Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 19 de julho de 2014

As metáforas que revelam os segredos do Reino de Deus – Comentário bíblico de M. Assun Gutiérrez. Muito interessante!


“Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: ‘Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo’.” (Mt 13, 34-35)

As parábolas que falam do reino dos Céus. Muito expressivas!
O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto  Mateus 13, 24-43 é  muito bem feito. É uma excelente oportunidade para quem procura compreender melhor a mensagem contida na Bíblia.
WCejnog


Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montserrat.  www.benedictinescat.com/montserrat  Trabalho muito bonito!


Para Jesus, a verdadeira metáfora do reino de Deus não é o cedro,
que faz pensar em algo grandioso e poderoso, mas a mostarda,
que sugere algo débil, insignificante e pequeno.
A parábola teve que lhes entrar muito nom íntimo.
Como podia Jesus comparar o poder salvador de Deus com um arbusto saido duma semente tão pequena? Tinha que abandonar a tradição que falava de um Deus grande e poderoso?  Tinha que se esquecer das suas grandes façanhas do passado e estar atentos a um Deus que já está atuando no pequeno e insignificante?
Teria Jesus razão?
Cada um tinha que decidir: ou continuar à espera da chegada de um Deus poderoso e terrível, ou arriscar-se a crer na sua ação salvadora
presente na atuação humilde de Jesus.

José Antonio Pagola.
Jesus: uma abordagem histórica



Comentário
Naquele tempo,
 Jesus disse às multidões mais esta parábola:
- O reino dos Céus pode comparar-se
a um homem que semeou boa semente
no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo,
semeou joio no meio do trigo e foi-se embora.
Quando o trigo cresceu e começou a espigar,
apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram dizer-lhe:
‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo?
Donde vem então o joio?’ Ele respondeu-lhes:
 ‘Foi um inimigo que fez isso.’

Esta parábola, que só se encontra em Mateus, é tomada da vida quotidiana. Jesus fala num ambiente onde as vinganças entre lavradores eram frequentes. O tema, como em todas as parábolas deste capítulo, é o reino de Deus, como atua o Pai, o projeto de vida que Deus tem para a humanidade.
Se o projeto do Pai é o primeiro e o fundamental para Jesus, também o deve ser para nós.

Disseram-lhe os servos:
«Queres que vamos arrancar o joio?»

Esta parábola tem plena atualidade. Observamos com frequência atitudes que defendem o pensamento único. Que ninguém pense de maneira diferente dos que decidiram, no seu posto de mando, o que é trigo e o que é joio. E propõem-se, quase que com uma ordem divina, arrancar de raiz o que consideram joio. É a grande tentação: julgarem-se na posse da verdade, pretender ter a decisão sobre o bem e o mal, traçar a linha do mal, e tratar de acabar com o que declararam mau. É a pretensão de todos os fanatismos.
É a tentação de usurpar o lugar de Deus, crendo-se com o poder e o dever de tomar decisões definitivas e graves que só a Deus competem.

Ele disse-lhes: «Não, não suceda que,
ao arrancardes o joio,
arranqueis também o trigo.
Deixai-os crescer ambos até à ceifa e,
na altura da ceifa, direi aos ceifeiros:
Apanhai primeiro o joio
e atai-o em molhos para queimar;
e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro».

Ainda que sejam muito diferentes, enquanto crescem é muito difícil distinguir o trigo e o joio. É uma terra em que escassa a madeira onde nenhum combustível se desaproveita. Os abrolhos e plantas espinhosas, quando secavam, usavam-se como combustível.
O julgamento de Deus está cheio de paciência, compaixão e indulgência. Ele conhece bem o seu campo. Dá tempo a todos, respeita o ritmo de cada pessoa.
Contra o desejo de levantar muros, separar, arrancar, excomungar, cortar o mal pela raiz, julgar-se melhores que os outros..., está a novidade de Jesus.
Ele mostra-nos a forma de atuar do Pai, ensinando-nos como devemos atuar. 
Sou humano, paciente, compassivo e misericordioso comigo mesmo?
E com os outros?

