Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 4 de abril de 2018

“Quem são os que não aceitam Lula?” – Artigo de Luiz Gonzaga Belluzo. Muito bom!




Abaixo, um excelente artigo  "Quem são os que não aceitam Lula?", do economista Luiz Gonzaga Belluzo*. Penso que a sua leitura pode auxiliar bastante a quem realmente procura entender os recentes fatos (o julgamento e condenação sem apresentar provas do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da  Silva) e a situação política e social do nosso Brasil. Isso é importante para poder construir uma opinião própria, mais objetiva e justa.
Vale a pena ler!
WCejnóg









07 Março 2018

Quem são os que não aceitam Lula?

O artigo é de Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, publicado por CartaCapital, 07-03-2018.

 
(O ex-presidente Lula após coletiva de imprensa, em São Paulo)

Quinta-feira 1º de março, a Folha de S.Paulo estampou longa entrevista com o ex-presidente Lula. Depois de marchas e contramarchas, a jornalista Mônica Bergamo pergunta: “O senhor fala: ‘Eles não me aceitam’. Quem são eles?”. Lula responde: “Ah não sei. São eles. Eu não vou ficar nominando”.
“Quem são eles?”

Em tempos idos, a pergunta suscitaria a velha perplexidade: “Agora é que são elas”. O Novo Dicionário de Expressões Idiomáticas, editado em Portugal em 2006, registra o sentido da expressão: “Exclamação com que o orador reconhece estar perante uma séria dificuldade”. Confrontados com as ambiguidades da condição humana, os da antiga tinham coragem para manifestar dúvidas a respeito da própria sabedoria.

“Quem são eles?’

Depois de reafirmar o “orgulho com seu governo, período em que os empresários mais ganharam dinheiro, os trabalhadores mais ganharam aumento de salário, em que geramos mais empregos etc.”, Lula absolveu os donos dos bancos. Assestou baterias contra “o bando de yuppies, jovens bem aquinhoados que vivem ganhando dinheiro através dos bônus, de não sei das quantas, para vender papel, sem vender um produto”.

Dos baixios de minhas insuficiências, vou arriscar uma aventura quase filosófica. “Eles” são uma construção dos processos de abstração real que comandam a vida dos homens e mulheres nas sociedades contemporâneas.  As corporeidades, identidades e individualidades estão aglutinadas em um bloco de interesses classistas, visões do mundo, modos de vida, preconceitos, ancestralidades meritocráticas e escravagistas. A embolada social-ideológica carrega os senhores do dinheiro e seus yuppies.

As engrenagens impessoais da abstração real e da homogeneização das individualidades foram explicitadas nos cordéis da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti. Os cordéis manipulam os movimentos dos manifestoches da Avenida Paulista, a ignorância e grosseria das redes sociais, os acarpetados escritórios ocupados por mesas de operação das instituições financeiras, nas redações cada vez mais obedientes e menos inquietas.

Para essa turma, a eleição de Lula foi a realização do inaceitável. Pouco importa se ganharam muita grana e abasteceram generosamente seus cofres com inúteis e danosas apostas nos mercados de derivativos de câmbio e juros, sempre e cada vez mais respondendo aos movimentos dos mercados financeiros globalizados.

Minha ousadia de recorrer à quase-filosofia exige repetir as considerações de Gilles Deleuze a respeito da Filosofia e das Potências.

Gillles Deleuze, o filósofo, dizia que a “filosofia (e eu acrescentaria a economia política) é inseparável de uma cólera contra a época, mas não é uma Potência. As religiões, os Estados, o capitalismo, a ciência, o direito, a opinião e a mídia são Potências, mas não a filosofia. ... Não sendo Potência, a filosofia não pode empreender uma batalha contra as Potências: em compensação trava com elas uma guerra sem batalhas, uma guerra de guerrilhas. Não pode falar com elas, nada tem a lhes dizer, nada a comunicar, e apenas mantém conversações”.

As Potências estão desinteressadas em sufocar a crítica ou as ideias desviantes. Elas se dedicam a algo muito mais importante: fabricam os espaços da literatura, do econômico, do político, espaços completamente reacionários, pré-fabricados e massacrantes.
“É bem pior que uma censura”, continua Deleuze, “pois a censura provoca efervescências subterrâneas, mas a reação quer tornar tudo isso impossível.”

Nesses espaços fabricados pelas Potências talvez seja até mesmo impossível manter conversações, porque a norma não é a crítica racional, mas o exercício da animosidade sob todos os seus disfarces, da agressividade a propósito de tudo e de todos, presentes ou ausentes, amigos ou inimigos. Não se trata de compreender o outro, mas de vigiá-lo. “Estranho ideal policialesco, o de ser a má consciência de alguém.”

Alguns senhoritos da mídia, transformando a opinião em Potência, abandonam a crítica pela vigilância e a vigilância exige convicções esféricas, maciças, impenetráveis, perfeitas. A vigilância deve adquirir aquela solidez própria da turba enfurecida, disposta ao linchamento. Só um insensato, em meio à perseguição, tentaria explicar alguma coisa a esse bando enlouquecido.

O filósofo Franco Berardi vai além e conclui que o vendaval de abstrações e imediatismos produzido pelos mercados financeiros, pela mídia e pelas tecnologias de informação capturou as energias cognitivas da sociedade. De um lado, diz ele, são ondas avassaladoras de sofrimento mental e, de outra parte, a depressão e o rebaixamento intelectual encontram remédio no fanatismo e no fascismo.



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*  Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo (Bariri29 de outubro de 1942[1]) é um economista e professor brasileiro da Universidade Estadual de Campinas e da Faculdades de Campinas   (In: wikipedia)








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