“Quando
o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como
Jesus havia expirado, disse: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus!’”
(Mc 15,39)
Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e atual, do padre e teólogo
espanhol José Antonio Pagola, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mc 14,1
- 15,47 (Paixão de Jesus).
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
23 Março 2018.
Identificando-se com as vítimas
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 14,1-15,47 que corresponde
ao Domingo de Ramos, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Nem o poder de Roma nem as autoridades do Templo
puderam suportar a novidade de Jesus. A Sua forma
de entender e de viver Deus era perigosa. Não defendia o Império de Tibério,
chamava a todos para procurar o reino de Deus e a Sua justiça. Não lhe
importava quebrar a lei do sábado nem as tradições religiosas, só lhe
preocupava aliviar o sofrimento das pessoas doentes e desnutridas da Galileia.
Não o perdoaram. Identificava-se demasiado
com as vítimas inocentes do Império e com os esquecidos pela religião do Templo.
Executado sem piedade numa cruz, Nele se nos revela agora Deus, identificado
para sempre com todas as vítimas inocentes da história. Ao grito de todos eles
se une agora o grito de dor do mesmo Deus.
Nesse rosto desfigurado do Crucificado revela-se
um Deus surpreendente, que quebra as nossas imagens convencionais de Deus e
coloca em questão toda prática religiosa que pretenda dar-lhe culto esquecendo
o drama de um mundo onde se continua a crucificar os mais débeis e indefesos.
Se Deus morreu identificado com as vítimas, a Sua
crucificação converte-se num desafio inquietante para os seguidores de Jesus.
Não podemos separar Deus do sofrimento dos inocentes. Não podemos
adorar o Crucificado e viver de costas ao sofrimento de tantos seres humanos
destruídos pela fome, pelas guerras ou pela miséria.
Deus continua a interpelar-nos desde os
crucificados dos nossos dias. Permite-nos continuar a viver como
espectadores desse sofrimento imenso alimentando uma ingênua ilusão de
inocência. Temos de rebelar-nos contra essa cultura do esquecimento que nos
permite isolarmos dos crucificados, deslocando o sofrimento injusto que há no
mundo para um «afastamento» onde desaparece todo o clamor, gemido ou choro.
Não podemos encerrar-nos na nossa
«sociedade de bem-estar», ignorando essa outra «sociedade do mal-estar» em
que milhões de seres humanos nascem só para se extinguir aos poucos anos de uma
vida que só foi de sofrimento. Não é humano nem cristão instalar-nos na
segurança, esquecendo a quem só conhece uma vida insegura e ameaçada.
Quando os cristãos levantamos os nossos olhos até
ao rosto do Crucificado, contemplamos o amor insondável de Deus, entregue até à
morte para a nossa salvação. Se olharmos mais detidamente, depressa
descobrimos nesse rosto o de tantos outros crucificados que, longe ou perto de
nós, estão reclamando o nosso amor solidário e compassivo.
Fonte: IHU –Comentário do Evangelho
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