Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Edith Stein, a santa judaica que morreu no campo de concentração. – Reportagem de Andrea Tornielli. Vale a pena conferir!



Considero bem interessante a reportagem Edith Stein, a santa judaica que morreu no campo de concentração, de Andrea Tornielli. Para uns pode servir para relembrar, para os outros – para conhecer um pouco da história da vida e da personalidade da Edith Stein. Sem dúvida, a história dessa mulher comove muito e fascina a quem se interessa em saber mais sobre a sua vida.

O texto foi publicado no site Vatican Insider em Agosto de 2012, mas continua muito interessante e importante para os dias de hoje.
Não deixe de ler!
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REVISTA IHU ON-LINE 

09 Agosto 2012

Edith Stein, a santa judaica que morreu no campo de concentração

No dia 9 de agosto, há 70 anos, Edith Stein, a judia que havia se tornado irmã carmelita, era morta em Auschwitz. Em 1933, ela escreveu ao papa sobre as perseguições contra os judeus.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 03-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto
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REPORTAGEM

Há 70 anos, morria em Auschwitz Irmã Teresa Benedita da Cruz, ou Edith Stein, filósofa. Ela nascera em uma família judaica, havia se batizado e, depois, entrara no mosteiro das Carmelitas de Colônia, na Alemanha. Em 1939, encontrava-se no Carmelo de Echt, na Holanda, e foi capturada em julho de 1942, durante as blitz nazistas que se seguiram à carta de denúncia das deportações, assinada pelos bispos católicos dos Países Baixos e lida em todas as igrejas. Até aquele momento, os nazistas haviam poupado os judeus batizados: foram capturados cerca de 300 religiosos de origem judaica.

Cristiana Dobner, em um artigo publicado pela agência SIR, lembra que o jornalista Van Kempen conseguiu contatá-la no campo de triagem e se encontrou diante de "uma mulher espiritualmente grande e forte". Ela não quis fugir nem receber um tratamento diferente dos outros judeus. "Ela me disse: 'Eu jamais poderia acreditar que os homens pudessem ser assim e que os meus irmãos tivessem que sofrer tanto!'. Quando não havia mais dúvidas de que ela seria transportada para outro lugar, eu lhe perguntei se eu poderia ajudá-la (tentar libertá-la); novamente, ela me sorriu suplicando-me que não. Por que abrir uma exceção para ela e para o seu grupo? Não seria justiça tirar vantagem do fato de ser batizada! Se não pudesse participar do destino dos outros, a sua vida estaria arruinada: 'Não, não, isso não!'".

Edith Stein repetia que não havia traído o seu povo ao reconhecer Jesus como Messias. Ela seria proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998. No ano seguinte, também copadroeira da Europa. No dia 12 de abril de 1933, Stein escreveu uma carta ao Vaticano, dirigida ao Papa Pio XI. Ela a enviou através do arquiabade beneditino de BeuronRaphael Walzer, ao cardeal secretário de Estado,
Eugenio Pacelli.

"Padre Santo! Como filha do povo judeu, que pela graça de Deus é há 11 anos filha da Igreja Católica, me atrevo a expressar ao pai da cristandade o que preocupa milhões de alemães. Há semanas, somos espectadores, na Alemanha, de acontecimentos que envolvem um total desrespeito da justiça e da humanidade, sem falar do amor ao próximo. Durante anos, os líderes do nacional-socialismo pregaram o ódio contra os judeus. Agora que conquistaram poder e armaram os seus seguidores – entre os quais há conhecidos elementos criminosos – recolhem o fruto do ódio semeado".

Depois de falar dos muitos casos de suicídio de judeus submetidos a vexações pelos nazistas, Edith Stein acrescentava: "Pode-se considerar que os infelizes não tivessem suficiente força moral para suportar o seu destino. Mas se a responsabilidade em grande parte recai sobre aqueles que os levou a tal gesto, ela também recai sobre aqueles que se calam".

