Hoje trago para o blog
Indagações-Zapytania o artigo “A
“democracia” dos sem-vergonha”, de Leonardo Boff, que o
autor acaba de publicar no seu blog. O texto mostra com muita clareza o que realmente
está acontecendo agora no Brasil e desnuda toda a verdade.
Por concordar com todo o
teor desse artigo e por considerá-lo muito
atual e oportuno neste momento histórico que vivemos no Brasil, trago-o
também para esta página, a fim de contribuir um pouco na sua divulgação.
Vale a pena conferir!
WCejnóg
leonardoBOFF.com
03/08/2017
A
“democracia” dos sem-vergonha.
É
difícil ficar calado após ter assistido à funesta e desavergonhada sessão da
Câmara dos Deputados que votou contra a admissibilidade de um processo pelo STF
contra o Presidente Temer por crime de corrupção passiva.
O que a sessão mostrou foi a real natureza de nossa democracia que se nega a si mesma. Se a medirmos pelos predicados mínimos de toda a democracia que é o respeito à soberania popular, a observância dos direitos fundamentais do cidadão, a busca de uma equidade mínima na socidade e o incentivo à participação, o bem comum, além de uma ética pública reconhecível, então ela comparece como uma farsa e como uma negação de si mesma.
Nem
sequer é uma democracia de baixíssima intensidade. Ela se revelou, desta vez,
com nobres exceções, como um covil de denunciados por crimes, de corruptos e de
ladrões de beira de estrada, assaltando os pobres níqueis dos cidadãos.
Como
iriam votar a favor da admissibilidade de um julgamento de um Presidente pelo
Supremo Tribunal Federal se cerca de 40% de atuais deputados respondem a vários
tipos de processos na Corte Suprema? Vigora sempre um concluio secreto entre os
criminosos ou acusados como tais, no estilo das “famgilias” da máfia.
Nunca
em minha já longa e cansada existência ouvi que algum candidato para financiar
sua campanha vendeu seu sítio ou se desfez de algum bem, mas sempre recorreu a
empresários e a outros endinheirados, para financiar sua milhonária eleição. O
caixa 2 se naturalizou e as propinas fabulosas foram crescendo de campanha em
campanha na medida que aumentavam as trocas de benefícios.
Desta
vez, o palácio do Planalto se transformou no covil-mor do grande Ali-Babá que a
céu aberto distribuía benesses, prometia subsidios aos milhões ou mesmo
oferecia outros benefícios para comprar votos a seu favor. Só esse fato
mereceria uma investigação de corrupção aberta e escandalosa aos olhos dos que
guardam um mínimo de ética e de decência, especialmente de gente do povo que
ficou profundamente estarrecida e envergonhada.
Efetivamente
nenhum brasileiro merecia tamanha humilhação a ponto de tantos sentirem
vergonha de ser brasileiros.
Os
parlamentares, incluídos os senadores, representam antes os interesses
corporativos dos que financiaram suas campanhas do que os cidadãos que os
elegeram.
Já
temos tido a distância temporal suficiente para podermos perceber com clareza o
sentido do golpe parlamentar dado com a cumpliciade de parte do judiciário e do
massivo apoio da mídia empresarial: desmontar os avanços sociais em favor da
população mais pobre que sempre foi, desde a Colônia, no dizer do maior
historiador mulato Capistrano de Abreu, “castrada e recastrada, sangrada e
dessangrada”. E também alinhar o Brasil à lógica imperial dos USA no lugar de
uma política externa “ativa e altiva”.
As
classes oligárquicas (Jessé Souza, ex-presidente exonerado do IPEA pelo atual
Presidente nos dá o número exato: 71.440 de supermilhonários, cuja renda
mensal, geralmente pela financeirização da economia, alcança 600 mil reais por
mês), nunca aceitarem que alguém vindo do andar de baixo e representante dos
sobreviventes da histórica tribulação dos filhos e filhas da pobreza, chegasse
a ocupar o centro do poder.
Ficaram
assustadas com a presença deles nos aeroportos e nos shoppingscenters, lugares
de sua exclusividade. Deviam ser devolvidos ao lugar de onde nunca deveriam ter
saido: a periferia e a favela. Não apenas os querem distantes de seus espaços.
Vão mais longe: odeiam-os, humilham-nos e difundem este desumano sentimento por
todos os meios. Não é povo que odeia, confirma-o Jessé Souza, mas esses
endinheirados que os exploram e com tristeza e por obrigação legal lhes pagam
os miseráveis salarios. Por que pagar, se sempre trabalharam de graça como
antigamente?
Historiadores
do nível de José Honório Rodrigues, entre outros, têm mostrado que sempre que
os descendentes e atualizadores da Casa Grande percebem que políticas sociais
transformadoras das condições de vida dos pobres e marginalizados, dão um golpe
de estado por medo de perderem o nível escandaloso de sua acumulação,
considerada uma das mais altas do mundo. Não defendem direitos para todos, mas
privilégios de alguns, quer dizer, deles. O atual golpe obedece à mesma lógica.
Há
muito desalendto e tristeza no país. Mas este padecimento não será em vão. É
uma noite que nos vai trazer uma aurora de esperança de que vamos ultrapassar
essa crise rumo a uma sociedade, no dizer de Paulo Freire, “menos malvada” e
onde “não seja tão difícil o amor”.
Leonardo Boff é articulista do JB on
line e escreveu A Grande Transformação, Vozes 2015.
Fonte:
Blog leonardoBOFF.com
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