“Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo
na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua
vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida
eterna.” (Jo 12, 24-25)
Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta, que tem
como pano de fundo o texto bíblico Jo 12,
20-33 (Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de
sua vida neste mundo a conservará para a vida eterna). É de autoria do padre e teólogo
espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
WCejnóg
IHU – ADITAL
16 Março 2018.
Confiança absoluta
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é
o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 12, 20-33 que
corresponde ao Quinto Domingo da Quaresma, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
A nossa vida decorre, no geral, de forma bastante
superficial. Poucas vezes nos atrevemos a entrarmos em nós mesmos.
Produz-nos uma espécie de vertigem aproximar-nos da nossa interioridade. Quem é
esse estranho que descubro dentro de mim, cheio de medos e interrogações,
faminto de felicidade e farto de problemas, sempre em busca e sempre
insatisfeito?
Que postura adotar ao contemplar em nós essa
mistura estranha de nobreza e miséria, de grandeza e pequenez, de finitude e
infinitude? Tentamos entender o desconcerto de Santo Agostinho,
que, questionado pela morte do seu melhor amigo, reflexiona sobre a sua
vida: «Converti-me num grande enigma para mim mesmo».
Há uma primeira postura possível. Chama-se resignação,
e consiste em nos contentarmos com o que somos. Instalar-nos na nossa pequena
vida de cada dia e aceitar a nossa finitude. Naturalmente, para isso
temos de abafar qualquer rumor de transcendência. Fechar os olhos a
qualquer sinal que nos convide a olhar para o infinito. Permanecer surdos a
todas as chamadas provenientes do Mistério.
Há outra atitude possível ante a encruzilhada da
vida. A confiança absoluta. Aceitar na nossa vida a presença
salvadora do Mistério. Abrir-nos a ela do mais fundo do nosso ser. Acolher
a Deus como raiz e destino do nosso ser. Acreditar na salvação que se
nos oferece.
Só desde essa confiança plena em Deus Salvador se
entendem essas desconcertantes palavras de Jesus: «Quem vive preocupado com a
sua vida a perderá; pelo contrário, quem não se agarre excessivamente a ela a
conservará para a vida eterna». O decisivo é abrir-nos
confiadamente ao Mistério de um Deus que é Amor e Bondade insondáveis.
Reconhecer e aceitar que somos seres «gravitando em torno a Deus, nosso Pai.
Como dizia Paul Tillich, «aceitar ser aceitos por Ele».
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