“ 'Vós viestes com espadas e paus para me prender, como
se eu fosse um assaltante. Todos os dias, no Templo, eu me sentava para
ensinar, e vós não me prendestes.' Porém, tudo isto aconteceu para se cumprir o que os profetas escreveram.
Então todos os discípulos, abandonando Jesus, fugiram.” (Mt 26,55-56)
Abaixo, uma pequena reflexão, muito expressíva e atual, que tem
como pano de fundo o texto bíblico Mt 26,
14 – 27,66 (Paixão de Jesus Cristo). É de autoria do padre e teólogo espanhol José
Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU - Adital
06 abril 2017.
Nada pode detê-lo
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 26,14-27,66 que corresponde ao Domingo de Ramos,
ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A execução do Batista
não foi algo casual. Segundo uma ideia muito disseminada pelo povo judeu, o
destino que espera o profeta é a incompreensão, a rejeição e, em muitos casos,
a morte. Provavelmente, Jesus contou desde muito cedo com a
possibilidade de um final violento.
Mas Jesus não foi um
suicida. Tampouco procurava o martírio. Nunca quis o sofrimento nem para Ele
nem para ninguém. Dedicou sua vida a combater a doença, as injustiças, a
marginalização ou o desespero.
Viveu entregue a
«procurar o reino de Deus e sua justiça»: esse mundo mais digno e ditoso para
todos que procuram seu Pai.
Se Jesus aceita a
perseguição e o martírio, é por fidelidade a esse projeto de Deus, que não quer
ver sofrer os Seus filhos e filhas. Por isso não corre para a morte, mas
tampouco se atira para trás. Não foge diante das ameaças, tampouco modifica sua mensagem nem se
desdiz das suas afirmações na defesa dos últimos.
Seria fácil evitar a
execução. Bastaria calar-se e não insistir no que poderia irritar o templo ou o
palácio do prefeito romano. Não o fez. Seguiu seu caminho. Preferiu
ser executado a trair sua consciência e ser infiel ao projeto de Deus, seu Pai.
Aprendeu a viver num
clima de insegurança, conflitos e acusações. Dia a dia foi-se reafirmando na
sua missão e continuou anunciando com clareza sua mensagem. Atreveu-se a
difundir não só nas aldeias retiradas da Galileia, mas nos arredores perigosos
do templo. Nada o deteve.
Morrerá fiel ao Deus
em quem sempre confiou. Continuará acolhendo a todos, inclusive a pecadores e
indesejáveis. Se ao fim é rejeitado, morrerá como um «excluído», mas com sua
morte confirmará o que foi toda sua vida: confiança total num Deus que não
rejeita nem exclui ninguém do seu perdão.
Continuará a procurar
o reino de Deus e sua justiça, identificando-se com os mais pobres e
desprezados. Se um dia O executam no suplício da cruz, reservada para escravos,morrerá como o mais pobre e
desprezado, mas com sua morte selará para sempre sua fé num
Deus que quer a salvação do ser humano de tudo o que o escraviza.
Os seguidores de Jesus
descobrimos o Mistério último de Deus encarnado no seu amor e entrega extrema
ao ser humano. No amor desse crucificado está Deus
mesmo identificado com todos os que sofrem, gritando contra
todas as injustiças e perdoando os verdugos de todos os tempos. Neste Deus
pode-se acreditar ou não, mas não é possível zombar Dele. Nele nós cristãos
confiamos. Nada o deterá no seu empenho de salvar seus filhos e filhas.
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