Hoje
trago aqui, para o blog Indagações-Zapytania, um texto muito oportuno e atual.
Fala sobre a situação do Rio de Janeiro. É de autoria do professor e escritor Francisco
Costa¹.
É muito
importante saber o que realmente está ocorrendo no Brasil, principalmente no
Rio de Janeiro, onde foi decretada pelo governo federal a Intervenção militar. Gostei
muito do texto e acho que ele diz a verdade. Somos bombardeados, e por todos os
lados, pela mídia oficial com as notícias e comentários tendenciosos, que muitas
vezes confundem as pessoas, destilando uma falsa visão dos fatos.
O texto
foi publicado recentemente pelo autor no Facebook.
Não deixe
de ler!
WCejnóg
A MINHA
HUMILDE COLABORAÇÃO AO GENERAL BRAGA NETTO, INTERVENTOR MILITAR NO RIO DE
JANEIRO.
(Não é
uma tese, mas quase é)
Francisco
Costa
Rio, 23/02/2018.
Sr. General
Como é do seu conhecimento, não existe geração
espontânea, nada nasce do nada, com tudo sendo resultado de uma lenta e
gradativa evolução, inclusive a criminalidade.
A situação fluminense, particularmente a carioca,
nasceu do arbítrio na ditadura militar e cresceu com a alternância entre a
omissão e a cumplicidade, nos diversos governos estaduais e municipais, além
dos componentes históricos e geográficos da região.
Durante quatro séculos e meio esta cidade foi a
sede dos interesses políticos e econômicos da classe dominante, primeiro como
sede da colônia portuguesa, depois sede do império português e, finalmente,
sede da república, sendo que durante praticamente por quatro séculos, em regime
de escravidão de negros e índios, o que fez aqui conviverem os extremos dos
estratos sociais: de um lado a elite político econômica e, do outro, os escravos
e seus descendentes, com a luta de classes buscando apoio financeiro, para
sustentação, no ilícito, degenerando para a criminalidade depois, quando a
classe dominante viu a potencialidade econômica do narcotráfico. Além desses
antecedentes históricos, há a geografia da cidade.
Nossa cidade fica na Serra do Mar, relevo que se
continua submerso no oceano, com alguns bairros reduzidos a umas poucas
centenas de metros entre a linha das marés e os morros, com a elite morando nos
baixios e a pobreza e a miséria nos morros, coabitando nos mesmos bairros.
Melhor explicando: enquanto em outras cidades os
bairros proletários estão afastados dos chamados bairros nobres, burgueses,
aqui as mansões e barracos, choupanas e palácios são vizinhos, não raro estando
nas mesmas ruas, o que aguça a luta de classes.
Num quadro assim a conjuntura social só poderia ser
de instabilidade, com a polícia perdendo o caráter de polícia para ganhar o de
força de segurança da elite, mais aguçando o ódio de classe, fazendo a população
pobre optar pelos chamados bandidos, dando-lhes guarida nos morros.
Com uma classe política podre, formada pelos
defensores dos interesses da classe dominante e dos que, oriundos da pobreza,
fizeram da política uma alavanca de ascensão social e econômica, pessoais, aqui
sempre imperaram o oportunismo, a demagogia, o populismo, o carreirismo
político e a corrupção.
Um bom exemplo do que afirmo temos no Senhor
Moreira Franco.
De origem humilde, pobre, veio, com a família,
ainda menino, do Piauí.
Casou-se primeiro com a filha de Amaral Peixoto e
neta de Getúlio Vargas, depois com a filha de Vasconcelos Torres, um influente
político fluminense, o que facilitou a sua ascensão política.
Líder estudantil, projetou-se na política,
tornando-se deputado por três mandatos, depois prefeito de Niterói, e,
finalmente, governador do Estado do Rio de Janeiro.
Elegeu-se governador do Estado prometendo acabar
com a violência em seis meses, mas, ao invés de atacá-la nas origens, firmou um
“pacto de não agressão”, recebendo bandidos do Comando Vermelho em seu
gabinete, para acordos de divisão de áreas de influência no Estado.
Nunca é demais lembrar que o seqüestrador do
empresário Roberto Medina era mais que amigo particular de Moreira Franco, era
o seu personal trainner, segurança pessoal de Moreira e membro do Comando
Vermelho.
Onde houve corrupção Moreira estava: na Cedae, na
Caixa Econômica, nas loterias da Caixa, na administração do FGTS... Seu nome
está na lista da Odebrecht.
Por indicação de Temer, Dilma o nomeou Ministro da
Aviação. Ao demiti-lo, sem meias palavras, dura e franca, Dilma justificou:
“ele rouba”.
