Para saber quem e como realmente era Jesus, e também o que Ele tem a dizer ainda hoje para cada ser humano, precisamos abrir o Novo Testamento e ler, sobretudo, os Evangelhos. Mas precisamos fazer isso livres de qualquer preconceito. Não se pode enxergar se os olhos estão vedados. Não é possível sentir a textura colocando nas mãos luvas grossas. Não encontraremos Jesus se não O procurarmos de verdade.
Portanto, lendo os Evangelhos com a intenção de encontrar Jesus Cristo, Ele surge diante de nós de modo surpreendente. Talvez até seja totalmente “diferente” daquele outro que ocupava até agora o seu lugar na nossa vida, quem sabe? E por quê? Porque Jesus do Evangelho é Alguém extraordinário mesmo! Ele é diferente. É um homem muito “fora do comum”, que supera todos os nossos esquemas e tentativas de “adequá-Lo” às nossas condições e necessidades.
Depois de conhecer Jesus Cristo do Evangelho não restará mais nenhuma dúvida de que Ele é a maior e a mais sublime Boa Nova que o ser humano pode conhecer. Esta é a grande novidade do cristianismo! E quando o homem O encontra – tudo o resto torna-se relativo e pequeno. Com Jesus Cristo a própria vida e o mundo adquirem o outro sentido, mais profundo, e o homem parte para a Missão, isto é, não poderá mais ficar calado, indiferente e omisso diante do chamado de Jesus para a construção do Reino de Deus.
Será que nós O conhecemos? – eis a pergunta. Muitos falam d’Ele e afirmam que O conhecem, mas será que isso é verdade? Não cabe a nós julgar. Mas é extremamente necessário procurarmos a resposta pessoalmente, na vida de cada um de nós, pois Jesus deixa-se encontrar para quem O procura.
Quem é Jesus Cristo? A reflexão continua nas próximas postagens, mas antes, faço o convite para fazermos uma leitura atenta e consciente do texto abaixo. Vale a pena ler!
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Jesus extraordinário
Jesus extraordinário
É impossível alguém inventar Jesus, aquele que conhecemos dos Evangelhos. Mesmo se aceitássemos os Apóstolos como autores que escreveram os Evangelhos, poderíamos supor que pensariam eles em algo mais interessante, mais sensacional do que logo nesse Jesus - desconhecido Judeu da periferia do Império Romano, filho de um carpinteiro; alguém que faz tanta exigência, sem prometer nenhuma vantagem material; alguém que aos poucos foi colocando muitas exigências em relação à própria vida humana, tanto pessoal como social; alguém que foi entendido mal por quase todos, que foi rejeitado e, enfim, quem foi crucificado, taxado como difamador e traidor e tratado como um criminoso qualquer.
Também não se pôde explicar os relatos sobre a ressurreição de Jesus somente com a consciência dos seus seguidores. A explosão da fé e confiança em Jesus depois da tamanha decepção ficaria sem sentido se realmente na sua base não existisse um fato real, o qual em seguida foi submetido a uma reflexão espontânea, revisado e descrito com muita surpresa e não sem dificuldades (por isso existem variantes no texto).
Quem lê o Evangelho sem preconceito logo nota, em cada verso, esta veracidade de descrição. Se comparar com os outros textos, imediatamente poderá constatar nos relatos que estão nos apócrifos (não verdadeiros, inventados) o exagero e a falta de verdade. Até os lugares nos Evangelhos, onde foram ‘costurados’ os vários materiais transmitidos, são perfeitamente notados como efeito de trabalho de composição de todo esse material em um só Evangelho. Isso prova também a continuidade e a pureza de tudo aquilo que realmente aconteceu.
No Novo Testamento Jesus é apresentado freqüentemente do ponto de vista das diferentes posições e sob diversos aspectos; para os mais diversos fins e para esses ou aqueles destinatários; sublinha-se esta ou aquela sua característica. Os aspectos são diferentes. A figura de Cristo torna-se objeto de observação de todos os lados. O som de nome Jesus toma diversas vibrações, recebe algum acento especial, dependendo da situação. No entanto, no centro permanece sempre Ele mesmo; nunca se pode O olhar suficiente e ficar satisfeito; nunca se pode ouvir tudo dele; nunca se consegue entendê-Lo na sua totalidade. Ele é o único e o mesmo Jesus que se apresenta nos vários Evangelhos: nesse diversificado testemunho de fé do Novo Testamento. Por fim, todos os testemunhos dizem a respeito dele mesmo, tocam nele, procedem dele. Atrás da letra do Evangelho escrito oculta-se uma figura viva, que não podia ser inventada, justamente esse Jesus de Nazaré, esse “problema”, o qual precisamos entender.
