais dois textos
que expressam o ponto de vista de Albert Einstein* – um dos mais notáveis físicos,
que o mundo já teve.
Ao conhecer melhor as pessoas,
é mais fácil respeitá-las, compreendê-las e assim demolir os muros de
preconceitos e paradigmas, frequentemente construídos por homens dos dois
lados. Estou me referindo às relações entre a ciência e a religião e de seus
representantes.
Os texto encontram-se no
livro “Como vejo o mundo”, escrito por Albert Einstein.
WCejnóg
SOBRE A VERDADE CIENTÍFICA
1. A
expressão “verdade científica” não se explica facilmente por uma palavra exata.
A significação da palavra verdade varia tanto, quer se trate de uma experiência
pessoal, de uma proposição matemática ou de uma teoria de ciência experimental.
Então não posso absolutamente traduzir em linguagem clara a expressão “verdade
religiosa”.
2. Por despertar a ideia de causalidade e de
síntese, a pesquisa científica pode fazer regredir a superstição. Reconheçamos,
no entanto, na base de todo o trabalho científico de alguma
envergadura, uma convicção bem comparável ao
sentimento religioso, porque aceita um mundo baseado na razão, um mundo
inteligível!
3. Esta convicção,
ligada ao sentimento profundo de uma razão superior, desvendando-se no mundo da
experiência, traduz para mim a ideia de Deus. Em palavras simples, poder-se-ia
traduzir, como Spinoza, pelo termo “panteísmo”.
4. Não posso
considerar as tradições confessionais a não ser pelo ponto de vista da história
ou da psicologia. Não tenho outra relação possível com elas.
A RESPEITO DA
DEGRADAÇÃO DO HOMEM DE CIÊNCIA
Qual a meta que deveríamos escolher para nossos
esforços? Será o conhecimento da verdade ou, em termos mais modestos, a
compreensão do mundo experimental, graças ao pensamento lógico coerente e
construtivo? Será a subordinação de nosso conhecimento racional a qualquer
outro fim, digamos, por exemplo, “prático”? O pensamento por si só não pode
resolver este problema. Em compensação, a vontade determina sua influência
sobre nosso pensamento e nossa reflexão, com a condição evidentemente de que
esteja possuída por inabalável convicção. Vou lhes fazer uma confidência muito
pessoal: o esforço pelo conhecimento representa uma dessas metas independentes,
sem as quais, para mim, não existe uma afirmação consciente da vida para o
homem que declara pensar.
O esforço para o
conhecimento, por sua própria natureza, no impele ao mesmo tempo para a
compreensão da extrema variedade da experiência e para o domínio da simplicidade
econômica das hipóteses fundamentais. O acordo final desses objetivos, no
primeiro momento de nossas pesquisas, revela um ato de fé. Sem esta fé, a
convicção do valor independente do conhecimento não existiria, coerente e
indestrutível.
Esta atitude profundamente religiosa do homem de
ciência em face da verdade repercute em toda a sua personalidade. Com efeito,
em dois setores os resultados da experiência e as leis do pensamento se dirigem
por si mesmos. Portanto o pesquisador, em princípio, não se fundamenta em nenhuma
autoridade cujas decisões ou comunicações poderiam pretender à verdade. Daí o
seguinte violento paradoxo: Um homem entrega sua energia inteira a experiências
objetivas e se transforma, quando encarado em sua função social, em um
individualista extremo que, pelo menos teoricamente, só tem confiança no
próprio julgamento.
Quase se poderia
dizer que o individualismo intelectual e a pesquisa científica nascem juntos
historicamente e depois nunca mais se separam.
Ora, assim apresentado,
que é o homem de ciência a não ser simples abstração, invisível no mundo real,
mas comparável ao homo oeconomicus da economia clássica? Ora, na realidade, a ciência
concreta, a de nosso cotidiano, jamais teria sido criada e mantida viva, se
este homem de ciência não houvesse aparecido, pelo menos em grandes linhas, em
grande número de indivíduos e durante longos séculos.
É claro, não
considero automaticamente um homem de ciência aquele que sabe manejar instrumentos
e métodos julgados científicos. Penso somente naqueles cujo espírito se revela verdadeiramente
científico.
No momento atual, em que situação no corpo
social da humanidade se encontra o homem de ciência? Em certa medida, pode
felicitar-se de que o trabalho de seus contemporâneos tenha radicalmente
modificado, ainda que de modo muito indireto, a vida econômica por ter
eliminado quase inteiramente o trabalho muscular. Mas sente-se também
desanimado, já que os resultados de suas pesquisas provocaram terrível ameaça
para a humanidade. Porque esses resultados foram apropriados pelos
representantes do poder político, estes homens moralmente cegos. Percebe também
a terrível evidência da fenomenal concentração econômica engendrada pelos
métodos técnicos provindos de suas pesquisas. Descobre então que o poder
político, criado sobre essas bases, pertence a ínfimas minorias que governam à
vontade, e completamente, uma multidão anônima, cada vez mais privada de
qualquer reação. Mais terrível ainda se lhe impõe outra evidência. A concentração
do poder político e econômico nas mãos de tão poucas pessoas não acarreta
somente a dependência material exterior do homem de ciência, ameaça ao mesmo
tempo sua existência profunda. De fato, pelo aperfeiçoamento de técnicas
requintadas para dirigir uma pressão intelectual e moral, ela impede o
aparecimento de novas gerações de seres humanos de valor, mas independentes.