Pois é este homem o mentor da intervenção militar
no Rio de Janeiro. Como deixar de acreditar que não é mais uma jogada, agora
para desviar o foco das investigações sobre, rigorosamente, todos os membros do
governo federal?
Finalmente, Moreira Franco foi o adversário
político de Leonel Brizola na famosa eleição do escândalo da Proconsult,
liderado pela Globo.
Ao contrário do que pensam, o apelido de Angorá,
dado por Brizola a Moreira, não é por causa da sua vasta e grisalha cabeleira,
mas pela docilidade dessa raça de gatos, que aceita qualquer colo e qualquer
afago. Moreira esteve ao lado de todos os governos, desde a ditadura militar,
quando jogou dos dois lados.
Como acreditar, General?
A ciência nos mostra que só neutralizando as causas
impede-se os efeitos.
Para secar um rio é necessário secar ou desviar o
curso das nascentes, ao contrário de represar a foz, o que só aumentaria o
volume do seu leito, inundando tudo.
Atacar o varejo do narcotráfico é represar a foz.
O ataque ao narcotráfico, à criminalidade, à
violência deve se dar no seus nascedouros, e para isso é necessário o ataque em
duas frentes: na fonte de fornecimento da “mercadoria” e na fonte da insatisfação
social.
Não temos plantações de maconha e coca no Rio de
Janeiro, não temos grandes refinarias de drogas nem fábricas de armas, vindo
tudo do exterior, de outros estados e outros países.
O ataque ao narcotráfico deveria se dar em nível
nacional e de forma constitucional, começando pela identificação dos envolvidos
no atacado, sejam produtores, importadores ou transportadores, prendendo-os.
A seguir, com a identificação e prisão dos que se
associaram ao narcotráfico, movimentando dinheiro, lavando dinheiro, fazendo
tráfico de influência ou agindo nas instituições públicas, fazendo vistas
grossas a esta economia paralela: empresários, entidades financeiras, fiscais e
auditores da Receita Federal e, principalmente, policiais corruptos.
Dificultada a operação criminosa interna, passem
para as fronteiras, localizando e destruindo portos fluviais clandestinos e
aeroportos, também clandestinos, em fazendas próximas das fronteiras, desde que
provado que de uso do narcotráfico e não de serviços outros.
Cheguem aos portos e aeroportos internacionais, com
atenção especial aos das cidades do Rio e São Paulo, escoadouros das duas
principais organizações criminosas brasileiras, para a Europa e Oriente.
Desmontado, ou pelo menos prejudicado em muito, o fornecimento para
o varejo, logo virão as fragmentações das organizações criminosas, que perderão
poder, dinheiro e prestígio.
Parte dos trabalhadores (sim, trabalhadores, ainda
que em atividade ilícita) buscarão colocação no mercado de trabalho formal, na
licitude, abandonando o crime, e parte, por má índole e condicionamento,
buscará novas modalidades de crimes: furtos, roubos, assaltos, seqüestros...
Tornando-se presas mais fáceis para a polícia, que deverá prendê-los.
Esta seria a parte operacional, isenta, equânime, honesta,
não discriminatória, prendendo o chamado “xerife” do Porto de Santos, e que
sabemos quem é (segundo as polícias do mundo todo, o Porto de Santos é o
segundo, do planeta, em movimento de drogas).
Prendendo construtores de aeroportos em terras da família, fora da
rota dos voos comerciais, mas na rota do narcotráfico. Helicóptero
transportando quase meia tonelada de pasta de cocaína. Jatinho executivo
transportando quase seiscentos e cinquenta quilos de cocaína, com investigações
paradas e/ou arquivadas porque dos poderosos políticos que deflagraram a
intervenção militar no Rio de Janeiro.
Este é o passo primeiro para diminuir a violência:
neutralizar os mentores da violência, e que não estão nos morros nem nos
bairros proletários.
Isto, com investigações, pensadamente, coletando provas
insofismáveis, de maneira a dificultar as manobras jurídicas e não como uma
guerra, a palavra mais usada pelas autoridades da segurança pública, e mais
recentemente, pelo próprio presidente da república.
Se a polícia se acha em guerra com os bandidos e as
forças armadas pensam a mesma coisa, que não lastimem os seus mortos, guerras
pressupõem baixas dos dois lados.
A questão é técnica e política e não simplesmente
bélica.
A outra questão diz respeito à justiça social, o
que discutirei no próximo artigo.
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¹ Francisco Costa - Professor, Coordenador, Diretor, Escritor · Rio
de Janeiro
Lecionando
Ciências (Fundamental), Química e Biologia (Médio e Superior)
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