“Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome
e quem crê em mim nunca mais terá sede”. (Jo 6,35)
A
reflexão
que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol
José Antônio Pagola, é muito atual e bem concreta. Tem como pano de fundo o texto
bíblico Jo
6, 24-35 (O pão da vida é Jesus).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Muito
boa. Vale a pena ler.
WCejnóg
IHU – ADITAL
03 Agosto 2018
Pão de vida eterna
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo João 6,24-35 que corresponde ao 18°
Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Por que continuar a interessar-nos por Jesus depois
de vinte séculos? Que podemos esperar Dele? Que nos pode
contribuir aos homens e mulheres do nosso tempo? Irá, acaso, resolver os
problemas do mundo atual? O evangelho de João fala de um diálogo de grande
interesse que Jesus mantém com uma multidão na margem do lago Galileu.
No dia anterior partilharam com Jesus uma refeição
surpreendente e gratuita. Comeram pão até saciarem-se. Como o vão deixar
partir? O que procuram é que Jesus repita o seu gesto e os volte a
alimentar gratuitamente. Não pensam em outra coisa.
Jesus desconcerta-os com uma abordagem inesperada:
«Esforçai-vos não para conseguir o alimento transitório, mas o permanente, o
que dá a vida eterna». Mas como não nos preocuparmos pelo pão de cada dia? O
pão é indispensável para viver. Necessitamos e devemos trabalhar para que nunca
falte a ninguém. Jesus o sabe. O pão é o primeiro. Sem comer não podemos
subsistir. Por isso se preocupa tanto com os famintos e mendigos, que
não recebem dos ricos nem as migalhas que caem da sua mesa. Por isso amaldiçoa
os latifundiários insensatos que armazenam o grão sem pensar nos pobres. Por
isso ensina os seus seguidores a pedir cada dia ao Pai pão para todos os seus
filhos.
Mas Jesus quer despertar neles uma fome diferente. Fala-lhes de um pão que não sacia só a fome de um dia, mas a fome
e a sede de vida que há no ser humano. Não temos de esquecê-lo. Em nós há uma
fome de justiça para todos, uma fome de liberdade, de paz, de verdade. Jesus
apresenta-se como esse Pão que nos vem do Pai não para nos enchermos de comida,
mas «para dar vida ao mundo».
Este Pão, vindo de Deus, «dá a vida eterna». Os
alimentos que comemos cada dia nos mantêm vivos durante anos, mas chega um
momento em que não podem defender-nos da morte. É inútil que sigamos
comendo. Não nos podem dar vida para além da morte.
Jesus apresenta-se como «Pão de vida eterna». Cada
um deve decidir como quer viver e como quer morrer. Mas nós, que nos chamamos
seguidores Seus, temos de saber que acreditar em Cristo é alimentar em nós uma
força imperecível, começar a viver algo que não acabará com a nossa morte.
Simplesmente, seguir Jesus é entrar no mistério da morte, sustentados
pela Sua força ressuscitadora.
Ao escutar suas palavras, aquelas pessoas de
Cafarnaum gritavam-lhe desde o fundo do seu coração: «Senhor, dai-nos
sempre desse pão». Desde a nossa fé vacilante, por vezes não nos atrevemos
a pedir algo semelhante. Talvez só nos preocupe a comida de cada dia. E, às
vezes, só a nossa.
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