"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele
que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." (Jo 11,25)
Abaixo, uma excelente reflexão, muito concreta e atual, que tem como
pano de fundo o texto bíblico Jo 11, 1-45 (A morte e ressurreição de Lázaro). É
de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU - Adital
31 março 2017.
Assim quero morrer.
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho segundo João 11, 1-45 que corresponde ao Quinto Domingo
de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o
texto
Jesus nunca escondeu seu carinho
pelos três irmãos que vivem em Betânia. Seguramente são os que o acolhem na sua
casa sempre que sobe a Jerusalém. Um dia, Jesus recebe um recado: «O nosso
irmão Lázaro, o teu amigo, está doente». Ao fim de pouco tempo Jesus
encaminha-se para a pequena aldeia.
Quando se apresenta, Lázaro já morreu. Ao vê-lo chegar,
Maria, a irmã mais jovem, põe-se a chorar. Ninguém a pode consolar. Ao ver
chorar a sua amiga e também os judeus que a acompanham, Jesus não pode
conter-se. Também Ele «se põe a chorar» junto deles. As pessoas comentam:
“Como o queria!”.
Jesus não chora só pela morte de um
amigo muito querido. Quebra-se sua alma ao sentir a impotência de todos
ante a morte. Todos levamos no mais íntimo do nosso ser um desejo
insaciável de viver. Por que temos de morrer? Por que a vida não é mais feliz,
mais longa, mais segura, mais vida?
O homem de hoje, como em todas as
épocas, leva cravada no seu coração a pergunta mais inquietante e mais difícil
de responder: que vai ser de todos e cada um de nós? É inútil tratar de nos
enganarmos. Que podemos fazer ante a morte? Revoltar-nos? Deprimir-nos?
Sem dúvida, a reação mais
comum é esquecer e «seguir em frente». Mas, não está o ser humano chamado a
viver a sua vida e a viver-se a si mesmo com lucidez e responsabilidade? Só
próximo do nosso fim, havemos de nos acercar de forma inconsciente e
irresponsável, sem tomar qualquer posição?
Ante o mistério último da morte, não
é possível apelar a dogmas científicos nem religiosos. Não nos podemos guiar
mais para além desta vida. Mais honrada parece a postura do escultor Eduardo
Chillida, o qual, em certa ocasião, escutei-o dizer: «Da morte, a razão me
diz que é definitiva. Da razão, a razão me diz que é limitada».
O cristão não sabe da outra vida mais
que os outros. Também nós devemos aproximar-nos com humildade ao
acontecimento obscuro da nossa morte. Mas fazemos com uma confiança radical
na bondade do Mistério de Deus que vislumbramos em Jesus. Esse Jesus a quem,
sem o termos visto, amamos e a quem, sem o ver ainda, damos a nossa confiança.
Esta confiança não pode ser entendida
a partir de fora. Só pode ser vivida por quem respondeu, com fé simples, às
palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Acreditas nisto?».
Recentemente, Hans Küng, o
teólogo católico mais crítico do século XX, próximo já do seu fim, disse que,
para ele, morrer é «descansar no mistério da misericórdia de Deus». Assim eu
quero morrer.
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