“Aproximaram-se da aldeia para onde iam e ele
fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram-no a parar: Fica
conosco, já é tarde e já declina o dia. Entrou então com eles. Aconteceu que,
estando sentado conjuntamente à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e
serviu-lho. Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram... mas ele
desapareceu. Diziam então um para o outro: Não se nos abrasava o coração,
quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?.” (Lc 24, 28-32)
Abaixo, uma reflexão bem concreta e atual, que tem como pano de fundo o
texto bíblico Lc 24, 13-35 (Discípulos
de Emaús). É de autoria do padre
e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU - Adital
28 abril 2017
Acolher a força do evangelho
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho segundo Lucas 24, 13-35 que corresponde ao Terceiro
Domingo de Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Dois discípulos de Jesus vão-se afastando de
Jerusalém. Caminham tristes e desolados. Quando o viram
morrer na cruz, nos seus corações apagou-se a esperança que tinham posto nele.
No entanto continuam pensando nele. Não o podem esquecer. Terá sido tudo uma
ilusão?
Enquanto conversam e discutem sobre tudo o que
viveram, Jesus aproxima-se e caminha com eles. No entanto, os
discípulos não o reconhecem. Aquele Jesus em quem tinham confiado e que tinham
amado com paixão parece-lhes agora um caminhante estranho.
Jesus junta-se à conversa. Os caminhantes
escutam-no primeiro surpreendidos, mas pouco a pouco algo vai despertando nos
seus corações. Não sabem exatamente o que lhes está a suceder. Mais
tarde dirão: «Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava
pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?».
Os caminhantes sentem-se atraídos pelas palavras de
Jesus. Chega um momento em que necessitam da Sua companhia. Não querem deixá-Lo
partir: «Fica conosco». Durante o jantar abrir-se-ão os olhos e o
reconhecem. Esta é a grande mensagem deste relato:quando acolhemos
Jesus como companheiro de caminho, suas palavras podem despertar em nós a
esperança perdida.
Durante estes anos, muitas pessoas perderam
a sua confiança em Jesus. Pouco a pouco converteu-se num personagem
estranho e irreconhecível. Tudo o que sabem dele é o que podem reconstruir, de
forma parcial e fragmentada, a partir do que escutaram a predicadores e
catequistas.
Sem dúvida, a homilia dos Domingos cumpre
uma função insubstituível, mas é claramente insuficiente para que as pessoas de
hoje possam entrar em contato direto e vivo com o Evangelho. Tal como se leva a
cabo, ante um povo que deve permanecer mudo, sem expor as suas inquietudes,
interrogações e problemas, é difícil que consiga regenerar a fé vacilante de
tantas pessoas que procuram, por vezes sem o saber, encontrar-se com Jesus.
Não terá chegado o momento de instaurar, fora do
contexto da liturgia dominical, um espaço novo e diferente para escutar juntos
o Evangelho de Jesus? Por que não reunirmos laicos e presbíteros,
mulheres e homens, cristãos convictos e pessoas que se interessam pela fé, para
escutar, partilhar, dialogar e acolher o Evangelho de Jesus?
Temos de dar ao Evangelho a oportunidade de entrar
com toda a sua força transformadora em contato direto e imediato com os
problemas, crises, medos e esperanças das pessoas de hoje. Em breve
será demasiado tarde para recuperar entre nós a frescura original do Evangelho. Hoje
é possível.
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