Jesus disse-lhes outra parábola:
- O reino dos Céus pode comparar-se
ao grão de mostarda que um homem tomou
e semeou no seu campo.
Sendo a menor de todas as sementes,
depois de crescer, é a maior de todas as hortaliças
e torna-se árvore, de modo que aves do céu
vêm abrigar-se nos seus ramos.

Jesus compara o Reino com o grão de mostarda, com a grandeza do que é pequeno, mas cheio de energia.
Oferece uma imagem do Reino em que contrasta o seu inicio pequeno, quase insignificante, com as possibilidades e a força da semente que leva à plenitude. O Reino explodirá, explode cada dia de forma grandiosa, mesmo que a sua aparência seja pequena.
É um convite a trabalhar pelo Reino, com entusiasmo e esperança, evitando o triunfalismo. A tarefa vale a pena.

Disse-lhes outra parábola:
- O reino dos Céus pode comparar-se
ao fermento que uma mulher
toma e mistura em três medidas de farinha,
até ficar tudo levedado.

O fermento é bom modelo para os cristãos de todos os tempos.
O fermento representa a ação invisível, toda essa vida que não vemos.
O fermento não só frutifica em si mesmo, mas influencia em tudo o que o rodeia.
Não é só crescimento, mas transformação.
O que parecia inerte torna-se vivo, o insípido torna-se saboroso.
Acolher o Fermento na nossa vida é aceitar uma transformação que nos faça alimento e serviço. É ter a capacidade e a simplicidade para transformar a convivência humana a partir de dentro e do íntimo, sem fazer ruído, desaparecendo na massa, para que tudo fermente.

Tudo isto disse Jesus em parábolas,
e sem parábolas nada lhes dizia,
a fim de se cumprir o que fora anunciado
pelo profeta, que disse:
‘Abrirei a minha boca em parábolas,
proclamarei verdades ocultas
desde a criação do mundo’.
Jesus deixou então as multidões e foi para casa.
Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-lhe:
‘Explica-nos a parábola do joio no campo’.

Fazer do complexo algo simples, ajudar a crer, a crescer, a confiar, pôr um sorriso e um desejo de se fazer entender, é uma parte importante do amor. Porque o amor não é complicado e Deus, que é amor, não é complicado.
O mais importante não é querer ver, saber e entender tudo.
O fundamental é crer e confiar n’Ele! Basta-nos saber que a misericórdia, a paciência, a justiça, a compaixão, o amor, têm nome próprio: Jesus.               

Jesus respondeu: - Aquele que semeia a boa semente
é o Filho do homem e o campo é o mundo.
A boa semente são os filhos do Reino,
o joio são os filhos do maligno
e o inimigo que o semeou é o diabo.
A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Como o joio é apanhado e queimado no fogo,
assim será no fim do mundo:
o Filho do homem enviará os seus anjos,
que tirarão do seu reino todos os
escandalosos e todos os que praticam a iniquidade,
e hão-de lançá-los na fornalha ardente:
aí haverá choro e ranger de dentes.
E os justos brilharão como o sol
no Reino do seu Pai.
Quem tem ouvidos, ouça.

As parábolas refletem e revelam uma imagem nova de Deus.
Não é um Deus triunfador. A sua obra não é esplendorosa, mas modesta (mostarda), não se realiza sem dificuldades, mas entre elas (joio).
É Juiz misericordioso, compassivo, paciente. Temos a sorte de que é Ele quem faz justiça. Nós não temos a missão de julgar nem de condenar. Ninguém tem a missão de julgar nem de condenar os outros. Compete-nos continuar a semear, cuidando o campo, e regando, para que a colheita do Reino seja o mais fecunda possível.

Uma semente com o teu nome.

Tu és, Jesus, a primeira semente do Reino de Deus.
Tu és a primeira árvore, o primeiro fermento.
O Reino de Deus vem contigo.
Se confio em Ti, eu também serei Reino de Deus.
E crescerei.
E terei lugar para todos os que vierem.
E fermentarei.
E farei fermentar a todos os que encontrar.
Crescerá na escuridão a tua semente dentro de mim,
com toda a segurança!
E crescerá nos meus companheiros.
E semearemos todos juntos,
contigo,
uma semente;
uma semente com o teu nome
no campo do mundo.
E será a terra, por nós,
um pouco mais que antes
o Reino de Deus.


Patxi Loidi

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