Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

domingo, 2 de junho de 2013

“Dai-lhes vós de comer”. – uma reflexão maravilhosa.



Ainda no clima da Festa de Corpus Christi, mais uma maravilhosa reflexão sobre o texto do Evangelho  segundo Lucas (9, 11b-17), que fala do milagre de  multiplicação dos pães (cinco pães e dois peixes). Uma boa oportunidade para ler e meditar a Palavra de Deus e confrontá-la com a nossa práxis.

O comentário abaixo, é de autoria de M. Asun Gutiérrez Cabriada, da comunidade de Irmãs Beneditinas do Mosteiro de Montserrat, Espanha.
Não  deixe de ler.



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[Os interessados pedem ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o site das Monjas Beneditinas:  http://www.benedictinescat.com/montserrat/imatges/DomCorpC13port.pps    Trabalho muito bonito!]



“Alimenta aquele que morre de fome,
porque se não o alimentas estás a matá-lo”.

Vaticano II - G.S. 69 

Texto: Lucas 9, 11b-17. Corpo e Sangue de Jesus –C-
Comentários e apresentação: Asun Gutiérrez Cabriada.



Naquele tempo, estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam.

Jesus acolhe, ensina, cura, dá de comer. Não se limita a falar do Reino, põe-no em prática dando de comer e curando os que necessitam.
Um dos traços característicos do evangelho de Lucas é o das refeições de Jesus com publicanos e pecadores. Nelas, com o seu acolhimento a todos, fazia experimentar a àqueles e àquelas com quem partilhava mesa que Deus já estava cumprindo as suas promessas de plenitude e de consolo.

O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe:
«Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento
às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto».

Jesus não partilha o critério exclusivista dos que se consideram grupo eleito, com mais direito a açambarcar e a estar próximo d’Ele sem lhes importar o que aconteça aos outros.
Disse-lhes Jesus:
«Dai-lhes vós de comer».

“Dai-lhes vós de comer”. A recomendação de Jesus é para cada um de nós. Dar de comer faz parte da missão do anúncio do Reino.
Jesus estabelece uma estreita relação entre o alimento espiritual e o alimento material.
Há alimentos suficientes para toda a humanidade, há meios para construir um mundo mais digno e justo par todos.
Hoje não seria necessário multiplicar os alimentos, bastaria dividi-los justa, solidária e equitativamente.

  Jean Ziegler


O drama da fome no mundo, é o mais grave dos dramas.  Os meios de comunicação social estão a fazer eco da fome que ameaça agora mesmo a mais de cem milhões de pessoas no mundo.  Cem milhões a juntar à multidão de pessoas que cada ano morrem de fome e miséria. Eis aqui as palavras rotundas de Jean Ziegler, delegado da ONU para assuntos alimentares do “silencioso assassinato em massa” a que está a levar o atual aumento de preços dos alimentos.
E não se morda a língua ao denunciar que “temos uma multidão de empresários, especuladores e bandidos financeiros que converteram em selvagem um mundo de desigualdade e de horror”.
Ainda que pareça que nem a compaixão pelos pobres nem o medo pela insegurança provoque no mundo rico, boa parte do qual se declara cristão, alguma reacção séria, decidida, eficaz, para mudar o atual estado de coisas.

 Como é possível que esta mensagem não se traduza em gestos concretos, em caminhos de amor e de justiça?

A campanha “Pobreza Zero” disse-nos que “a humanidade tem hoje em suas mãos a capacidade de acabar com a fome no mundo”. Convidou-nos  a reflectir: “Como julgará a História a uma geração que pôde acabar com a fome no mundo e não o fez?”
 ....... 



Te animo a procurar com outras pessoas, crentes e não crentes, vias e ações de solidariedade para com as pessoas mais desfavorecidas  do nosso mundo.
Cumpriremos assim o desejo de Jesus: “Dai-lhes vós de comer!”.

Mas eles responderam:
«Não temos senão cinco pães e dois peixes... Só se formos nós mesmos
comprar comida para todo este povo».
Eram de facto uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos:
«Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
Eles assim fizeram, e todos se sentaram.

Aparece a visão realista dos discípulos: têm comida suficiente para eles, os outros, os que não têm, que se arranjem como puderem.
Os seus valores continuam a ser os da sociedade injusta à qual Jesus convida a renunciar:  “Não leveis nem cajado, nem alforge, nem dinheiro...”
E a visão utópica de Jesus: dai-lhes de comer a todos. Não guardeis nada para vós.
A soluão não está em comprar. A solução está em partilhar. Essa é a lógica do Reino.

Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão. 

O anúncio do Reino abarca também a solução das necessidades materiais das pessoas.
O gesto  de Jesus recorda as suas refeições e a sua recomendação de que façamos vida, em sua memória, o seu exemplo de acolhimento, solidariedade, amor mútuo, vida partilhada, o seu convite a ser alimento e alento para os outros.
Trata-se de fazer o que Ele fez e viver como Ele viveu. Fazer vida e comunicar a sua Boa Notícia.

Todos comeram e ficaram saciados;
e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.

Quando se parte e reparte há de sobra para todos. Todo o ato de fé e de bondade, todo o gesto de amor, toda a palavra de ternura e perdão, toda a mostra de alegria, se multiplica e torna mais feliz a nossa vida e a dos outros.

Curar, acolher, libertar, alimentar, partilhar o pão da alegria, da esperança, da Boa Notícia é a única maneira de seguir a recomendação de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”.


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O milagre de partilhar

Aqui há cinco pães e dois peixes!
São os primeiros do banquete.
E tu, o que é que tens?
Esvazia o teu alforge e, ligeiro,
pergunta ao teu companheiro
se quer pôr também ele aquilo que leva. Fazei passar a palavra.
Que se faça mesa fraterna;
que ninguém guarde o pão de hoje para amanhã.
Desprendei-vos do que levais às costas.
Levantai os olhos para o céu
e agradecei ao Deus da vida.
Os que nada tinham, repartiram.
Chegou para todos
e ainda sobrou para sonhar utopias.
Graças, Senhor,
por derrubares as nossas muralhas
e nos ensinares a partilhar
seguindo a tua Palavra.

F.Ulibarri.







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