“E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de
Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias,
clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha
filha está miseravelmente endemoninhada. Mas ele não lhe respondeu
palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo:
Despede-a, que vem gritando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Eu
não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então
chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me!
Ele,
porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos
cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem
das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então respondeu Jesus,
e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu
desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.” (Mt 15,21-28)
Abaixo, uma reflexão muito concreta e atual que tem como pano de fundo o
texto bíblico Mt 15,21-28 (Jesus e a mulher cananéia). É de autoria do padre e teólogo espanhol José
Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU –
ADITAL
18
agosto 2017.
Jesus
é de todos
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 15,21-28, que
corresponde ao 20° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Nrasil celebra-se a Solenidade da Assunção de Maria, Nossa Senhora.
Eis o texto
Uma mulher pagã toma a iniciativa de se aproximar de Jesus, apesar
de não pertencer ao povo judeu. É uma mãe angustiada que vive a sofrer com uma
filha “maltratada por um demônio”. Sai ao encontro de Jesus, dando gritos: “Tem
compaixão de mim, Senhor, Filho de David”.
A primeira reação de Jesus é
inesperada. Nem sequer se detém para escutá-la.
Todavia não chegou a hora de levar a Boa Nova de Deus aos pagãos. Como a mulher
insiste, Jesus justifica a sua atuação: “Deus enviou-Me apenas para as ovelhas
perdidas do povo de Israel”.
A mulher não recua. Superará todas as
dificuldades e resistências. Num gesto audaz
prostra-se ante Jesus, detém a Sua marcha e, de joelhos, com um coração
humilde, mas firme, dirige-lhe um só grito: “Senhor, socorre-me”.
A resposta de Jesus é insólita.
Apesar de nessa época os judeus chamarem com toda a naturalidade “cães” aos
pagãos, as suas palavras resultam ofensivas aos nossos ouvidos:
“Não está bem deitar aos cachorros o pão dos filhos”. Retomando a Sua imagem de
forma inteligente, a mulher atreve-se, a partir do chão, a corrigir Jesus:
“Isso é certo, Senhor, mas também os cachorros comem as migalhas que caem da
mesa dos amos”.
A sua fé é admirável. Seguramente que
na mesa do Pai todos se podem alimentar: os filhos de Israel e também os “cães”
pagãos. Jesus parece pensar apenas nas “ovelhas perdidas” de Israel, mas também
ela é uma “ovelha perdida”. O Enviado de Deus não pode ser só dos
judeus. Deve ser de todos e para todos.
Jesus rende-se ante a fé da mulher. A sua resposta revela-nos a sua humildade e a sua
grandeza: “Mulher, que grande é a tua fé!”. “Que se cumpra como desejas”. Esta
mulher mostra a Jesus que a misericórdia de Deus não exclui ninguém. O Pai bom
está por cima das barreiras étnicas e religiosas que traçam os humanos.
Jesus reconhece a mulher como crente,
apesar de viver uma religião pagã.
Inclusive encontra nela uma “fé grande”, não a fé pequena dos Seus discípulos,
a quem recrimina mais de uma vez como “homens de pouca fé”. Qualquer ser humano
pode recorrer a Jesus com confiança. Ele sabe reconhecer a sua fé, apesar de
viver fora da Igreja. Todos poderão encontrar Nele um Amigo e um Mestre de
vida.
Os cristãos, temos de nos alegrar de
que Jesus continue a atrair hoje tantas pessoas que vivem fora da Igreja. Jesus
é maior que todas as nossas instituições. Ele continua a fazer muito o bem,
inclusive àqueles que se têm afastado das nossas comunidades cristãs.
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