Assistimos
perplexos o aumento do clima de tensão na arena mundial em várias regiões do
mundo e sobretudo no Oriente Médio. A
guerra no Iraque, na Síria e na Líbia ceifa diariamente muitas vidas humanas, a
maioria de pessoas inocentes. As grandes ondas de refugiados e imigrantes que nos
últimos anos fogem de seus países em
guerra para procurar abrigo na Europa criam hoje novos e sérios problemas e
desafios para as sociedades do Ocidente. O sofrimento e a morte de tantos seres
humanos... A loucura e a irresponsabilidade que toma conta dos homens responsáveis
por tudo isso, tanto os políticos, chefes de estados e de forças militares,
como também os terroristas, os criminosos cegos e possuidos pela ideia de vingança
e morte contra tudo e todos... A inêrcia e a impotência da maior parte da
humanidade que está sendo mergulhada no
sofrimento e na dor.
Diante
dessa cena trágica não é difícil ficarmos desorientados e até perdidos,
desconfiando das versões “oficiais”, que a mídia tenta impôr à opinião publica
mundial. Desconfiamos que deve haver muito mais por trás desses conflitos e
políticas.
Com
o propósito de servir de ajuda na reflexão sobre a situação atual no mundo de
hoje para quem estiver interessado numa boa leitura trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania o texto A
desordem mundial: o espectro da total dominação (que é o título do
último livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira) de autiria do Leonardo Boff. Foi publicado pelo autor no seu blog em outubro do ano passado (2016).
Excelente.
Não deixe de ler.
WCejnóg
Blog
leonardoBOFF.com
A
desordem mundial: o espectro da total dominação
15/10/2016
O título é do último
livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira (Civilização Brasileira, 2016), o nosso
mais respeitado analista de política internacional. O autor teve acesso às mais
seguras fontes de informação, a múltiplos arquivos,
aliando tudo a um vasto conhecimento histórico. São 643 páginas
densas, mas escritas com tal fluidez e elegância que parece estarmos lendo um
romance histórico.
Moniz Bandeira é antes de
mais nada, um minucioso pesquisador e, ao mesmo tempo, um militante contra o
imperialismo estadunidense, cujas entranhas corta com um bisturi de
cirurgião. Não sem razão, foi preso entre 1969 e 1970 e novamente em 1973 pelo
temível Centro de Informações da Marinha (Cenimar), pois se opunha
criticamente, no contexto da guerra-fria, ao principal suporte da
ditadura: os Estados Unidos.
Os materiais de que
dispõe, lhe permitem denunciar a lógica imperial presente no sub-título: ”guerras
por procuração, terror, caos e catástrofes humanitárias”. Quem ainda nutre
admiração pela democracia norte-americana e procura se alinhar aos
desígnios imperiais (como fazem neo-liberais brasileiros), encontrará aqui
vasto material para reflexão crítica e dados para uma leitura
do mundo mais diferenciada.
Dois motes orientam o
centro do poder do estado norte-americano com seus inumeráveis órgaõs de
segurança interna e externa: ”um mundo e um só império” ou ”um só
projeto e o espectro da total dominação (full-spectrum
dominance/superiority)”. Quer dizer, a política externa norte-americana se
inspira no (ilusório) “excepcionalismo”, do velho “destino manifesto”, uma
variante “do povo eleito por Deus, raça superior”, chamada a difundir no mundo
todo a democracia, a liberdade e os direitos (sempre na interpretação imperial
que emprestam a estes termos) e se considerar (pretensamente) “a nação
indispensável e necessária”, ”âncora da segurança global” ou o “único poder” (lonely
power).
Já no século XVIII Edmund
Burke (1729-1797) e no século XIX o francês Alexis Tocqueville
(1805-1859), pressentiram que o presidente norte-americano detinha mais poderes
que um monarca absolutista. Isso degeneraria numa “military democracy” (p.
55).
Efetivamente, sob George
W. Bush por ocasião dos atentados às Torres Gêmeas”, se instaurou a
verdadeira democracia militar, com a declaração do “war on
terror” e a publicação do “patriotic act” que suspendeu os direitos
civis básicos até o habeas corpus e a permissão de torturas. Na verdade isso
configura um estado terrorista.
Como vários cientistas
norte-americanos, citados por Moniz Bandeira (p.470), afirmaram: “não há mais
uma democracia mas uma “economic élite domination” à qual se deve
submeter o presidente. As decisões são tomadas pelo complexo industrial-militar
(a máquina de guerra), por Wall Street (as finanças), por ponderosas
organizações de negócios e por um pequeno número de norte-americanos muito
influentes. Para garantir o “espectro da total dominação” são mantidas 800
instalações militares pelo mundo afora, a maioria com ogivas nucleares e 16
agências de segurança com 107.035 civis e militares. Como afirmou H. Kissinger:
”a missão da América é levar a democracia, se necessário, pelo uso da força” (p.443).
Nesta lógica, de 1776-2015, portanto, em 239 anos de existência dos EUA, 218
foram anos de guerra, apenas 21 de paz (p. 472).
Esperava-se que Barack
Obama desse outro rumo a esta história violenta. Ilusão. Trocou apenas os
nomes, mas manteve todo o espírito excepcionalista e as torturas em Guantánamo
e em outros lugares fora dos EUA como no tempo de Bush. À “perpetual war”
deu o nome de “Oversee Contingency Operation”. Por decisão pessoal
(criminosa), autorizou centenas de ataques com drones e com aviões não
pilotados, vitimando as principais lideranças árabes (p. 476).
Com certa decepção,
constatou Bill Clinton, “desde 1945 os Estados Unidos não venceram
nenhuma Guerra” (p.312). Do Iraque fugiram em sigilo e na calada da noite
(p.508).
O livro de Moniz Bandeira
entra em detalhes mínimos sobre a Guerra na Ucrânia, na Criméia e no Estado
Islâmico na Síria, com os nomes dos principais atores e datas.
A conclusão é
avassaladora: ”Onde quer que os Estados Unidos intervieram, como o “specific
goal of bringing democracy”, a democracia constitui-se de bombardeios,
destruição, terror, massacres, caos e catástrofes humanitárias… entraram para
defender suas necessidades e interesses econômicos e geopolíticos, seus
interesses imperiais” (p.513).
A mole de informações
arroladas sustentam esta afirmação, não obstante as limitações que sempre
poderão ser apontadas.
* Leonardo Boff é
articulista do JB on line e escreveu Ethos Mundial: um consenso
mínimo entre os humanos, Record 2009.
Fonte: Blog leonardoBOFF.com
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