"Tudo o que aconteceu e o que acontece cotidianamente vem de um governo que se diz 'cristão'. Não só os judeus, mas também milhares de fiéis católicos da Alemanha e, creio, de todo o mundo esperam e confiam há semanas que a Igreja de Cristo faça ouvir a sua voz contra tal abuso do nome de Cristo. A idolatria da raça e do poder do Estado, com a qual a rádio martela cotidianamente as massas, não é uma aberta heresia? Essa guerra de extermínio contra o sangue judeu não é uma ultrajem à santíssima humanidade do nosso Salvador, da Santíssima Virgem e dos Apóstolos? Não está em absoluto contraste com o comportamento de nosso Senhor e Redentor, que, mesmo na cruz, rezava pelos seus perseguidores?".

"Todos nós – concluía a filósofa – que olhamos para a atual situação alemã como filhos fiéis da Igreja tememos o pior para a imagem mundial da própria Igreja, se o silêncio se prolongar ainda mais. Estamos convencidos de que esse silêncio não pode a longo prazo obter a paz do atual governo alemão. A guerra contra o Catolicismo ocorre em silêncio e com sistemas menos brutais do que contra o Judaísmo, mas não menos sistematicamente".

Irmã Teresa Benedita da Cruz - Edith Stein

(1891-1942)

Como se pode ver, uma denúncia específica e clarividente, acompanhada pelo pedido de um posicionamento por parte da Santa Sé contra o nazismo. A Santa Sé respondeu à carta de Stein. O cardeal Pacelli, escrevendo em alemão, respondeu ao arquiabade beneditino Walker ainda no dia 20 de abril de 1933, informando que a carta "foi devidamente apresentada à Sua Santidade".

Em 1937, Pio XI publicaria a encíclica Mit Brennender Sorge, na qual a ideologia nacional-socialita é condenada como pagã e anticristã.

Fonte da reportagem: IHU - Revista On-Line

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¹ EDITH STEIN  - Nascida em Vrastilávia a 12 de Outubro de 1891, os seus genitores eram de nacionalidade alemã e de religião hebraica. Foi educada na fé dos pais, mas no decurso dos anos tornou-se praticamente ateia, conservando muito elevados os valores éticos, mantendo uma conduta moralmente irrepreensível. De maneira brilhante obteve o doutoramento em filosofia e tornou-se assistente universitária do seu mestre, Edmund Husserl. Incansável e perspicaz investigadora da verdade, através do estudo e da frequência dos fermentos cristãos e, por fim, através da leitura da autobiografia de Santa Teresa de Ávila, encontrou Jesus Cristo que resplandecia no mistério da cruz e, com jubilosa resolução, aderiu ao Evangelho.

Em 1922, recebeu o batismo na Igreja católica com o nome de Teresa: a sua vida mudou de modo radical. Os anos sucessivos foram despendidos no aprofundamento da doutrina cristã, no ensinamento, apostolado e publicação de estudos científicos, e numa intensa vida interior nutrida pela palavra de Deus e a oração.

Em 1933, coroou o desejo de se consagrar a Deus e entrou na Congregação das Carmelitas Descalças, tomando o nome de Teresa Benedita da Cruz, exprimindo assim, também com este nome, o ardente amor a Jesus crucificado e especial devoção a Santa Teresa de Ávila. Emitiu regularmente o voto de pobreza, obediência e castidade e, para realizar a sua consagração, caminhou com Deus na via da santidade.

Quando na Alemanha o nacional-socialismo exacerbou a louca perseguição contra os judeus, os superiores da Beata enviaram-na, por precaução, para o carmelo de Echt, na Holanda. Impelida pela compaixão para com os seus irmãos judeus, não hesitou em oferecer-se a Deus como vítima, para suplicar a paz e a salvação para o seu povo, para a Igreja e para o mundo. A ocupação nazista da Holanda comportou o início do extermínio também para os judeus daquela nação. Os Bispos holandeses protestaram energicamente com uma Carta pastoral, e as autoridades, por vingança, incluíram no programa de extermínio também os judeus de fé católica.

