“Como se aproximava a festa da Páscoa dos judeus, Jesus foi a
Jerusalém. No templo encontrou homens a vender bois, ovelhas, pombas, e os
cambistas sentados às suas bancas. Ao ver isto, Jesus fez com umas cordas um
chicote e expulsou do templo toda aquela gente com as ovelhas e os bois. Deitou
por terra o dinheiro dos cambistas e virou-lhes as mesas. Depois disse aos que
vendiam pombas: <Tirem tudo isto daqui! Não façam da casa de meu Pai uma casa
de negócio!>." (Jo 2,13-16)
Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e bem
atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 2, 13-25 (Jesus expulsa os vendilhões do Templo). É de autoria
do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
WCejnóg
IHU - ADITAL
02Março 2018
O culto ao dinheiro
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo João 2,13-25 que corresponde
ao Terceiro Domingo da Quaresma, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Há algo alarmante na nossa sociedade que nunca
denunciaremos o bastante. Vivemos numa civilização que tem como eixo de
pensamento e critério de atuação a secreta convicção de que o
importante e decisivo não é o que um é, mas o que um tem. Diz-se que o
dinheiro é «o símbolo e ídolo da nossa civilização» (Miguel Delibes). E de fato
são maioria os que lhe rendem seu ser e lhe sacrificam toda a sua vida.
John K. Galbraith, o grande
teórico do capitalismo moderno, descreve assim o poder do dinheiro na sua
obra The Affluent Society: o dinheiro «traz consigo três vantagens
fundamentais: primeiro, o gozo do poder que presta ao homem; segundo, a posse
real de todas as coisas que se podem comprar com dinheiro; terceiro, o
prestígio ou respeito de que goza o rico graças à sua riqueza».
Quantas pessoas, sem atrever-se a confessá-lo,
sabem que na sua vida, num grau ou outro, o decisivo, o importante e
definitivo, é ganhar dinheiro, adquirir um bem-estar material,
conseguir um prestígio econômico.
Aqui está sem dúvida uma das quebras mais graves da
nossa civilização. O homem ocidental se fez em boa parte materialista e, apesar
das suas grandes proclamações sobre a liberdade, a justiça ou a
solidariedade, apenas acredita em outra coisa que não seja no dinheiro.
E, no entanto, há pouca gente feliz.
Com dinheiro pode-se montar uma casa agradável, mas não criar um lar cálido.
Com dinheiro pode-se comprar uma cama cômoda, mas não um sono tranquilo. Com
dinheiro pode-se adquirir novas relações, mas não despertar uma verdadeira
amizade. Com dinheiro pode-se comprar prazer, mas não felicidade. Mas o crente
deve recordar algo mais. O dinheiro abre todas as portas, mas nunca
abre a porta do nosso coração a Deus.
Não estamos acostumados, os cristãos, à imagem
violenta de um Messias fustigando as pessoas. E, no entanto, essa é a reação de
Jesus ao encontrar-se com homens que, inclusive no templo, não sabem procurar
outra coisa que não seja o seu próprio negócio.
O templo deixa de ser lugar de encontro com o Pai
quando a nossa vida é um mercado onde só se presta culto ao dinheiro. E não
pode haver uma relação filial com Deus Pai quando as nossas relações com os
outros estão mediatizadas só pelo interesse do dinheiro.
Impossível entender algo do amor, da ternura e do
acolhimento de Deus quando um só vive procurando o bem-estar. Não se
pode servir a Deus e ao Dinheiro.
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