As palavras do papa Bento XVI dirigidas
aos cardinais, bispos, padres e às demais pessoas da Cúria Romana antes do
Natal de 2012, entre outras coisas, tocaram
direto no assunto da família humana. O discurso foi claro e de caráter realmente profético ao enfrentar as filosofias e pressões que nos dias de hoje
tentam cada vez mais “minar” o papel e a
importância da família natural na sociedade, insinuando que “deixou de ser
válido” o projeto de Deus e que vale tudo para o homem contestar também tudo,
até a própria natureza.
Considero importantes essas colocações
do papa Bento XVI, e entendo que justamente os discursos deste tipo, isto
é, abertos, corajosos e determinados, a Igreja precisa retomar com muito mais
veemência frente às forças contrárias ao
Projeto de Deus e à mensagem libertadora de Jesus Cristo (e não apenas “escrever”, “registrar” ou “preservá-las”
dentro das encíclicas enfileiradas nas
estantes ou guardadas nas “gavetas”).
A Igreja Católica, neste mundo, se
quiser realmente ser o instrumento de
Deus na vida e na história da humanidade – e a sua verdadeira missão, de fato,
deveria ser esta - não pode aliar-se aos “poderosos”, e nem agradar os “donos deste mundo” para não os
“incomodar” e assim preservar os seus privilégios, influências e poder...! A Igreja de Jesus, para ser de fato profética
e autêntica anunciadora da Boa Nova, isto é, do Evangelho de Jesus de Nazaré,
precisa voltar a ser “una, santa e pobre”, como dizia dom Pedro Casaldáliga.
Qualquer outro caminho será ilusão e engano, e a Igreja, certamente, sabe disso.
Pelos motivos apontados acima, trago agora
uma parte desse discurso do papa Bento XVI, para o blog Indagações. Vamos conferir?!
WCejnóg
DISCURSO DO PAPA BENTO XVI À CÚRIA
ROMANA NA APRESENTAÇÃO DE VOTOS NATALÍCIOS (Fragmentos)
Sala
Clementina - Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012
Senhores Cardeais, Venerados Irmãos no
Episcopado e no Presbiterado, Queridos irmãos e irmãs!
Com grande alegria, me encontro
hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria
Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. ...
(...)
Num tratado cuidadosamente documentado
e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou
que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho),
ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma
dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da
família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se
claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente
ser homem.
Ele cita o célebre aforismo de Simone
de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher – On ne naît pas
femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo
que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova
filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado
originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de
significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto
até agora era a sociedade quem a decidia.
Salta aos olhos a profunda falsidade
desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem
contesta o fato de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade,
que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta
não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De
acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura
humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é
essencial para o ser humano, como Deus o fez.
É precisamente esta dualidade como
ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na
narração da criação: «Ele os criou homem
e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que
não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a
determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre
isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana,
já não existem.
O homem contesta a sua própria
natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje
deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do
homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstrato, que em
seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem
e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas
da pessoa humana que se completam mutuamente.
Se, porém, não há a dualidade de homem
e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como
realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole
perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é
própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito
próprio, passe agora necessariamente a objeto, ao qual se tem direito e que,
como objetivo de um direito, se pode adquirir.
Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo,
chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, conseqüentemente, o
próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na
essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E
torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do
homem. Quem defende Deus, defende o homem.
(...)
«Vinde e vereis». Esta palavra dirigida
aos dois discípulos à procura, Jesus dirige-a também às pessoas de hoje que
estão em busca. No final do ano, queremos pedir ao Senhor para que a
Igreja, não obstante as próprias pobrezas, se torne cada vez mais reconhecível
como sua morada. Pedimos-lhe para que, no caminho rumo à sua casa, nos torne,
também a nós, sempre mais videntes a fim de podermos afirmar sempre melhor e de
modo cada mais convincente: encontramos Aquele que todo o mundo espera, ou
seja, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro homem. Neste
espírito, desejo de coração a todos vós um santo Natal e um feliz Ano Novo.
Obrigado!
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