Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 23 de março de 2018

Identificando-se com as vítimas. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



Quando o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus!’”  (Mc 15,39)

Domingo de Ramos

Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e atual, do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mc 14,1 - 15,47  (Paixão de Jesus).
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
WCejnóg



IHU – ADITAL
23 Março 2018.

Identificando-se com as vítimas

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 14,1-15,47 que corresponde ao Domingo de Ramos, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 


Eis o texto

Nem o poder de Roma nem as autoridades do Templo puderam suportar a novidade de Jesus. A Sua forma de entender e de viver Deus era perigosa. Não defendia o Império de Tibério, chamava a todos para procurar o reino de Deus e a Sua justiça. Não lhe importava quebrar a lei do sábado nem as tradições religiosas, só lhe preocupava aliviar o sofrimento das pessoas doentes e desnutridas da Galileia.

Não o perdoaram. Identificava-se demasiado com as vítimas inocentes do Império e com os esquecidos pela religião do Templo. Executado sem piedade numa cruz, Nele se nos revela agora Deus, identificado para sempre com todas as vítimas inocentes da história. Ao grito de todos eles se une agora o grito de dor do mesmo Deus.

Nesse rosto desfigurado do Crucificado revela-se um Deus surpreendente, que quebra as nossas imagens convencionais de Deus e coloca em questão toda prática religiosa que pretenda dar-lhe culto esquecendo o drama de um mundo onde se continua a crucificar os mais débeis e indefesos.

Se Deus morreu identificado com as vítimas, a Sua crucificação converte-se num desafio inquietante para os seguidores de Jesus. Não podemos separar Deus do sofrimento dos inocentes. Não podemos adorar o Crucificado e viver de costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, pelas guerras ou pela miséria.

Deus continua a interpelar-nos desde os crucificados dos nossos dias. Permite-nos continuar a viver como espectadores desse sofrimento imenso alimentando uma ingênua ilusão de inocência. Temos de rebelar-nos contra essa cultura do esquecimento que nos permite isolarmos dos crucificados, deslocando o sofrimento injusto que há no mundo para um «afastamento» onde desaparece todo o clamor, gemido ou choro.

Não podemos encerrar-nos na nossa «sociedade de bem-estar», ignorando essa outra «sociedade do mal-estar» em que milhões de seres humanos nascem só para se extinguir aos poucos anos de uma vida que só foi de sofrimento. Não é humano nem cristão instalar-nos na segurança, esquecendo a quem só conhece uma vida insegura e ameaçada.

Quando os cristãos levantamos os nossos olhos até ao rosto do Crucificado, contemplamos o amor insondável de Deus, entregue até à morte para a nossa salvação. Se olharmos mais detidamente, depressa descobrimos nesse rosto o de tantos outros crucificados que, longe ou perto de nós, estão reclamando o nosso amor solidário e compassivo.




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