Uma materia que merece ser
divulgada. Quem sabe, talvez chegue o dia em que a sociedade brasileira “acorde” para se dar
conta de que não pode continuar ficando cúmplice de crimes e
desrespeito em relação aos povos indígenas, que ainda nos dias de hoje – muitos
deles! – lutam pela sua sobrevivência. Não basta de genocidio absurdo, que durante
os cinco séculos passados ceifou a vida de milhões de indígenas, que estavam
aqui muito antes da chegada do homem branco? A sociedade pode ficar calada
diante do mesmo drama desses poucos povos indígenas que lutam pela sua vida e
pelos seus direitos? Ou será que a Constituição deste país só vale para os mais fortes?
O texto é do indigenista
Egon Heck, e foi publicado recentemente no site do Instituto Humanitas
Unisinos(IHU).
Não deixe de
ler.
WCejnog
Notícias
Sábado, 01 de junho de 2013
“Estamos
em véspera do Encontro Mundial da Juventude, quem sabe não seria a oportunidade
de dizer para o Brasil e o mundo, porque nas últimas décadas se suicidaram 555
Kaiowá Guarani, sendo a grande maioria jovens. Talvez o Papa Francisco
intercedesse junto ao governo brasileiro para por fim a esse processo de
genocídio em curso no Mato Grosso do sul e outros estados”. O comentário é do
indigenista Egon Heck em artigo publicado em seu blog, 30-05-2013.
Eis
o artigo.
Produtores
rurais de Mato Grosso do Sul se reuniram na terça-feira (28) com a
ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi
Hoffmann, para pedir a suspensão da demarcação de terras
indígenas no estado até que os processos sejam submetidos a pareceres da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e dos ministérios da
Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. A interrupção da criação de novas
reservas indígenas está suspensa no Paraná e o mesmo também deve ocorrer no Rio
Grande do Sul por determinação do governo federal.
Segundo
o presidente da Frente Nacional Agropecuária, Francisco Maia, os produtores saíram
da reunião de terça-feira sem respostas do governo. "Chegamos com um
problema grave e estamos saindo com o mesmo". Maia disse que os
produtores rurais do sul do estado estão dispostos "a parar o país para
cobrar uma decisão do governo federal em relação aos conflitos fundiários em
Mato Grosso do Sul”. (Ambiente
Brasil, 29/05/2013)
"Após
a mobilização da Assembleia Legislativa em Brasília ontem, o Governo federal
anunciou que interromperá temporariamente os processos para demarcação de
aldeias indígenas em 28 municípios de Mato Grosso do Sul até que o Ministério
da Justiça e a Casa Civil da Presidência da República recebam estudos de outros
órgãos envolvidos nas questões fundiárias”. (Correio
do Estado - MS, 29-05-13).
Hipocrisia. Pouca vergonha. O que se
está fazendo com os povos e direitos indígenas neste país, só teve precedentes,
na década de sessenta e setenta, com um processo de genocídio programado e
planejado pela ditadura militar e interesses econômicos ávidos por assaltar os
recursos naturais das terras indígenas.
Quando,
em 1966, o Serviço de Proteção aos Índios - SPI, pediu de volta os Toldos (Terras
Indígenas) cuja proteção lhe havia sido cedida ao Estado do Rio Grande do Sul,
por acordo com o órgão federal, os governantes ficaram perplexos e
enrubescidos, por não saber o que devolver, pois já haviam se
locupletado às custas da espoliação e retaliação das terras indígenas.
Não tinham como devolver os espólios, pois vários já se haviam eleito ou
estavam ocupando cargos no governo às custas do voto e das promessas aos
pequenos e grandes produtores e empresários rurais. E agora, quando os povos
indígenas exigem seus direitos recuperando pequenas partes das terras que lhes
foram tiradas, vem novamente os políticos e governantes com mais uma
barbaridade: suspensão das demarcações de terra.
Seria
bom que os envolvidos em mais essa tramoia anti-indígena, já que possuem tanto
tempo para, maquiavelicamente tirar os direitos dos povos indígenas, sentassem
na varanda ventilada de suas casas e mansões e começassem a ler as 7 mil
páginas do Relatório Figueiredo (de 1967-68), para ver se sentem alguma
dor e remorso no coração e na consciência. Quem sabe então pediriam ao governo
federal que cumpra com agilidade seu dever constitucional parar demarcar todas
as terras indígenas do país, o que já deveria ter acontecido há 25 anos .
Em
1978, quando a lei 6.001, Estatuto do Índio, determinava que todas as terras
indígenas deveriam estar demarcadas, o então ministro do Interior, general Rangel Reis, propôs
a "emancipação" dos índios e de suas terras. Em 1993, quando a
Constituição determinava que todas as terras indígenas deveriam estar
demarcadas pelo governo federal, parlamentares e setores do governo pleitearam
a revisão constitucional para impedir a demarcação das terras indígenas e
escancará-las à exploração, principalmente de madeireiras e mineradoras.
Aumentaram
as invasões e violências contra os povos indígenas. A Terra Indígena
Yanomami chegou a ser invadida por mais de 40 mil garimpeiros. Em junho de 1993
aconteceu o massacre de Haximu, em Roraima,no qual foram mortos 16 Yanomami.
Já
que existe tanta disposição de parar o país para garantir os vultosos
lucros obtidos pelos senhores do agronegócio e seus eleitos, porque não
fazê-lo para exigir do governo federal o cumprimento da Constituição? Porque
sacrificar no altar do progresso a vida de comunidades e povos como dos Terena
e Kaiowá Guarani? Nos últimos dez anos
foram mais de 300 assassinatos de membros desse povo, seja pela luta por suas
terras, seja em decorrência dos confinamentos e acampamentos às beiras das
estradas.
Funcionários
da Embrapa
não sejam cúmplices de massacres e extermínios de populações indígenas e de
destruição da natureza.
Estamos
em véspera do Encontro Mundial da Juventude, quem sabe não seria a oportunidade
de dizer para o Brasil e o mundo, porque nas
últimas décadas se suicidaram 555 Kaiowá Guarani, sendo a grande maioria
jovens. Talvez o Papa Francisco intercedesse junto ao governo brasileiro para
por fim a esse processo de genocídio em curso no Mato Grosso do sul e outros
estados.
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