Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 1 de abril de 2017

Assim quero morrer. – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



 "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." (Jo 11,25)


Abaixo, uma excelente reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 11, 1-45 (A morte e ressurreição de Lázaro). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de  ler!
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IHU - Adital
31 março 2017.

Assim quero morrer.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João 11, 1-45 que corresponde ao Quinto Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

Jesus nunca escondeu seu carinho pelos três irmãos que vivem em Betânia. Seguramente são os que o acolhem na sua casa sempre que sobe a Jerusalém. Um dia, Jesus recebe um recado: «O nosso irmão Lázaro, o teu amigo, está doente». Ao fim de pouco tempo Jesus encaminha-se para a pequena aldeia.

Quando se apresenta, Lázaro já morreu. Ao vê-lo chegar, Maria, a irmã mais jovem, põe-se a chorar. Ninguém a pode consolar. Ao ver chorar a sua amiga e também os judeus que a acompanham, Jesus não pode conter-se. Também Ele «se põe a chorar» junto deles. As pessoas comentam: “Como o queria!”.

Jesus não chora só pela morte de um amigo muito querido. Quebra-se sua alma ao sentir a impotência de todos ante a morte. Todos levamos no mais íntimo do nosso ser um desejo insaciável de viver. Por que temos de morrer? Por que a vida não é mais feliz, mais longa, mais segura, mais vida?

O homem de hoje, como em todas as épocas, leva cravada no seu coração a pergunta mais inquietante e mais difícil de responder: que vai ser de todos e cada um de nós? É inútil tratar de nos enganarmos. Que podemos fazer ante a morte? Revoltar-nos? Deprimir-nos?

Sem dúvida, a reação mais comum é esquecer e «seguir em frente». Mas, não está o ser humano chamado a viver a sua vida e a viver-se a si mesmo com lucidez e responsabilidade? Só próximo do nosso fim, havemos de nos acercar de forma inconsciente e irresponsável, sem tomar qualquer posição?

Ante o mistério último da morte, não é possível apelar a dogmas científicos nem religiosos. Não nos podemos guiar mais para além desta vida. Mais honrada parece a postura do escultor Eduardo Chillida, o qual, em certa ocasião, escutei-o dizer: «Da morte, a razão me diz que é definitiva. Da razão, a razão me diz que é limitada».

O cristão não sabe da outra vida mais que os outros. Também nós devemos aproximar-nos com humildade ao acontecimento obscuro da nossa morte. Mas fazemos com uma confiança radical na bondade do Mistério de Deus que vislumbramos em Jesus. Esse Jesus a quem, sem o termos visto, amamos e a quem, sem o ver ainda, damos a nossa confiança.

Esta confiança não pode ser entendida a partir de fora. Só pode ser vivida por quem respondeu, com fé simples, às palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Acreditas nisto?».

Recentemente, Hans Küng, o teólogo católico mais crítico do século XX, próximo já do seu fim, disse que, para ele, morrer é «descansar no mistério da misericórdia de Deus». Assim eu quero morrer.


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