“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor,
até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” (Mt 18,21-22)
Abaixo, uma boa reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de
fundo o texto bíblico Mt 18, 21-35 (Perdoar
é necessário – parábola do servo impiedoso).
O texto foi escrito pelo padre e teólogo
espanhol José Antonio Pagola. Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e meditar!
WCejnóg
IHU-ADITAL
15 setembro 2017.
Viver perdoando
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 18,21-35 que
corresponde ao 24° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol Josè Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Os discípulos ouviram Jesus dizer
coisas incríveis sobre o amor aos inimigos, a oração ao Pai pelos
que os perseguem, o perdão a quem lhes faz mal. Seguramente parece-lhes uma
mensagem extraordinária, mas pouco realista e muito problemática.
Pedro aproxima-se agora de Jesus com uma
abordagem mais prática e concreta que lhes permita, ao menos, resolver os
problemas que surgem entre eles: desconfianças, invejas, confrontos e
conflitos. Como deve atuar naquela família de seguidores que caminham atrás de
seus passos? Em concreto: “Quantas vezes devo perdoar ao meu irmão quando me ofenda?”.
Antes que Jesus lhe responda, o
impetuoso Pedro adianta-se para fazer a sua própria sugestão: “Até
sete vezes?”. A sua proposta é de uma generosidade muito superior ao ambiente
justiceiro que se respira na sociedade judaica. Vai mais longe inclusive do que
se pratica entre os rabinos e os grupos essênios, que falam como máximo de
perdoar até quatro vezes.
No entanto, Pedro continua a
mover-se no plano da casuística judaica, onde se prescreve o perdão como
arranjo amistoso e regulamentado para garantir o funcionamento ordenado da
convivência entre quem pertence ao mesmo grupo.
A resposta de Jesus exige colocar-nos
noutro registro. No perdão não há limites: “Não te digo até sete
vezes, mas até setenta vezes sete”. Não tem sentido manter uma contabilidade do
perdão. O que se põe a contar quantas vezes está a perdoar ao irmão entra por
um caminho absurdo que arruína o espírito que tem de reinar entre os seus
seguidores.
Entre os judeus era conhecido o
“Canto da vingança” de Lámec, um lendário herói do deserto, que dizia assim:
“Caim será vingado sete vezes, mas Lámec será vingado setenta vezes sete”. Perante
esta cultura da vingança sem limites, Jesus propõe o perdão sem limites entre
os seus seguidores.
As diferentes posições ante o
Concílio foram provocando no interior da Igreja conflitos e confrontos por
vezes muito dolorosos. A falta de respeito mútuo, os insultos e as calúnias são
frequentes. Sem que ninguém os desautorize, setores que se dizem
cristãos servem-se da Internet para semear agressividade e ódio, destruindo sem
piedade o nome e a trajetória de outros crentes.
Necessitamos urgentemente de
testemunhas de Jesus que anunciem com palavra firme o seu Evangelho e que contagiem
com coração humilde a sua paz. Crentes que vivam perdoando e curando
esta obsessão doentia que entrou na sua Igreja.
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