A baixo, mais uma matéria muito boa e bem atual sobre a crise econômica
do Brasil. A reportagem do Paulo Donizetti traz opiniões do economista Ladislau Dowbor que
podem ser uma boa ajuda para as pessoas que gostariam de entender melhor a
questão de juros astronômicos praticados no Brasil pelos bancos e instituições
financeiras.
Para contribuir um pouco na divulgação dessa reportagem, publico-a também
no meu blog.
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
- NOTÍCIAS
Segunda, 01 de agosto de
2016
Crédito no Brasil não é
estímulo, é extorsão, afirma Ladislau Dowbor
“Hoje a crise
civilizatória não se dá por falta de recursos. Se se dividir o PIB do planeta,
de US$ 80 trilhões, pelos 7 bilhões de habitantes do mundo, chegaríamos a uma
média mensal de R$ 9 mil reais para cada família de quatro pessoas. Ou seja, o
que se produz hoje no mundo daria para todo mundo”, destaca o economista Ladislau Dowbor.
A reportagem é de
e publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 30-07-2016.
(Ladislau Dowbor participou,
na manhã de 29 de julho, ao lado do economista Luiz Gonzaga Belluzzo,
professor da Unicamp, de debate na abertura da conferência nacional
dos bancários. O evento aconteceu na capital paulista.)
Reportagem
O mundo passa por uma
crise civilizatória e já se fala em novo Bretton Woods. A
afirmação, do economista Ladislau Dowbor, remete
ao tratado firmado um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial, na cidade norte-americana
de mesmo nome (estado de New Hampshire), por 44 países. Na ocasião, as maiores
economias do mundo estavam destroçadas pela guerra e buscavam mecanismos de
recuperação por meio de uma nova ordem monetária que regulasse as relações
comerciais entre as nações-membros. O desafio era reconstruir o bombardeado
capitalismo.
A diferença, na análise
de Dowbor, professor da PUC-SP, é que hoje o
próprio capitalismo se põe em situação de derrocada por meio da financeirização
das economias – um sistema que promove a riqueza de uma minoria.
“Hoje a crise
civilizatória não se dá por falta de recursos. Se se dividir o PIB do planeta,
de US$ 80 trilhões, pelos 7 bilhões de habitantes do mundo, chegaríamos a uma
média mensal de R$ 9 mil reais para cada família de quatro pessoas. Ou seja, o
que se produz hoje no mundo daria para todo mundo”, calcula Dowbor, citando
estudo da Oxfam, organização especializada em estudos para o
combate às desigualdades.
“Hoje há 62 bilionários
que têm mais riqueza do que 3,6 bilhões de pessoas (metade da população
global). Eles produziram tudo isso? Que nada. Eles se apropriaram através de um
conjunto de mecanismos financeiros”, afirmou.
Dowbor reforçou
a tese apresentada por Belluzzo, de que a globalização
financeira desencadeada há quatro décadas compromete o funcionamento do próprio
capitalismo e, no Brasil, tem impactos ainda mais perversos. Enquanto na maior
parte dos países de economia desenvolvida a taxa básica de juros gira em torno
do 0,5% a 1% ao ano, aqui esse índice está em 14,25%, o que inibe tanto o
investimento do setor produtivo quanto taxas de crédito civilizadas.
"Banco antigamente
fazia trabalho de identificar bons projetos produtivos. Agora, para que
arriscar? É só aplicar na taxa Selic, que rende 14,25% sem riscos de
perdas", provoca Dowbor, que observa como o arranjo afeta também o setor
produtivo empresarial. "Para que o empresário vai se matar com insegurança
econômica e investir no setor produtivo se pode aplicar na Selic?"
Segundo o economista, a
taxa básica de juros elevada acaba por encarecer o crédito na economia como um
todo. Ele compara que os juros do cartão de crédito no Brasil giram em torno
dos 471% ao ano, enquanto nos Estados Unidos esse índice é de 16%. Observa que
a cada R$ 100 que consumidor paga com cartão de crédito, 5% fica com a
operadora; se for no débito, são 2,5% que o vendedor deixa de receber. Na
França é 0,36%
“Em março de 2005, 19,3%
da renda das famílias estava comprometida com o pagamento de dívidas, e passou
para 46,5% em 2015. É um crédito que não
facilita, mas extorque”, criticou.
Nove por cento do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi destinado a pagamentos de juros pelo
governo aos bancos em 2015. “Não tem economia que possa funcionar assim.”
Dowbor criticou também o
sistema tributário, por aliviar a taxação o capital financeiro e incidir
pesadamente sobre o consumo. “O rico proporcionalmente paga muitos menos
impostos do que o pobre. Aí você fechou o caixão. E dizem que a culpa é do
governo Dilma... Quando a Dilma tentou baixar os juros a
7,25%, começou guerra. Pode-se dizer a guerra do rentismo contra os processos
produtivos.”
O professor da PUC afirmou
que a construção de uma alternativa econômica para o país passa pela regulação
do setor financeiro e citou exemplo da Polônia, que acaba de se recuperar da
crise, e onde o sistema financeiro é constituído majoritariamente por bancos
cooperativos. “Temos de promover o resgate da dimensão cidadã do bancário, do
trabalhador. É preciso discutir a função social do sistema”, defendeu.
Segundo ele, dos quatro
motores da economia – as exportações, as demandas das famílias, as demandas das
empresas e os investimentos do setor público –, os três últimos são fortemente
abatidos pela financeirização, a especulação e a política de juros.
"Estamos desviando para o capital financeiro recursos que deveriam servir
para impulsionar a economia."
Fonte:
IHU – ADITAL
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