Hoje, o homem de
ciência se vê verdadeiramente diante de um destino trágico. Quer e deseja a
verdade e a profunda independência. Mas, por estes esforços quase
sobre-humanos, produziu exatamente os meios que o reduzem exteriormente à
escravidão e que irão aniquilá-lo em seu íntimo. Deveria autorizar aos
representantes do poder político que lhe ponham uma mordaça. E como soldado,
vê-se obrigado a sacrificar a vida de outrem e a própria, e está convencido de
que este sacrifício é um absurdo. Com toda a inteligência desejável, compreende
que, num clima histórico bem condicionado, os Estados fundados sobre a ideia de
Nação encarnam o poder econômico e político e, por conseguinte, também o poder
militar, e que todo este sistema conduz inexoravelmente ao aniquilamento
universal.
Sabe que, com os
atuais métodos de poder terrorista, somente a instauração de uma ordem jurídica
supranacional pode ainda salvar a humanidade. Mas é tal a evolução, que suporta
sua condenação à categoria de escravo como inevitável. Degrada-se tão profundamente
que continua, a mandado, a aperfeiçoar os meios destinados à destruição de seus
semelhantes.
Estará realmente o
homem de ciência obrigado a suportar este pesadelo? Terá definitivamente passado
o Tempo em que sua liberdade íntima, seu pensamento independente e suas
pesquisas podiam iluminar e enriquecer a vida dos homens? Teria ele se
esquecido de sua responsabilidade e sua dignidade, por ter seu esforço se
exercido unicamente na atividade intelectual? Respondo: sim, pode-se aniquilar um homem interiormente livre e que vive segundo
sua consciência, mas não se pode reduzi-lo ao estado de escravo ou de
instrumento cego.
Se o cientista contemporâneo encontrar tempo e
coragem para julgar a situação e sua responsabilidade, de modo pacífico e
objetivo, e se agir em função deste exame, então as perspectivas de uma solução
racional e satisfatória para a situação internacional de hoje,
excessivamente perigosa, aparecerão profunda e
radicalmente transformadas.
Fonte: EINSTEIN Albert. Como vejo o mundo. Ed. Especial (Saraiva de bolso). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011, p. 196-200
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Albert Einstein
Físico alemão
Por Dilva Frazão
Albert Einstein (1879-1955) foi um
físico e matemático alemão. Entrou para o rol dos maiores gênios da humanidade
ao desenvolver a Teoria da Relatividade. Estabeleceu a relação entre massa e
energia e formulou a equação que se tornou a mais famosa do mundo: E = mc². Em
1921, recebeu o Prêmio Nobel de Física, por suas descobertas sobre a lei dos
efeitos fotoelétricos.
Albert Einstein (1879- 1955) nasceu
em Ulm, na Alemanha, em 14 de março, era filho de família judaica, não
praticante. Em 1880 a família muda-se para Munique. Iniciou aulas de violino
com seis anos de idade. Estudou o primário numa escola católica. Aos dez anos
de idade ingressou no Gymnasiun, se preparando para a universidade. Entrou para
a Escola Politécnica Federal da Suíça, onde, em 1900, conclui a graduação em
Física. Em 1901 escreveu seu primeiro artigo científico "A Investigação do
Estado do Éter em Campo Magnético".
Em fevereiro deste mesmo ano recebeu a naturalização suíça. Em 6 de
janeiro de 1903 casou-se com Mileva Maric, com quem teve três filhos.
Em 1905, formulou a teoria da
relatividade especial, que conduziria à libertação da energia atômica. Nesse
mesmo ano, remeteu para a “Revista Anais de Física”, Alemanha, os quatro
artigos que se tornariam fundamentais para a Física Moderna. Depois da
publicação dos artigos seu talento foi reconhecido. Em 1909, com 30 anos,
tornou-se professor na Universidade de Zurique e no ano seguinte lecionou na
Universidade de Praga. Em 1912 ocupou a cadeira de Física, da Escola
Politécnica Federal da Suíça. Em 1913, foi nomeado professor para a
Universidade de Berlim e diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Física. Torna-se
membro da Academia de Ciências da Prússia.
Em 25 de novembro de 1915, ele subiu
ao palco da Academia de Ciências da Prússia e declarou ter concluído sua
exaustiva pesquisa de uma década em busca de um entendimento novo e mais
profundo da gravidade. A Teoria da Relatividade Geral, afirmou Einstein,
estava pronta. A nova e radical visão das interações entre o espaço, o tempo, a
matéria, a energia e a gravidade foi um feito reconhecido como uma das maiores
conquistas intelectuais da humanidade. Em 1921, recebe o Prêmio Nobel de Física
por suas descobertas sobre a lei dos efeitos fotoelétricos, publicada em um dos
quatro artigos revolucionários que divulgou em 1905.
Em 1925, entre os meses de março e
maio, Einstein esteve na América do Sul. Foi à Argentina para uma série de
compromissos, esteve em Montevidéu e no dia 4 de maio chegou ao Rio de Janeiro,
então capital do Brasil, sendo recebido pelo presidente Artur Bernardes. Entre
outros compromissos, visitou o Jardim Botânico, o Observatório Nacional, o
Museu Nacional e o Instituto Oswaldo Cruz.
Além da ciência, Einstein também
dedicou parte de seu tempo a assuntos políticos. Humanista convicto, lutou pela
paz mundial e pela justiça social e a liberdade. Na década de 20 atuou em
movimentos ati-guerra. Em 1932 partiu de Berlim para uma visita à Califórnia,
pois sabia que em breve o nazismo controlaria toda a Alemanha.
Em 1933 renunciou seus cargos em
Berlim, retornou para os Estados Unidos e ingressou no Instituto de Estudos
Avançados de Princeton. Em 1940 ganhou cidadania norte-americana. Em 1945
encerrou sua carreira em universidades. Em 1946 apoiou projetos de formação de
um governo mundial e a troca de segredos entre as grandes potências atômicas,
almejando a paz mundial.
Albert Einstein faleceu em Princeton,
Estados Unidos, no dia 18 de abril de 1955.
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