Continuando a nossa reflexão sobre Jesus Cristo, é necessário notarmos agora como Ele surge por trás das informações e relatos contidos no Novo Testamento. É o caminho que nos pode levar ao seu encontro. É fascinante!
Já ficou muito claro que Jesus Cristo, aquele que se deixa encontrar nos Evangelhos para todas as pessoas que realmente O procuram e querem encontrar, é, sem dúvida, extraordinário e original até o fim. Na medida em que a sua figura torna-se mais nítida e concreta, o ser humano fica fascinado, sentindo que está frente a frente com Alguém muito maior.
Agora, faço convite para procurarmos juntos as respostas para as perguntas como estas: Como é este Jesus de Nazaré? Quais são as suas características? O que é tão diferente nele, que O torna único e deixa os homens ficarem surpresos e até espantados?
O texto abaixo, de Ferdinand Krenzer, nos presenteia com uma abordagem simples e direta sobre Jesus Cristo do Novo Testamento. Vale a pena ler até o final!
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Jesus do Novo Testamento
Tentaremos agora, baseando-nos no Novo Testamento, desenhar em traços gerais a figura de Jesus, desse homem extraordinário, apesar de que nem todos os detalhes nos são acessíveis. A imagem de Jesus Cristo é um pouco diferente no coração de cada pessoa; é mais ou menos nítida, assim como ao longo dos séculos tivemos as mais variadas apresentações iconográficas da figura de Jesus. Cada uma dessas imagens acentua mais algum aspecto específico, e absolutamente nenhuma delas constitui o seu fiel reflexo. Podemos lembrar aqui o poema do Novalis e dizer:
“Posso Te contemplar em mil quadros,
meu Jesus, onde estás bem apresentado.
Mas nenhum deles pode expressar-Te assim,
como dentro de minha alma estás presente.”
O que, então, está acontecendo com este Jesus de Nazaré? Estamos aqui diante da pergunta que Ele faz também para nós: “Mas vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Então queremos chegar mais perto dele: “Queremos ver Jesus” (Jo 12,21). É muito interessante poder ver Jesus transcendendo o seu tempo e o seu povo, descobrir a sua pátria terrestre e espiritual da qual Ele sucede “segundo carne” , e com isso mostrar como estão se cumprindo nele todas as expectativas de todos os séculos em relação a sua vida.
Inicialmente, Jesus aparece do jeito simples e normal, e não se destaca da vida das outras pessoas de Nazaré; é considerado filho de carpinteiro e os seus parentes são bem conhecidos. Porém, num certo momento Ele começa a traçar os seus próprios caminhos e lança exigências incomuns, até mesmo assustadoras.
Jesus de Nazaré
Algumas características da figura humana de Jesus ao mesmo tempo que parecem claras para os leitores do Novo Testamento, continuam incompreensíveis, confusas e inexplicáveis. Ele é, em todas as coisas, semelhante aos irmãos, “mas sem pecado” (Hb 2,17; 4,15).
Em tudo semelhante:
De acordo com todas as testemunhas Ele é, sem dúvida, um verdadeiro homem. Mas não tem sentido tentar hoje imaginar como realmente era a sua aparência física. Os Evangelhos neste aspecto fornecem apenas algumas dicas gerais. Não possuímos nenhuma sua imagem autêntica ou a fotografia, entretanto está certo de que fisicamente Jesus era saudável e como pessoa provocava grande impressão.
De acordo com todas as testemunhas Ele é, sem dúvida, um verdadeiro homem. Mas não tem sentido tentar hoje imaginar como realmente era a sua aparência física. Os Evangelhos neste aspecto fornecem apenas algumas dicas gerais. Não possuímos nenhuma sua imagem autêntica ou a fotografia, entretanto está certo de que fisicamente Jesus era saudável e como pessoa provocava grande impressão.