No entanto, é preciso ver Jesus na posição oposta à todas outras figuras inventadas, fantásticas, porque Ele é “incomparável” e isto eleva-O muito acima de todos os homens de todos os tempos. Ele não é apenas uma das “pessoas autoritárias” (Jaspers). Ele permanece enquanto as outras passam, e supera todas elas. Que isso se refere aos grandes deste mundo (na política, ciência, na arte), torna-se visível no momento, quando se descobre e enxerga as numerosas sombras que ofuscam o brilho dessas pessoas. Porém, incomparavelmente alto, acima de todos os ídolos, encontra-se Jesus.
Até mesmo quando O comparamos com os grandes fundadores de outras religiões, Ele é muito superior. O fato é que Ele se diferencia deles não só com a sua humana inocência. Nem Lao Tse e Confúcio, nem Zaratustra ou Buda, e menos ainda o Maomé, não conseguiram alcançar, apesar de toda a sua genialidade, a perfeição e superioridade que caracterizam a vida de Jesus. Não são iguais a Ele também quando se trata de incomparável formulação do seu ensinamento: absolutamente nunca nenhum deles exigiu um direito absoluto para falar como quem tem a palavra final, em nome de Deus e para permanecer unido a Deus de maneira que ultrapassa toda a imaginação humana. Mais ainda, estas exigências de Jesus não são, em nenhum caso, arrogantes ou soberbas. Ele é simplesmente diferente de todos os outros “grandes”, sem pretender tirar nada da sua grandeza. Ele surge de outra raiz, vive em outra dimensão.
A sua distância em relação ao povo judeu também é notável. Mesmo que Jesus lembrava muito da sua descendência do povo de Abraão, de Moisés e David, e mesmo que os adeptos de judaísmo (judeus) tentam hoje post factum aceitá-lo como “irmão Jesus” (Buber), contudo Ele continua renegado, blasfemado; alguém a quem não se perdoa o fato de colocar a mão na Lei, pronunciar as palavras, que unicamente são próprias a Deus, e quem exige para si um lugar que não foi destinado nem para Messías prometido. Ele é este renegado pelo povo judeu, que morre “fora” (Hb 13,13), que foge quando querem o prender, que sobreviverá a queda de Jerusalém, e que dirigirá os seus passos na outra direção, e não para o povo escolhido anteriormente.
Jesus olha mais e quer falar para todas as pessoas e a todos quer oferecer a salvação. Ele sai-se com muita vantagem em todas as comparações, é original e excepcional até o fim. Em relação a Ele toda a imaginação humana falha e não é possível colocá-Lo dentro do molde nenhum. É preciso reconhecer que Ele é como é.
Jesus olha mais e quer falar para todas as pessoas e a todos quer oferecer a salvação. Ele sai-se com muita vantagem em todas as comparações, é original e excepcional até o fim. Em relação a Ele toda a imaginação humana falha e não é possível colocá-Lo dentro do molde nenhum. É preciso reconhecer que Ele é como é.
Quem, então, deseja encontrar Jesus para poder tomar a sua decisão pessoal, não tem outra alternativa a não ser procurar o Novo Testamento. Infelizmente, muitas vezes o Novo Testamento tornou-se “velho” porque tratamos ele com uma intimidade exagerada, como se todo ele já fosse conhecido desde sempre. Para a pessoa que procura encontrar Jesus verdadeiro é muito importante que o Novo Testamento realmente se torne de novo como “novo” e precisa ser lido como “novo”, sem preconceitos, sempre e sempre de novo, profundamente e com a determinação. O Novo Testamento precisa ser lido agora com paciência e prontidão para pensar e olhar bem Jesus, com prontidão para escutar o que Ele fala; acalmando-se, conversando baixinho e meditando. É importante permitir que gradativamente penetre para o nosso interior a impressão impossível de ser apagada, causada pela sua figura, que vai tornando-se cada vez mais nítida.
É preciso ficar pronto para fazer-lhe perguntas, discutir com Ele, enfrentá-Lo; ou, então, simplesmente estar pronto para rezar e que, assim, um dia talvez degustar de verdade e poder penetrar nesse Verbo, que procede da boca de Deus, e para vivenciar um momento de encontro decisivo com Jesus no ato de fé. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 50-52)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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