A 2 de Agosto de 1942, a Santa foi aprisionada e internada no campo de concentração de Auschwitz, e juntamente com a irmã foi morta na câmara de gaz no dia 9 de Agosto de 1942. Assim morreu como filha do seu povo martirizado e como filha da Igreja católica. «Judia, filósofa, religiosa, mártir  como foi afirmado por João Paulo II no dia da Beatificação, a 1 de Maio de 1987, em Colónia —  a Santa Edith Stein representa a síntese dramática das feridas do nosso século. E, ao mesmo tempo, proclama a esperança de que é a cruz de Jesus Salvador que ilumina a história».

(Edith Stein foi proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998).

(Fonte: www.vatican.va ; Foto: Wikipedia)

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Bergoglio ou descristianização do cristianismo. – Reportagem de Riccardo Cristiano. Muito atual e importante!



A reportagem Bergoglio ou descristianização do cristianismo, do jornalista italiano Riccardo Cristiano é interessante e sobretudo muito atual. É uma análise corajosa e detalhada, apesar de curta, dos fenômenos que hoje marcam as sociedades da Europa Ocidental. Ao meu ver, são colocações claras e  muito acertadas.
Para quem procura entender ou  compreender melhor as causas dos atentados terroristas na Europa e da constante ameaça de novos atos desse tipo, certamente essa reportagem pode servir de uma uma significante ajuda para isso.

A matéria foi publicada recentemente por Reset e, logo depois, também no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena conferir!
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IHU - ADITAL
22 Agosto 2017

Bergoglio ou descristianização do cristianismo
  
Verão de 2014. Steve Bannon, ex-estrategista-chefe da Donald Trump recém afastado do cargo, mantinha uma conferência via skype no Vaticano com os membros e os convidados da Dignititatis Humanae Institute, liderada pelo cardeal Leo Burkee da qual também participava outro signatário dos famosos Dubia sobre a exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, o cardeal Brandmüller.


A reportagem é de Riccardo Cristiano, jornalista italiano e escritor, publicada por Reset, 21-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Reportagem

O que disse naquela ocasião Bannon? Basicamente, ele afirmou que estávamos em guerra, em guerra contra o Islã, e que para vencer seria necessária uma Santa Aliança, que também se alicerçasse sobre o que ele chamava de cleptocracia de  Vladimir Putin. Considerando que uma guerra contra um bilhão e quinhentos milhões de pessoas não é nada fácil de ser vencida, o convite parecia lógico.




Mas temos certeza de que a situação é exatamente esta? E se houvesse, ao contrário, uma ameaça que o terrorismo lança contra a identidade religiosa do cristianismo (o europeu, mas não só este) do Terceiro Milênio? É uma coincidência que, justamente ontem, o Papa Francisco tenha deixado bem claro o seu ‘sim’ ao jus soli e jus culturae.

Vamos analisar melhor.

O que vemos são terroristas que viajam de avião, que usam cartões de crédito, que passam anos na prisão, mas principalmente são terroristas que agem com seus irmãos de sangue, com terroristas como eles. São os irmãos Khouachi que agiram em Paris, os irmãos Hichami em Barcelona. Terroristas todos de segunda geração, a partir de seu fundador, o extremista francês Kaled Khelkal, que atuou em 1995. A carteira de identidade do terrorista suicida exclui imigrantes de primeira geração, bem como de terceira geração. Essa geração de assassinos é filha de uma "cultura", abraça uma causa. Qual causa? Eu afirmo que a causa deles é um novo radicalismo niilista, que se islamiza porque a bandeira preta do EI é a única já pronta e a disposição e, principalmente, porque é bem conhecida e temida, pronta para ser carregada e hasteada, "contra", no mundo todo.




