“Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e
exclamou: “Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”. (Lc 5, 8)
Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano
de fundo o texto bíblico Lc 5,1-11 (pesca
milagrosa). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio
Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
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IHU - Notícias
Sexta, 05 de fevereiro de 2016
Reconhecer o pecado
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 5,1-11 que
corresponde ao Quinto Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O
teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O relato da “pesca
milagrosa” no lago da Galileia foi muito popular entre os primeiros cristãos.
Vários evangelistas recolhem o episódio, mas só Lucas culmina a narração com
uma cena comovedora que tem por protagonista Simão Pedro, discípulo crente
e pecador ao mesmo tempo.
Pedro é um homem de fé,
seduzido por Jesus. As suas palavras têm para ele mais força que a sua própria
experiência. Pedro sabe que ninguém se põe a pescar ao meio dia no lago,
sobretudo se não pescaram nada pela noite. Mas foi dito por Jesus e Pedro
confia totalmente nele: “Mas em atenção à tua palavra, vou lançar as
redes”.
Pedro é, ao mesmo tempo, um homem de coração sincero. Surpreendido pela enorme
pesca obtida, “atira-se aos pés de Jesus” e com uma espontaneidade admirável
diz-lhe:“Afasta-te de mim, que sou pecador”. Pedro reconhece ante todos
o seu pecado e a sua absoluta indignidade para conviver de perto com Jesus.
Jesus não se assusta de
ter a seu lado um discípulo pecador. Pelo contrário, sentindo-se pecador, Pedro
poderá compreender melhor a sua mensagem de perdão para todos e o seu
acolhimento a pecadores e indesejáveis. ”Não temas. Desde agora, serás
pescador de homens”. Jesus tira-lhe o medo de ser um discípulo pecador e
associa-o à sua missão de reunir e convocar a homens e mulheres de todas as
condições a entrar no projeto salvador de Deus.
Porque a Igreja resiste
tanto a reconhecer os seus pecados e a confessar a sua necessidade de
conversão? A Igreja é de Jesus Cristo, mas ela não é Jesus Cristo. A ninguém
pode estranhar que ela tenha pecado. A Igreja é “santa” porque vive animada
pelo Espírito Santo de Jesus, mas é “pecadora” porque, não poucas vezes, resiste a esse Espírito e se afasta do evangelho. O pecado está nos crentes e
nas instituições; na hierarquia e no povo de Deus; nos pastores e nas
comunidades cristãs. Todos somos necessitados de conversão.
É muito grave
habituar-nos a ocultar a verdade, pois nos impede de comprometer-nos numa
dinâmica de conversão e renovação. Por outro lado, não é mais
evangélica uma Igreja frágil e vulnerável que tem a coragem de reconhecer os
seus pecados, do que uma instituição empenhada inutilmente em ocultar
ao mundo as suas misérias? Não são mais credíveis nossas comunidades quando
colaboram com Cristo na tarefa evangelizadora, reconhecendo humildemente seus
pecados e comprometendo-se a uma vida cada vez mais evangélica? Não temos muito
que aprender também hoje do grande apóstolo Pedro reconhecendo o seu pecado aos
pés de Jesus?
Fonte: IHU - Notícias
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