“Então
Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e me siga. Pois,
quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa
de mim, vai encontrá-la.”(Mt 26,24)
Abaixo, uma reflexão bem concreta e atual que tem como pano de fundo o
texto bíblico Mt 16,21-27 (Palavras de Jesus: “... quem quiser
salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai
encontrá-la.”).
Já foi publicada anteriormente neste espaço (em agosto de 2014), mas
continua muito atual. É de autoria do
padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
01 setembro 2017.
Aprender a perder.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,21-27, que corresponde ao
22° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O ditado está registrado em todos os evangelhos e
se repete até seis vezes: “Se alguém quer salvar a sua vida, a perderá,
mas quem a perde a encontrará por mim”. Jesus não está falando de uma
temática religiosa. Ele está propondo aos seus discípulos qual é o verdadeiro
valor da vida.
O ditado está expresso de forma paradoxal e provocativa. Há
duas formas muito diferentes de orientar a vida: uma conduz para a salvação, a
outra para a perdição. Jesus convida todos a seguir o caminho que
parece mais duro e menos atrativo, pois conduz o ser humano à salvação
definitiva.
O primeiro caminho consiste em se aferrar à vida
vivendo exclusivamente para si mesmo: fazer do
próprio “eu” a razão última e o objetivo supremo da existência. Este modo de
viver, buscando sempre a própria ganância e vantagem, conduz o ser humano à
perdição.
O segundo caminho consiste em saber perder, vivendo
como Jesus, abertos ao objetivo final do projeto humanizador do Pai: saber
renunciar à própria segurança ou ganância, buscando não somente o próprio bem,
mas também o dos outros. Este modo generoso de viver conduz o ser humano à
sua salvação.
Jesus está falando desde sua fé num Deus Salvador,
mas suas palavras são uma forte advertência para todos: Que futuro espera uma
Humanidade dividida e fragmentada, onde os poderes econômicos buscam seu
próprio benefício; os países, seu próprio bem-estar; os indivíduos, seu próprio
interesse?
A lógica que dirige nestes momentos o caminho do
mundo é irracional. Os povos e os indivíduos estão caindo
progressivamente na escravidão de “ter sempre mais”. Tudo é pouco para dar-se
por satisfeito. Para viver bem, é necessário sempre mais produtividade, mais
consumo, mais bem-estar material, mais poder sobre os outros.
Procura-se insaciavelmente o bem-estar, mas será
que não há uma progressiva desumanização? Quer-se
“progredir” cada vez mais, mas qual é o progresso que leva a abandonar milhões
de seres humanos na miséria, na fome e na desnutrição? Por quantos anos será
possível desfrutar desse bem-estar, fechando as fronteiras aos famintos?
Se os países privilegiados só procuram “salvar” seu
nível de bem-estar, se não se quer perder o potencial econômico, jamais se
darão passos em direção a uma solidariedade a nível mundial. Mas não nos
enganemos. O mundo será cada vez mais inseguro e mais inabitável para todos e
também para nós. Para salvar a vida humana no mundo, é preciso aprender
a perder.
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