Os novos demônios, a respeito dos quais parece que inutilmente nos alertou Dostoievski são niilistas, niilistas que "odeiam", segundo uma rígida escala psicológica, os seus pais, que deixaram países que eles não conhecem, mas que, aos olhos de muitos, os identificam, e foram viver em países onde eles não sabem quem ser. Não são cidadãos dos países de origem dos seus pais, mas não adquiriram a cultura daqueles onde seus pais se sentiram acolhidos. Aliás, eles se sentem excluídos desses países, odeiam esses países, os conhecem através das lentes deformantes de pequenos grupos envolvidos em roubos, drogas, violência, nos quais transitam. E assim eles querem se destacar em uma coisa ao menos: em odiar, saber odiar mais do que os outros. É o mundo virtual, internet, web, que lhes oferece outro ódio, o ódio final, que lhe permitirá encontrar um significado para as suas vidas.  Porque viver sem um sentido é ainda mais difícil do que morrer.

E assim, o seu novo radicalismo niilista espera encontrar na morte, na sua morte, a arma capaz de matar o nosso amor pela vida, uma vida que eles odeiam. Os especialistas poderão se esforçar para entender se eles a odeiam porque gostariam de participar dela, ou se a odeiam porque são excluídos, marginalizados, isolados em guetos, ou porque atormentados por complexos de raiva por causa do que acontece no Oriente Médio. O fato, enorme e estarrecedor, é que eles são os novos niilistas, os novos demônios, e nós nos recusamos a dizê-lo, a compreendê-lo, a reconhecê-lo. Por quê?

Em minha opinião, por um gigantesco motivo. Esse motivo é político. O terrorismo que entra de forma tão devastadora em nossas vidas deve ser lido politicamente. Torna-se um fator decisivo, eleitoralmente. A leitura mais simples aponta para as ideologias "anti-imperialistas" ou "identitárias", baseadas no chamamento para conceitos simples; são os muçulmanos que querem destruir a nossa pátria, portanto devemos expulsar os muçulmanos das "nossas" pátrias. Esse termo “nossas" começa com a exclusão dos filhos dos migrantes nascidos nos nossos países, e não por acaso o Papa Francisco identificou isso e o destacou ao se pronunciar abertamente, justamente agora, sobre o jus soli e jus culturae. Porque ele sabe que começa assim e prossegue excluindo os muçulmanos, mas não só eles, também "os ciganos", "os negros", e para muitos, "os judeus". Portanto, é o ódio religioso, étnico, racial o produto do terrorismo, e a América de hoje explica isso melhor do que outros países: o que aconteceu       com Charlottesville foi "um pouco subestimado", em virtude do valor de 'guia' que os Estados Unidos continuam a ter para todo o Ocidente. E aqui entra em cena um segundo elemento, dramático: a transformação do cristianismo pelas mãos dos terroristas em ação na Europa.


Os nossos terroristas agem em contextos secularizados, em sociedades que abandonaram a religião, a mística, a própria prática. Eles vivem os nossos contextos de capitalismo hedonista que muitas vezes vira as costas para as cidades locais em favor da cidade global, transformando a cidade local em um receptáculo para a ineficiência, o crime, a miséria, e permitindo que a cidade global assuma o lugar da diversão, das cadeias globais, das tendências globais, dos entretenimentos globais e, dessa forma, dos negócios globais. Mas justamente eles, os terroristas, nos permitem, a nós descristianizados, secularizados, ‘consumistizados’, de nos definir como "cristãos", portanto de cristianizar a nossa sociedade consumista, hedonista, individualista, sem que nos questionemos sobre a relação entre a nossa fé, os nossos valores e as tendências da nossa realidade. O nosso sistema, público ou de valores, descristianizado, torna-se, para nós, o verdadeiro cristianismo.