Também não se levanta nenhuma dúvida quanto a sua saúde psíquica. A sua mente aguda transparece e impressiona tanto no seu trato com os adversários, como no fato de que seus ensinamentos e parábolas foram sempre entendidos. Jesus demonstra uma vontade inflexível, que não tem nada de teimosia ou falta de sensibilidade. Isso prova a força e a constância do seu caráter e da sua personalidade incomum.
Precisa ainda acrescentar aqui a profundidade e a riqueza de seus sentimentos e o coração bem aberto, voltado para tudo que se refere ao homem e ao mundo. Uma prova viva de tudo isso são os relatos que falam dos seus encontros com as pessoas e também as suas parábolas. Em Jesus não tem nada de louco ou de sonhador fanático, como muitos gostariam de considerá-lo. Ele se destaca de todos pela grande sensibilidade para com a felicidade humana e com o sofrimento – está alegre com os alegres, e fica triste com os tristes. Conhece o valor da amizade, como também a dor de rejeição maliciosa, a qual não pretende retribuir. Ficamos muito impressionados, quando lembramos aqui os encontros de Jesus com as diferentes pessoas, particularmente com as mulheres. Ao mesmo tempo Ele está aberto à natureza e à cultura, isto é, aberto ao mundo.
Se é errado considerar Jesus um reformador social ou apóstolo do humanitarismo, também de jeito nenhum não pode se negar que da sua boca sai a afirmação de todos os valores terrestres. Aqui é singular a sua relação com a culpa do ser humano. Mesmo que Jesus sente fortemente o horror ao pecado quando este está escondido no mais íntimo do coração do homem, a sua compreensão e o perdão dirigidos ao pecador também sempre são igualmente grandes. Não há ninguém outro na terra que pode libertar o homem e novamente dar-lhe uma outra chance. Os últimos, os excluídos, esquecidos, os indivíduos da margem, são os mais próximos para Ele. Ele “veio para buscar e salvar o perdido” (Lc 19,10).
Com exceção do pecado:
Em Jesus, com tudo que acontece nele próprio, não tem nem vestígio do pecado. Ele não tem o sentimento de culpa, não tem a necessidade de conversão. Nem os seus amigos, nem os seus adversários não podem provar para Ele que tenha algum pecado (Jo 8,46). Isto é praticamente inacreditável. Humanamente falando – não se encontra isso nunca, em nenhum lugar.
Em Jesus, com tudo que acontece nele próprio, não tem nem vestígio do pecado. Ele não tem o sentimento de culpa, não tem a necessidade de conversão. Nem os seus amigos, nem os seus adversários não podem provar para Ele que tenha algum pecado (Jo 8,46). Isto é praticamente inacreditável. Humanamente falando – não se encontra isso nunca, em nenhum lugar.
Então, Jesus é alguém extraordinário, incomum. Isso fica ainda mais claro quando se examina detalhadamente a sua doutrina. Ela é incomparável na sua simplicidade e procedência – até mesmo na opinião dos adversários do cristianismo – e fica solitária no meio de todas outras doutrinas religiosas do mundo inteiro.
Sempre essa era a primeira reação das pessoas que ficaram em frente de Jesus, o que, como exemplo, se reflete no Evangelho segundo Marcos. Jesus não é somente um homem, mas alguém mais. Fica evidente que na pessoa do homem real – Jesus - tem algo mais profundo, diferente e maior.
Quanto ao seu conhecimento, Jesus supera a todos os homens e é um fenômeno inexplicável, porque nem a sua origem, nem o processo de educação e formação não justificam isso. Apesar de grande parentesco com o modo de pensar do Antigo Testamento e com as correntes intelectuais do seu tempo (por exemplo a seita do Qumran, perto do Mar Morto), a sua doutrina é incomum, ultrapassa tudo o que antes era conhecido. Ensina “como quem tem autoridade” (Mt 7,29). E “ninguém não falava assim, como este homem fala”(Jo 7,46). Todos O entendem, tanto uma pessoa simples, sincera e piedosa, como um filósofo em busca. Todas as pessoas, em todas as épocas, encontram fartamente aqui um rico conteúdo e material deixado por Jesus, que deve ser explorado.
