Ainda no clima especial da Páscoa, trago hoje
para o blog Indagações-Zapytania uma boa
reflexão sobre o tema da ressurreição de Jesus Cristo. Para quem gosta e/ou
estiver interessado no tema, esta é uma oportunidade para uma tranquila
leitura.
O texto/reflexão de autoria do Pe. Adroaldo Palaoro,sj foi publicado recentemente no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Não deixe de ler!
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21 abril 2017
Ressurreição de Jesus, Ressurreição cósmica
Por Pe. Adroaldo Palaoro sj
“De repente, houve um grande tremor
de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se,
retirou a pedra e sentou-se nela”. (Mt 28,2)
A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo
Palaoro, sacerdote jesuíta, comentando o evangelho do 1° Domingo do
Tempo de Páscoa (23/04/2017) que corresponde ao Evangelho
segundo Mateus 28,1-10.
Iniciamos o Tempo Quaresmal sendo
convocados a refletir sobre os “biomas brasileiros e defesa da vida”.
Tal como Jesus, a natureza é também lugar do padecido, da harmonia
quebrada, da bondade violentada, da beleza ferida... “A criação geme em dores
de parto” (Rom 8,22).
Jesus e a Criação carregam a Cruz às costas
até o Gólgota.
Há uma crise ecológica que se alastra
rapidamente, quebrando o equilíbrio vital que sustenta a natureza toda. O uso
desordenado dos recursos naturais e o “descuido” como modo habitual de viver,
faz sofrer tanto o ser humano como a própria natureza.
No entanto, a novidade do universo é
expressa pelo Apocalipse: “Eis que faço novas todas as coisas”-
21,5).
A Ressurreição de Jesus nos
oferece uma perspectiva para ver essa novidade , enquanto a “comunidade de
vida” se desenvolve e caminha em direção ao “Grande Mar Cósmico”.
“Na verdade, o ventre da Terra
contraiu-se, a natureza gemeu em dores de parto. O túmulo rompeu-se e a pedra
rolou. De repente a Vida!”. (Zé Vicente)
O “mistério pascal” é o salto para a
novidade, para a beleza, para a transcendência. Imersos na natureza, a Ressurreição nos
faz descobrir a verdadeira extensão da Vida.
A luz da Ressurreição ilumina
toda a Criação: a vida de Cristo na vida da Terra nos traz alegria
e esperança. O universo inteiro é o “habitat” do Cristo Cósmico.
A aparição de Jesus
Ressuscitado no primeiro dia da semana foi entendida como a aurora do
“primeiro dia” da Nova Criação de todas as coisas. À luz deste
“novo dia” de Deus, Cristo aparece como o primogênito de toda a Criação, que
reconcilia todas as coisas no céu e na terra.
O “primogênito entre os mortos” é
também o “primogênito de toda criatura”, por quem todas as coisas foram
criadas.
A Ressurreição pulsa
em nós e na natureza com o coração de Deus.
Em Cristo, todas as criaturas apontam
para o Criador. Elas também apontam para além de si mesmas, para o
futuro da redenção, para sua forma verdadeira e permanente no Reino de
Deus.
À luz da Ressurreição compreendemos
a Criação como “criação de Deus”, porque confiamos na
fidelidade de seu Criador, e percebemos a capacidade que ela tem de
se transformar, em vista de sua plenitude.
A Ressurreição é
colocada no grande contexto da Criação em que o próprio ser
humano participa.
A Ressurreição é
encontro com a vida plena, em um processo da Criação que chega
a seu desfecho.
Pela Ressurreição,
romperam-se todas as amarras do espaço e do tempo. Cristo ganhou uma dimensão
cósmica. A evolução se transformou numa verdadeira revolução.
O Gólgota remete aos
gemidos de parto, e o túmulo vazio representa a concretização do parto. Nova
história, nova criação está iniciada. O Cristo cósmico surge
então como motor da evolução, como seu libertador e seu plenificador.