O terrorismo, portanto, de forma concreta, assume a Europa descristianizada como identidade do novo cristianismo, do cristianismo como uma religião secular. Se no passado, pensou-se em re-cristianizar a Europa a partir do topo, a escolha de Bergoglio foi e continua sendo a de uma re-cristianização a partir da base, a partir do encontro, eu diria até de uma inculturação do cristianismo no tecido social e de valores dessa Europa dos dias de hoje. Seu pontificado tende a reavivar as raízes cristãs em uma re-evangelização a partir da base, colocando o Evangelho na vida e não pedindo aos chefes de Estado ou de governo para colocá-lo nas constituições. O terrorismo, ao contrário, acaba objetivamente fazendo dos descristianizados e dos descristianizantes os novos cristãos, pelo simples fato de que se consideram como tais: a sua, como todas as religiões laicas, não precisa de fé em um Deus transcendente, pessoal, Criador e Redentor, na verdade, nega esse Deus, mas indica igualmente um caminho, uma via para a salvação do homem, dando origem a um sistema de dogmas, de crenças terrenas, mundanas. O seu paraíso pode ser também consumista, avassalador, especulador, predador, porque esse paraíso é "nosso".

Aqui estamos diante do desafio da nossa época: revelar a face do novo terrorismo, tirar o seu manto negro do pretenso califa e ver seu rosto niilista, antirreligioso, poderá servir não apenas para salvar a vida juntos, o cosmopolitismo, a civilização mediterrânea, mas também para salvar o cristianismo. Esta ofensiva poderia de fato descristianizar o cristianismo.

Claramente, tudo isso está enraizado no nosso confronto através de caminhos aparentemente incompatíveis entre si, por serem parte da extrema esquerda e parte da extrema direita, mas mira conquistar o estômago das nossas sociedades. Existe, portanto, um projeto propagandístico muito forte, um projeto capaz de tocar as cordas mais profundas. Podemos procurá-lo a partir da identificação do rosto a que os autores desse projeto entregam a tutela da nossa civilização, do nosso estilo de vida, dos nossos valores. Considerando que a questão do EI afunda as suas leituras na tragédia síria, essa pesquisa deve olhar para aquele país, para a Síria. E assim, a resposta torna-se clara.



Os autores desse projeto propagandístico atribuem a defesa dos nossos valores para Assad. Fica assim claro como o projeto propagandístico captura a extrema direita e a extrema esquerda porque torna, de maneira paranoica, mas, infelizmente, eficaz,Israel e a CIA os aliados dos terroristas, contra Assad. E assim Assad, culpado dos crimes contra a humanidade mais graves desde o fim da Segunda Guerra Mundial, torna-se o símbolo do bem. Ele teria lutado contra o EI (na realidade, deliberadamente o favoreceu justamente para possibilitar que seus partidários nos dissessem que nos defenderiam do novo terrorismo). Ele teria salvado o cristianismo na Síria (na realidade, ele o destruiu reduzindo-o de 20% nos tempos em que a dinastia dos Assad chegou ao poder para 9% em 2010). O seu regime seria "laico", embora conheça muito bem a religião laica tendo feito do imperador (ou seja, de Assad) um deus, o símbolo de um poder que sabe como esconder qualquer crime, por trás do novo totem, "a luta contra o terrorismo".


Os inimigos de quem quer proteger o cristianismo desses desvios são, portanto, muito mais fortes, disseminados e perigosos de quanto se possa pensar. E o desafio que enfrenta o Papa Francisco parece realmente imenso. Tanto é assim que seu pronunciamento sobre o jus soli pode ser interpretado como um desafio para os terroristas (não conquistarão os filhos de suas comunidades), e todos aqueles que, em resposta a seu ódio, querem nos induzir a odiar.





segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Hans Küng conhece os problemas da Igreja e sabe que a mudança é inevitável. - Reflexões de Leonard Swidler sobre o último livro do Hans Küng. Interessante!


