Abaixo, uma reflexão muito concreta e bem atual,
que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 20, 19-31 (Jesus disse a Tomé: “Porque
me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.”). É de autoria do padre e teólogo
espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
06 Abril 2018.
Agnósticos
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-31 que
corresponde ao Segundo Domingo da Páscoa ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Poucos
nos ajudaram tanto como Christian Chabanis a conhecer a atitude
do homem contemporâneo ante Deus. As suas famosas entrevistas são um
documento imprescindível para saber o que pensam hoje os cientistas e os
pensadores mais reconhecidos acerca de Deus.
Chabanis confessa que, quando iniciou as suas
entrevistas aos ateus mais prestigiosos dos nossos dias, pensava encontrar
neles um ateísmo rigoroso e bem fundamentado. Na realidade encontrou-se com
que, detrás de graves profissões de lucidez e honestidade intelectual,
escondia-se com frequência “uma absoluta ausência de procura da
verdade”.
Não
surpreende a constatação do escritor francês, pois algo semelhante
sucede entre nós. Grande parte dos que renunciam a acreditar em Deus
fazem-no sem ter iniciado nenhum esforço para procurá-Lo. Penso sobretudo em
tantos que se confessam agnósticos, por vezes de forma ostensiva, quando na
realidade estão muito longe de uma verdadeira postura agnóstica.
O
agnóstico é uma pessoa que se coloca o problema de Deus e, ao não encontrar
razões para acreditar Nele, suspende o julgamento. O agnosticismo é uma procura
que termina em frustração. Só depois de ter procurado adota o agnóstico a sua
postura: “Não sei se existe Deus. Eu não encontro razões nem para
acreditar Nele nem para não acreditar”.
A
postura mais generalizada hoje consiste simplesmente em desentender-se
da questão de Deus. Muitos dos que se chamam agnósticos são, na realidade,
pessoas que não procuram. Xavier Zubiri diria que são vidas “sem vontade de
verdade real”. Resulta-lhes indiferente que Deus exista ou não exista. É-lhes
igual que a vida termine aqui ou não. A eles é suficiente com
“deixar-se viver”, abandonar-se “ao que fosse”, sem aprofundar no mistério
do mundo e da vida.
Mas,
é essa a postura mais humana ante a realidade? Poderá apresentar-se como
progressista uma vida em que está ausente a vontade de procurar a verdade
última da nossa vida? Pode-se afirmar que essa é a única atitude legítima de
tudo? Pode-se afirmar que é essa a única atitude legítima de honestidade
intelectual? Como pode um saber que não é possível acreditar se nunca
se procurou Deus?
Querer
manter-se nessa “postura neutral” sem decidir-se a favor ou contra da fé
é já tomar uma decisão. A pior de todas, pois equivale a renunciar
a procurar uma aproximação ao mistério último da realidade.
A
postura de Tomé não é a de um agnóstico indiferente, mas a de quem procura
reafirmar a sua fé na própria experiência. Por isso, quando se encontra com
Cristo, abre-se confiadamente a Ele: “Senhor meu e Deus meu”. Quanta verdade
encerram as palavras de Karl Rahner: “É mais fácil deixar-se
afundar no próprio vazio que no abismo do mistério santo de Deus, mas
não supõe mais coragem nem tampouco mais verdade. Em todo o caso, esta
verdade resplandece se se a ama, se a aceita e se a vive como verdade que
liberta”.
IHU –
Comentário do Evangelho
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