“Neste mesmo tempo
contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos
misturara com os seus sacrifícios. Jesus toma a palavra e lhes pergunta:
“Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros
galileus, por terem sido tratados desse modo? Não, digo-vos. Mas se não
vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de
Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de
Jerusalém? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos
do mesmo modo”. (Lc 13, 1-5)
Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano
de fundo o texto bíblico Lc 13, 1-9. É de autoria do padre e teólogo espanhol
José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU - Notícias
Sexta,
26 de fevereiro de 2016
Onde estamos nós?
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lc 13, 1-9 que corresponde
ao 3° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
Uns desconhecidos
comunicam a Jesus a notícia da horrível matança de alguns galileus no recinto
sagrado do templo. O autor foi, mais uma vez, Pilatos. O que mais os horroriza
é que o sangue daqueles homens se tenha misturado com o sangue dos animais que
estavam para oferecer a Deus.
Não sabemos por que
recorrem a Jesus. Desejam que se solidarize com as vítimas? Querem
que lhes explique que horrendo pecado foi cometido para merecer uma morte tão
ignominiosa? E se não pecaram, por que Deus permitiu aquela morte sacrílega no
Seu próprio templo?
Jesus responde
recordando outro acontecimento dramático ocorrido em Jerusalém: a morte de
dezoito pessoas esmagadas pela queda de um torreão da muralha próxima da
piscina de Siloé. Pois bem, em ambas as situações Jesus faz a mesma afirmação:
as vítimas não eram mais pecadoras que outros. E termina Sua intervenção com a
mesma advertência: «se não vos converteis, todos perecereis».
A resposta de Jesus faz
pensar. Antes de tudo, recusa a crença tradicional de que as desgraças
são um castigo de Deus. Jesus não pensa num Deus «justiceiro» que vai
castigando os Seus filhos e filhas repartindo aqui ou ali doenças, acidentes ou
desgraças, como resposta a Seus pecados.
Depois, muda a
perspectiva da situação. Não se detém em elucubrações teóricas sobre a origem
última das desgraças, falando da culpa das vítimas ou da vontade de Deus. Volta
o Seu olhar para os presentes e confronta-os consigo mesmos: devem
escutar nestes acontecimentos a chamada de Deus à conversão e à mudança de vida.
Todavia vivemos abalados
pelo trágico terremoto do Haiti. Como ler esta tragédia a partir da atitude de
Jesus? Certamente, em primeiro lugar não é perguntar-nos onde está
Deus, mas onde estamos nós. A pergunta que pode encaminhar-nos para uma
conversão não é “por que Deus permite esta horrível desgraça?”, mas “como nós
consentimos que tantos seres humanos vivam na miséria, tão indefesos ante a
força da natureza?”.
Ao Deus crucificado não
o encontraremos pedindo contas a uma divindade longínqua, mas identificando-nos
com as vítimas. Não o descobriremos protestando da Sua
indiferença ou negando a Sua existência, mas colaborando de mil formas por
mitigar a dor no Haiti e no mundo inteiro. Então, talvez, possamos intuir entre
luzes e sombras que Deus está nas vítimas, defendendo Sua dignidade eterna e
nos que lutam contra o mal, alentando o seu combate.
Fonte: IHU - Notícias
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