Considero muito interessante o artigo/reflexão de Leonard Swidler sobre o último livro do teólogo suiço Hans Küng, cujo título é Can We Save the Catholic Church? / We Can Save the Catholic Church!” (“Podemos salvar a Igreja Católica? Podemos salvar a Igreja Católica!).

O texto foi publicado em maio de 2014 por National Catholic Reporter e também, posteriormente, no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), mas ainda agora oferece uma boa ajuda para quem gostaria de saber mais (ou relembrar) sobre o pensamento, a personalidade e a importância  de Hans Küng.

Vale a pena ler!
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IHU - ADITAL
Segunda, 05 de maio de 2014

Hans Küng conhece os problemas da Igreja e sabe que a mudança é inevitável

 

O teólogo suíço Hans Küng escreveu mais de 70 livros que influenciam não só a atual busca por reforma na Igreja Católica como também teólogos e praticantes que se envolvem na teologia ecumênica e no diálogo inter-religioso. Pedimos ao destacado estudioso Leonard Swidler e o experiente jornalista John Wilkins para nos guiarem na apreciação do amplo escopo da obra do autor. Não só Swidler e Wilkins são especialistas no pensamento de Küng, mas igualmente leram o terceiro e último volume das memórias do autor, que ainda está para ser traduzido do original alemão.

As duas retrospectivas oferecem reflexões sobre o seu último livro, intitulado “Can We Save the Catholic Church? / We Can Save the Catholic Church!” [“Podemos salvar a Igreja Católica? Podemos salvar a Igreja Católica!], publicado pela William Collins.

Abaixo publicamos a reflexão de Leonard Swidler, professor na Temple University, na Pensilvânia. Nos próximos dias publicaremos a de Wilkins.

O presente artigo foi publicado por National Catholic Reporter, 01-05-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Hans Küng

Eis o artigo.

Há uma série de razões pelas quais é particularmente oportuno que eu esteja escrevendo sobre os últimos escritos do teólogo o  Pe. Hans Küng. Em primeiro lugar, nós dois temos 85 anos de idade – um ano mais jovem do que aquele nosso colega da Universidade de Tübingen, Joseph Ratzinger, hoje Papa Emérito Bento XVI. Em segundo lugar, eu me encontrava em Tübingen já antes de Hans no fim do década de 1950, como aluno trabalhando em minha tese de doutorado em História pela Universidade de Wisconsin e em minha licenciatura em Teologia Sagrada, pela Universidade de Tübingen.

Cheguei a Tübingen, na Alemanha, em 1957. Durante o segundo semestre de 1958 participei de um interessante curso oferecido pela faculdade protestante de teologia sobre um livro recém-publicado na época que comparava a doutrina da justificação – de acordo com o teólogo protestante suíço do século XX Karl Barth – com a doutrina do Concílio de Trento, do século XVI. O livro concluía, de forma dramática, que ambas eram a mesma coisa em essência.

Seu autor era um impetuoso novato no cenário teológico, o suíço católico Hans Küng. À época nem eu nem ninguém sabia quem ele era – exceto Ratzinger, que era professor assistente do Dr. Hermann Volk da faculdade de teologia católica da Universidade de Münster. Foi este mesmo Volk que, como cardeal de Mainz, Alemanha, interpelou Hans para falar sobre seu best-seller intitulado “On Being a Christian” [Ser cristão]. A certa altura, Volk deixou escapar: “Herr Küng, Ihr Buch ist mir zu plausibel!” (Sr. Küng, o seu livro me é muito plausível!”)

Hans e eu nos “encontramos” pela primeira vez quando ele, na qualidade de orientando em Tübingen de meu orientador de doutorado, Heinrich Fries, me escreveu na Universidade de Munique, onde eu estava dando continuidade à minha pesquisa, para falar sobre a publicação de minha tese. Um ano mais tarde, depois de eu ter sido abrigado no departamento de História da Universidade de Duquesne, em Pittsburgh (EUA), o convidei a vir para cá trabalhar como professor visitante de teologia.

