“Quando o viram andando sobre o mar, ficaram
aterrorizados e disseram: É um fantasma! E gritaram de medo.
Mas Jesus imediatamente lhes disse: Coragem! Sou
eu. Não tenham medo!”. (Mt 14,26-27)
Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de
fundo o texto bíblico Mt 14, 22-33 (Jesus
acalma a tempestade). Já foi publicada anteriormente neste espaço (em agosto de
2014), mas continua muito atual. O texto
foi escrito pelo padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU - ADITAL
11 Agosto 2017.
No meio da crise
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 14,22-33 que corresponde
ao 19° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto
Não é difícil ver na barca
dos discípulos de Jesus, sacudida pelas ondas e a transbordar pelo forte
vento contra, a figura da Igreja atual, ameaçada desde fora por todo o tipo de
forças adversas e tentada desde dentro pelo medo e a mediocridade. Como lermos
este relato evangélico desde uma crise em que a Igreja parece hoje naufragar?
Segundo o evangelista, “Jesus
aproxima-se da barca caminhando sobre as águas”. Os discípulos não são capazes
de reconhecê-lo no meio da tormenta e da obscuridade da noite. Parece-lhes um
“fantasma”. O medo aterroriza-os. O único que é real para eles é
aquela forte tempestade.
Este é o nosso primeiro problema. Estamos
a viver a crise da Igreja contagiando uns aos outros desalento, medo e falta de
fé. Não somos capazes de ver que Jesus se está a aproximar
precisamente desde o interior desta forte crise. Sentimo-nos mais sós e
indefensos que nunca.
Jesus diz-lhes as três palavras que
necessitam escutar: “Ânimo! Sou Eu. Não temais”. Só Jesus lhes pode
falar assim. Mas os seus ouvidos só ouvem o estrondo das ondas e a força do
vento. Este é também o nosso erro. Se não escutamos o convite de Jesus a
colocar Nele a nossa confiança incondicional, a quem acudiremos?
Pedro sente um impulso interior e
sustentado pela chamada de Jesus, salta da barca e “dirige-se para Jesus
andando sobre as águas”. Assim temos de aprender hoje a caminhar até Jesus no
meio da crise: apoiando-nos não no poder, no prestígio e nas seguranças do
passado, mas no desejo de nos encontrarmos com Jesus no
meio da obscuridade e das incertezas destes tempos.
Não é fácil. Também nós podemos
vacilar e afundar-nos, como Pedro. Mas, o mesmo que ele, podemos experimentar
que Jesus estende a sua mão e nos salva enquanto nos diz: “Homens de pouca fé,
por que duvidais?”.
Por que duvidamos tanto? Por
que não estamos a aprender nada novo da crise? Por que seguimos
procurando falsas seguranças para “sobreviver” dentro das nossas comunidades,
sem aprender a caminhar com fé renovada até Jesus no interior mesmo da
sociedade secularizada dos nossos dias?
Esta crise não é o fim da fé cristã. É a purificação que necessitamos para
libertar-nos de interesses mundanos, triunfalismos enganosos e deformações que
nos foram afastando de Jesus ao longo dos séculos. Ele está a atuar nesta
crise. Ele está a conduzir-nos para uma Igreja mais evangélica. Reavivemos a
nossa confiança em Jesus. Não tenhamos medo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário