“E o patrão disse a um deles: Amigo, eu não
fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? Tome o que é seu, e
volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o
mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que eu quero com
aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?
Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.” (Mt 20,
13-16)
Hoje, para quem estiver
interessado em entender melhor o texto bíblico Mt 20, 1-16a (a parábola dos
trabalhadores da vinha contratados pelo patrão que no fim do dia receberam o mesmo
salário independentemente do tempo trabalhado – seria isso justo ou injusto? - perguntamos), trago para o blog Indagações-Zapytania duas reflexões.
A primeira é do padre e
teólogo José Antonio Pagola, que já foi publicada neste espaço no ano 2014 e
pode ser acessada no link: Não desvirtuar a bondade de Deus.
E a outra, muito interessante, segue agaixo. É o
comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado, publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos.
Vale a pena ler e
refletir!
WCejnog
IHU – Adital
22 Setembro 2017.
Leitura do Evangelho segundo Mateus
20,1-16a. (Correspondente ao 25° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do
Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária
de Cristo Ressuscitado.
Uma justiça injusta?
No texto do Evangelho, Jesus continua
seu ensino sobre as atitudes necessárias para viver numa comunidade cristã e
ser assim seus discípulos/as. Que significa ser uma pessoa bondosa para quem
acima de tudo está o amor à pessoa? Existe realmente a possibilidade de uma
relação com as pessoas que não discrimine, que tenha um olhar além das suas
capacidades, do próprio interesse?
Lemos o texto seguindo os passos do patrão, dono de
um vinhedo. É uma vinha onde há necessidade de muitas pessoas que trabalhem.
Num primeiro momento sai de madrugada “para contratar trabalhadores
para a sua vinha”.
Com as pessoas que aceitam sua proposta ou se acham
capacitadas para levar adiante o trabalho, combina o pagamento de um salário de
uma moeda de prata por dia.
Às nove horas o patrão sai de novo para empregar
outras pessoas e assim acontece ao meio-dia, às três horas da tarde, e ainda,
pelas cinco horas da tarde. Não dispensa ninguém de trabalhar no seu vinhedo.
É significativa a expressão do patrão que “sai” à
procura de trabalhadores. Ele “está saindo” continuamente porque deseja que
todos e todas tenham a possibilidade de trabalhar. Oferece uma oportunidade
para quem deseja ser contratado.
Fazendo referência a esta parábola, comenta o
teólogo José Antonio Pagola: “Segundo esta história, o dono da vinha
foi pessoalmente para a praça da cidade assumir diversos grupos de
trabalhadores, em diferentes momentos do dia.
Surpreendentemente, embora os
trabalhadores tenham levado adiante trabalhos bastante desiguais na vinha, o
proprietário paga a todos com um denário: quantia considerada suficiente para
uma família de camponeses na Galileia viver um dia. E continua: “O patrão não
fica pensando nos méritos de um ou de outro, mas quer que todos possam jantar
naquela noite.” (Disponível em: Jesus, misericórdia encarnada de Deus. Conferência de
José Antonio Pagola)
Através dos últimos textos que lemos cada
domingo, Jesus está-nos apresentando umDeus que
não age segundo os nossos critérios. Sua Boa Notícia é surpreendente, é muito
maior do que aquilo que podemos pensar. Traz um estilo de vida inesperado e até
impensável.
O atuar de Jesus comporta uma
misericórdia sem limites. Não se adéqua à mentalidade dos que pensam que por
agir mais tempo recebem mais dinheiro. São os que têm ciúmes da bondade
de Deus.
Dos empregados que foram contratados pela manhã
cedo, os primeiros, Jesus recebe seu protesto e diante disso
sua resposta é bem precisa: "Não tenho a liberdade de fazer o que
quero com as minhas coisas? Ou você está com inveja porque sou generoso?”.
Nesta parábola Jesus apresenta um
patrão que tem um olhar sobre as pessoas não limitado por uma diferença no
salário entre os que trabalharam desde cedo e os contratados quase ao final da
tarde.
Não há injustiça na atitude do patrão, ele oferece
a cada um o que foi combinado. Manifesta uma bondade que excede nossos
critérios de justiça. Todas as pessoas contratadas recebem um denário, o
dinheiro necessário para viver, para além do tempo trabalhado.
Jesus deixa
claro que no Reino de Deus os princípios que regem são 'outros'. Há
uma justiça dirigida pela bondade, pela preocupação por cada pessoa, que todos
e todas tenham a mesma oportunidade.
Possivelmente na comunidade de Mateus, para os
judeus que ao longo de sua vida foram fiéis cumpridores das normas prescritas
pela Lei, supostamente consideravam que tinham mais mérito que os pagãos. Estes
“últimos” não podiam receber os mesmos “benefícios”.
Nesta narrativa, Jesus manifesta uma justiça que
não é a justiça que responde a uma equidade da retribuição recebida com o
trabalho realizado. Está muito acima disto. Revela um amor além do mérito de
cada um e cada uma. Sua salvação é gratuita, mas acima de toda capacidade,
aptidão, competência realizada.
Como disse o profeta Isaías: “Os meus
projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus
caminhos” (Is 55, 8).
Esta leitura também nos convida a olhar as pessoas
com o coração semelhante a Jesus, sem distinção, sem considerar uns
superiores aos outros. Para cada pessoa há um lugar especial no sentir
de Deus. Seu olhar é sem diferenças, seja pela sua religião, cultura, trabalho
ou até “caridade”. Ele conhece cada pessoa e os méritos tantas vezes não
manifestos. Seus critérios não são os nossos!
Hoje peçamos especialmente por todas aquelas
pessoas que procuram trabalho, mas só encontram rejeição por parte dos “donos”
do poder, e das empresas, seja pela sua origem, seus costumes, a cor de sua
pele, suas aparências que provocam desaprovação e desprezo neles! Atitudes que
só servem para acrescentar “Os muros do ódio”.
Como expressa o Papa Francisco, sejamos
construtores do rosto da misericórdia, da proximidade, do acompanhamento, da
ternura, do encontro, do abatimento de todas as cercas, esquemas e
preconceitos. E agrega: “Jesus se comovia diante dos dramas das pessoas, não
ficava indiferente. O Deus cristão tem o rosto de Jesus, que
se comove ‘até as entranhas’ por nós.” (Disponível em: "O nome de Deus é Misericórdia", o novo
livro-entrevista com o Papa Francisco).
Que o Senhor nos conceda o
discernimento para não nos deixarmos enganar pelos “caminhos que parecem retos,
mas acabam levando para a morte” (Prov 16,25).
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