Naquela altura, o entusiasmo para com o Concílio Vaticano II (1962-1965) que estava por vir começava a crescer, e rapidamente a tradução inglesa de seu livro “The Council, Reform, and Reunion” lhe rendeu o status de um teólogo de destaque.

Em seguida, fez viagens para ministrar palestras ao longo dos EUA, incluindo a Universidade de Duquesne, onde as entradas para participar do evento se esgotaram duas semanas antes. Centenas de pessoas se puseram num outro auditório onde a palestra pôde ser ouvida. Hans me disse que tinha tantas ofertas de trabalho – começando por Harvard – que teria de declinar o meu convite junto de todos os outros.

Foi em meio ao entusiasmo frenético envolvendo o Concílio que minha esposa, Arlene Anderson Swidler, veio com a ideia de preencher uma lacuna nos estudos teológicos, e então lançamos um periódico acadêmico devotado ao diálogo ecumênico: o Journal of Ecumenical Studies [Revista de Estudos Ecumênicos]. Reunimos um grupo principal de editores associados, incluindo Markus Barth (um dos filhos de Karl Barth) e Hans Küng. A primeira edição em 1964 (50 anos atrás) continha artigos escritos por dois peritos do Vaticano II, que estava atingindo seu auge na época. Era eles: Küng e Ratzinger. Para mim e Arlene, este era apenas o início de uma amizade e colaboração com Hans em inúmeros projetos que duraria mais de meio século.

É através das lentes de nossa longa relação que li o volume 3 das memórias de Hans Küng.

Hans deve ter – com a determinação suíço-alemã – guardado e arquivado cada trabalho acadêmico e cada nota que ele tomou em suas inumeráveis viagens, encontros, conferências e diálogos. Tudo está cuidadosamente documentado, não de forma pedante mas, sim, de forma que garanta ao leitor (ou leitora) que se está diante do “wie es eigentlich gewesen”, ou seja, do que realmente aconteceu.

Muitos pensadores e realizadores atuais consideram que esta obra, presumivelmente a última de três, contendo as memórias do autor seja um “quem é quem” do século XX e XXI em termos intelectuais, culturais e políticos. Hans obviamente se envolveu na redação do livro até o último instante, pois há o registro de que, no dia 28 de junho de 2013, ele escrevera ao Papa Francisco pedindo sua permissão para reproduzir nota elogiosa manuscrita que o pontífice lhe tinha endereçado em espanhol. (É claro, o teólogo recebeu uma resposta positiva.)

Hans quer fazer deste volume o seu “vaya con Dios” [vá com Deus], no sentido de que, no fim, ele olha para trás e reflete sobre o que julga ser uma vida plena, completa. Despediu-se das longas semanas em que praticava esqui – “um dos esportes mais fascinantes” – nos Alpes Suíços em meados de 2010.

O título do livro “Podemos salvar a Igreja Católica? Podemos salvar a Igreja Católica!”, de 350 páginas, diz tudo. Esta segunda parte do título não faz parte do original (que é “Ist die Kirche noch zu retten?”, ou seja: “A Igreja ainda pode ser salva?”), mas ecoa um sentimento que pode se encontrar em todos os seus sete capítulos. Küng vê a história no longo prazo se mover através de uma série contínua de mudanças paradigmáticas menores e maiores que enfrentam sempre resistência até que se atinge um ponto de inflexão e, então, um novo paradigma assume o centro do pensamento e da ação.

Ele está convencido – assim como eu também estou – de que estamos em meio de uma importante mudança de paradigma que, como esperado, está sendo veementemente questionada. Não obstante, ela está substituindo o antigo paradigma – neste caso, o católico-medieval, o da Contrarreforma.