Um milagre intelectual.
Um milagre intelectual.
Basta um olhar mais atencioso, mais “de perto”, para a vida de Jesus – e logo podemos sentir nele um força vitoriosa e singular. Encontramos aqui alguém, que exatamente vive tudo aquilo o que ensina.
Um milagre moral.
Ele coloca o acento não só para o cumprimento dos mandamentos no interior do coração, como também Ele próprio é encarnação das orientações e conselhos, mas sem exagero, sem cair na devoção exagerada e formal. Ao contrário, Jesus deixa o lugar para a consciência e para a decisão pessoal. A doutrina e a vida constituem uma unidade tão grande em Jesus, que ninguém fica surpreso quando Ele do anunciador e pregador passa a ser anunciado e proclamado.
Um milagre moral.
Ele coloca o acento não só para o cumprimento dos mandamentos no interior do coração, como também Ele próprio é encarnação das orientações e conselhos, mas sem exagero, sem cair na devoção exagerada e formal. Ao contrário, Jesus deixa o lugar para a consciência e para a decisão pessoal. A doutrina e a vida constituem uma unidade tão grande em Jesus, que ninguém fica surpreso quando Ele do anunciador e pregador passa a ser anunciado e proclamado.
Por mais que tentamos contemplar a pessoa de Jesus com na sua plena e total humanidade, isso não esgota o seu tema. Quem quer ser imparcial e avaliar a profundidade de todos os testemunhos sobre Jesus, vai encontrar as coisas que surpreendem e assustam, assim como os seus discípulos quando O viram andando sobre as águas: “Subiu com eles à barca e o vento se acalmou. Todos foram tomados de grande espanto.” (Mc 6,51).
Deus em Jesus Cristo
Por fim, este Jesus julga todas as categorias de pensamento. Não se encaixa em qualquer concepção já pronta, não é possível colocá-lo dentro dos esquemas estabelecidos. Aqui deve ter “algo mais” do que somente o homem (compare: “No dia do juízo os ninivitas vão levantar-se contra esta geração e condená-la. É que eles fizeram penitência ante a pregação de Jonas, e eis aqui mais do que Jonas”). Neste caso aparece uma exigência incomum, que é notada imediatamente também pelos seus contemporâneos, que reagem aceitando-a ou rejeitando. Aqui alguém afirma sobre si mesmo que é um Salvador decisivo e último. Isto significa que Jesus é mensageiro da última vontade de Deus e, simultaneamente, Ele é quem satisfará os mais profundos anseios do ser humano. Ele afirma também que se encontra numa única, misteriosa e supra-humana relação com Deus, a qual se realiza de maneira que ultrapassa qualquer imaginação, a ponto de constituir com Deus uma certa identidade. Jesus atua de tal jeito como se com ele e nele, o próprio Deus estivesse presente, e de uma maneira diferente como até agora, e fala e age já pela última vez e de forma inédita.
Atrás desta pretensão encontra-se a pessoa inteira de Jesus. Nunca antes aconteceu uma coisa assim, e desde aquele tempo continua sendo algo incomum e único. Além de Jesus, na história da humanidade, ninguém mais se apresentou assim e falou deste jeito. Nunca também nenhum homem teve uma pretensão deste tipo, conservando ao mesmo tempo extrema humildade e naturalidade. Isso é chocante e mexe muito com qualquer ser humano, exigindo uma resposta e posição adequada de qualquer um que se encontre frente a frente com Jesus. (...)
(KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris, Éditions Du Dialogue, 1981, p. 64-67)*
Continua...
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*Obs.:Para embasar as minhas pequenas reflexões (simples, diretas e questionadoras) acerca de perguntas que, suponho, perturbam a todos nós, sirvo-me do livro do Ferdinand Krenzer- “Morgen wird man wieder Glauben” e, usando aqui uma edição desse livro no idioma polonês (Taka jest nasza wiara), faço uma tradução livre (para o português) apontando alguns trechos, muito bem elaborados pelo autor. É um prazer seguir o seu pensamento.
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