A salvação é salvação de toda a Criação e
de todas as criaturas, e não pode ficar restrita à “salvação da alma humana”
nem à bem-aventurança da existência humana. A “ressurreição dos mortos” ocorre
nesta terra e leva os que receberam a vida para uma “nova terra onde mora a
justiça, de acordo com sua pro-messa” (2Pd 3,13). O Reino de Deus não
é um reino “no” céu, mas ele vem “assim na terra como no céu”. Ressurreição e
vida eterna são promessas de Deus para os todos os seres desta terra.
Por isso, também a ressurreição da
natureza há de levar não para o Além, mas para o Aquém da nova criação de todas
as coisas. Não é para o céu que Deus salva sua Criação, mas Ele renova a terra.
A terra é o palco da vinda do Reino
de Deus, por isso a ressurreição para o Reino de Deus é a
esperança desta terra. Sobre esta terra embebida em sangue esteve a Cruz de
Cristo, por isso Deus lhe permanece fiel e afastará dela toda dor, sofrimento e
morte, para Ele mesmo nela vir morar.
“O Reino de Deus é o reino da
ressurreição na terra” (Bonhoeffer).
Somos já “seres ressuscitados”:
sentimos hoje a urgência de seguir os caminhos de uma ética ecológica para que
possamos nos situar, na Criação, numa atitude participativa e de
cuidado responsável. Cresce um novo modo de pensar e de conceber o universo
enquanto “teia de relações”. Isto significa que há uma unidade fundamental
e uma vasta rede de inter-relações, conectados a todos os elementos da
natureza.
Todos os seres, vivos e não vivos,
são parceiros numa verdadeira “dança cósmica”, numa grande comunhão universal.
Fazemos parte de uma “rede” de relações múltiplas e recíprocas, nas quais o
próprio Cristo Ressuscitado se faz presente, como fonte de
vida. Para chegar a viver o Novo Céu e a Nova Terra é preciso
renovar radicalmente este céu tantas vezes opaco e esta terra tão violada.
Se não houver uma “salvação da natureza”,
também não poderá haver uma salvação definitiva do ser humano, pois os seres
humanos são seres da natureza. Isto obriga a todos os que esperam a
ressurreição a permanecerem fiéis à terra, a respeitá-la, cuidá-la e amá-la
como a si mesmos.
Na perspectiva da natureza, a ressurreição
de Cristo significa que com Ele teve início a universal “destruição da
morte” (1Cor. 15,26), e que se torna visível o futuro da Nova Criação,
quando a morte deixar de existir.
A ressurreição dos mortos, a
destruição da morte e a ressurreição da natureza constituem os pressupostos
para a eterna Criação que participa da habitação do Deus vivo
e eterno.
A Criação “no
princípio” está orientada para este fim. De acordo com isto “toda a Criação
geme conosco” e esta é a verdadeira ressurreição da natureza. Este é o lado
cósmico da esperança da ressurreição. As forças do pecado e da
morte, destrutivas e contrárias a Deus, são expulsas da criação, que é boa, e
na presença do Deus vivo esta se transformará em uma criação eternamente viva.
O Deus que ressuscita os mortos é o
mesmo Deus que chamou todas as coisas do nada à existência; Aquele que
ressuscitou Jesus dos mortos é o Criador do novo ser de todas
as coisas.
Ressurreição e Criação constituem,
portanto, uma unidade, pois a ressurreição dos mortos e a destruição da morte
são a completude da criação original.
Para
meditar na oração
Fico maravilhado com a nova
comunidade universal de vida que emerge da Noite Pascal. A Luz da Ressurreição
integra tudo.
Considero como nosso Senhor ressuscitado
revela toda a vida futura do universo como uma comunidade em evolução de
esplendor e diversidade crescentes. Reflito como Cristo nos leva a evoluir para
uma humanidade em plenitude, vivendo uma relação plena com todas as criaturas.
Fraternizo com todas as criaturas e
me faço humano em toda minha plenitude.
Páscoa: um salto para a
transcendência... para o Novo Céu e Nova terra.
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