É interessante e animador ler que, há alguns meses quando Hans enviou uma nota de agradecimento e um exemplar em espanhol de seu livro para o Papa Francisco (e aos cardeais do novo Conselho dos Cardeais, cada um em sua própria língua), em poucos dias ele recebeu aquele cartão manuscrito mencionado acima. Neste, Francisco agradeceu a Hans pela nota enviada e pelo livro, o qual, disse ele, iria ler com prazer.

É óbvio que Hans conhece intimamente os problemas profundos da Igreja Católica – do passado e do presente – mais do que qualquer outra pessoa viva, e ele apresenta estas falhas estruturais enormes com uma clareza escaldante. No entanto, ele não critica simplesmente, como também traz alguns planos de ação. Hans e agora os leitores percebem a profundidade da doença em vários aspectos da Igreja. Mas, tendo presente as lições da história, sabe-se que a mudança não só é possível como inevitável.

Além disso, Hans fornece bases para uma coragem interior necessária para dar início (ou continuidade) a estes esforços, os quais irão acelerar aquela mudança positiva na Igreja Católica. É uma visão de Igreja a que Hans, como muitos outros, devotou (e continua a devotar) a sua vida.



sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O que nós dizemos. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!



Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?”". (Mt 16, 15)

O comentário que trago hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreto e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 16, 13-20  (Jesus pergunta a seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”). O texto já foi publicado neste espaço em agosto de 2014, mas continua muito oportuno para os dias de hoje.
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Vale a pena ler e refletir.
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IHU - ADITAL
25 agosto 2017

O que nós dizemos

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-20, que corresponde ao 21° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Também hoje dirige Jesus a nós cristãos a mesma pergunta que fez um dia aos Seus discípulos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Não nos pergunta só para que nos pronunciemos sobre a Sua identidade misteriosa, mas também para que revisemos a nossa relação com Ele. Que podemos responder-lhe desde as nossas comunidades?

Esforçamo-nos por conhecer cada vez melhor Jesus ou temo-Lo «encerrado nos nossos velhos esquemas entediantes» de sempre? Somos comunidades vivas, interessadas em colocar Jesus no centro da nossa vida e das nossas atividades ou vivemos estancados na rotina e na mediocridade?

Amamos Jesus com paixão ou converteu-se para nós num personagem gasto a quem continuamos a invocar enquanto no nosso coração vai crescendo a indiferença e o esquecimento? Quem se aproxima das nossas comunidades pode sentir a força e o atrativo que têm para nós?

Sentimo-nos discípulos de Jesus? Estamos aprendendo a viver com o Seu estilo de vida no meio da sociedade atual ou deixamo-nos arrastar por qualquer reclame mais apetecível para os nossos interesses? Será que nos é igual viver de qualquer forma ou temos feito da nossa comunidade uma escola para aprender a viver como Jesus?

Estamos aprendendo a olhar a vida como ele a olhava? Olhamos, a partir das nossas comunidades, os necessitados e excluídos com compaixão e responsabilidade ou encerramo-nos nas nossas celebrações, indiferentes ao sofrimento dos mais desvalidos e esquecidos: os que foram sempre os prediletos de Jesus?

Seguimos Jesus colaborando com Ele no projeto humanizador do Pai ou continuamos a pensar que o mais importante do cristianismo é preocupar-nos com a nossa salvação? Estamos convencidos de que a melhor forma de seguir Jesus é viver cada dia fazendo a vida mais humana e mais ditosa para todos?

Vivemos o domingo Cristão celebrando a ressurreição de Cristo? Acreditamos em Jesus ressuscitado, que caminha conosco cheio de vida? Vivemos acolhendo nas nossas comunidades a paz que nos deixa como herança aos Seus seguidores? Acreditamos que Jesus nos ama com um amor que nunca acabará? Acreditamos na Sua força ressuscitadora? Sabemos ser testemunhas do mistério da esperança que levamos dentro de nós?